Biografias Henrique Pousão
Nome: Henrique César de Araújo Pousão
Local e ano do nascimento: Vila Viçosa, Portugal, 1859
Local e ano do falecimento: Vila Viçosa, Portugal, 1884
Este pequeno texto tem como objetivo dar a conhecer a vida e a obra de Henrique César de Araújo Pousão . Este talento original da arte portuguesa nasceu em Vila Viçosa em 1859 e viria a falecer, no mesmo lugar, em 1884, vítima de uma tuberculose. Contudo, em vinte e cinco anos de vida, conseguiu ser um caso à parte na arte portuguesa.
Filho do Dr. Francisco Augusto Nunes Pousão e de D. Maria Teresa Alves de Araújo, viveu na terra natal até aos quatro anos de idade, indo depois para Elvas. Foi aí que, entre 1865 e 1868, freqüentou a escola primária. Em 1872 foi com o pai para Barcelos e depois Guimarães. Aos 13 anos, o Dr. Francisco levou-o para o Porto e matriculou-o na Academia Portuense de Belas Artes. Tomando conselhos com os mestres de então, foi evoluindo e publicou desenhos nas revistas daquela época. Na Academia estudou: desenho histórico, arquitetura civil, escultura, anatomia e perspectiva linear. Curso completo, foi para Odemira, devido à deslocação profissional do pai, onde pintou muitas tabuazinhas que ficaram com amigos e familiares. O ano de 1880 trouxe-o ao Porto para iniciar a sua preparação para o concurso de pensionista do estado. De fato, a Academia de Lisboa escolheu Henrique Pousão, em detrimento de António Ramalho, partindo o primeiro para Paris no final do ano.
Na capital francesa, o entusiasmo característico de Pousão manteve-se, prejudicado somente pela debilidade da sua saúde (afetada gravemente por um resfriado apanhado num frio dia de inverno parisiense).
Durante a sua estada no Maciço Central (vasto conjunto de terras altas do Centro e Sul de França) suas composições evidenciam planos bem definidos e perspectivados, de colorido quente e empastamentos largos e justapostos.
No Sul de França, Pousão deu início à pintura de costumes marcada pela geometrização, pela linha curva ou ondulada, pelo volume, acrescidos de grande romantismo e luminosidade atmosférica.
Voltando a Paris, aí permanece por dois meses, indo depois para Roma. Na sua obra ligada a esta cidade coexistem numerosos estudos sobre o ambiente romano, com obras de maior fôlego (Cecília, Esperando o Sucesso, Napolitana, Senhora de Preto).
Em alguns trabalhos revela uma exploração mais ousada da cor do que aquela presente nas obras realizadas no Sul de França. Em Portão (1882) ou Fachada do Prédio Soterrado (1882), Henrique Pousão chegou a executar peças de especial luminosidade. Paralelamente, nalguns retratos deste período, uma combinação da linha, do modulado e da luz, surge, num equilíbrio perfeito, um naturalismo-classicismo e a modernidade iluminista.
Foi no verão em Capri que Pousão executou um sem-número de pequenos quadros de ruas, caminhos, vielas, escadas, casarios, pátios e muros. A interpretação da paisagem é feita de forma realista, onde as formas se diluem, aparecendo a linha como elemento definidor de planos e ritmos.
Na pintura paisagística exprime nos seus trabalhos um forte cromatismo manchista e anuncia novas preocupações picturais.
Decorre deste balanço um problema crítico no que diz respeito ao posicionamento do artista na pintura. Segundo José-Augusto França:
Nem impressão móbil, dum impressionismo primário, nem pesquisa de luz em si própria, provocadora de formas, na definição estética do esquema impressionista, se vê nestas obras de Pousão. Nelas, observamos um fenômeno extremamente interessante, e em certa medida inédito, na pintura ocidental de então, e que de certa forma se poderá designar por uma marcação mútua da forma e da luz (FRANÇA, v.2, 1966, p.41–42).
O artista que é objeto do nosso estudo “foi um moderno, que se envolveu com o naturalismo da época, que “sentiu” o impressionismo, que saltou para um manchismo pré-abstracionista na fatura pictural. Tão moderno foi que, durante anos, esteve quase no esquecimento, salvo de espíritos lúcidos de ocasião, sendo, contudo, inevitavelmente redescoberto quando a capacidade crítica foi capaz de o entender” (MATIAS, v.2, 1985, p.78). De fato, liberto das academias e dos mestres, banhado pela luz mediterrânica, conseguiu ir mais longe do que qualquer pintor português da sua geração.
A pequena obra que restou (esta data-se do Verão de 82 à Primavera de 84) mostra-nos um jovem pintor individualista, que a morte ceifou, arrancando ao público, o do passado e o do presente, a possibilidade de seguir os desenvolvimentos posteriores.