Viajar pelo Sri Lanka é muito, muito fácil. Veja como traçar sua rota

Esses lugares exóticos demais intimidam pelos nomes estranhos, a distância e o excesso de coisas desconhecidas de uma só vez. Mas a verdade é que viajar por vários países asiáticos é muito mais fácil do que pode parecer.

Mesmo assim, viajar pro Sri Lanka devia ser proibido sem duas coisas: a primeira é um guia impresso, mesmo pra quem não é muito fã de planejamento de viagem, porque tem muita coisa boa por ali que fica escondida; a segunda é acreditar que tudo que o guia te diz vai dar certo.

O Sri lanka é imprevisível e o charme do país está não só que eles criaram, mas também no que transformaram. Tempo, por exemplo, é uma dimensão não muito explorada. A vida cotidiana dos sinhalas é resolvida com soluções simples, como eu descobri quando negociava com os donos de tuk-tuk que ficam caçando passageiros na saída do aeroporto:

“- Vai dar tempo de chegar à estação de trem a tal hora?”
“- Vai, claro. Mas se não der, você pega o próximo.”
“- Quando é o próximo?”
“- Amanhã.”

Otimismo e paciência. É bom quando, já de cara, o choque vem. Foi mais fácil me adaptar sabendo que eu teria que tirar, além dos sapatos (obrigatório em todos os lugares sagrados de budistas e
hindus), a máscara, pra deixar as convenções ocidentais de lado e entrar no clima do jogo.

Vale viagem exclusiva?
Sim. Não se deixe enganar pelo tamanho da ilha, pensando que é possível ir aqui e ali. Um roteiro pelo Sri lanka, mesmo que compactado ao extremo, precisa de ao menos 10 dias. Isso é o mínimo para sentir o gostinho de ter estado lá. Dá pra combinar, também, com Índia ou Maldivas, mas até 15 ou 20 dias de viagem exclusiva são preenchidos facilmente e sem tédio.

Depois, o transporte público é ruim e quase impossível de ser encaixado numa rota apertada, pois os horários são constantemente alterados. Se não houver alternativa, a solução é um motorista particular – o hotel saberá te indicar alguns e é possível barganhar o preço. Pra baratear um pouco, mas com menos conforto, pegue um tuk-tuk na rua por um terço do preço.

Um bom tempo da sua viagem ao Sri lanka é gasto para se transportar. Locomover-se por terra faz parte da empreitada e põe pra fora seu Indiana Jones interior. Felizmente, isso está longe de ser chato – se o espírito de aventura nos move em busca de ruínas perdidas, é no trajeto pelas estradas do país que está o retrato do Sri Lanka de hoje. Ao parar numa barraca de frutas de beira de estrada, notamos que não havia ninguém tomando conta. Depois de algumas palmas, o dono apareceu de cabelo molhado e enrolado e enrolado na toalha: – “Estava no banho!”. Sem cerimônia, estendeu a mão encharcada pra nos cumprimentar.

Localize-se
A europeizada está no trilho pra começar a invasão. Eu chutaria um ou dois anos no maximo – pela indicacao da Lonely Planet como melhor país a ser visitado em 2013, pela poximidade com as Maldivas e pela estrutura de auto-estradas que está sendo montada.

A forma mais fácil de chegar é via Oriente Médio. o Brasil está conectado a Dubai, Doha e brevemente a Abu Dhabi com vôos diretos. De todos estes destinos, há vôos para Colombo, a capital e maior cidade do Sri lanka.

Como traçar sua rota
Tudo no Sri Lanka é mais longe que a quilometragem mostra e mais perto que as muitas horas de estrada sugerem. Escolha um pouco de cada tema ou pririze o que você gosta mais – praias, ruínas antigas, montanhas, safari, templos, trekking, etc. No post “Sri Lanka: para encontrar o que você vai procurar“, há sugestões do que fazer e onde ir.

Por mais que você escolha várias, a sensação de que faltou algo vai bater no meio do planejamento. 1 – ela é substituida pela satisfação de ter vivido a experiência após a viagem; 2 – ela é verdadeira e sim, pode-se gastar um mês no Sri Lanka e ainda vai faltar coisa pra ver.

Em uma semana, 10 dias ou um mês no pais, você provalvemente vai ver mais que qualquer habitante, mas não esnobe o conhecimento dos locais, sempre dispostos a ajudar.

Pelas estradas, se vê de tudo: selva fechada em algumas partes que até parece que anoiteceu, grupos de monges, alguns lagos completamente secos enquanto outros transbordam, tuktuks, elefantes, macacos, iguanas de mais de um metro, tratores de 50 anos atrás… tudo, menos carro. Todos na mesma faixa também, até porque não há outra. Ultrapassagem? Contramão, é lógico. O melhor mesmo é fechar o olho e só escutar o barulho do ônibus que vem na outra direção passando como se viesse por dentro do carro – ou seja lá qual outro veículo – você estiver. A aventura é tão impagável que já não dá pra saber se estava feliz ou triste quando via um canteiro de obra de manutenção das estradas.
Saindo de Kandy, a cidade mais central do Sri lanka, em direção ao sul, estão os trechos mais bonitos, com plantações de chá cheias fazendo desenhos nas montanhas. Principalmente até Nuwara Ellya, a cerca de duas horas. É a mais perigosa também com penhascos altíssimos e proteção zero. Aquelas estradas que parecem de desenho animado, contornando as colinas. Nem pense em viajar a noite. É extremamente arriscado e se perde o melhor do trajeto, que são as vistas.

A forma mais eficiente de transporte no Sri lanka para otimizar seu tempo é contratar um motorista, esteja ele equipado com um tuk tuk ou uma van – claro que o tamanho do veículo influencia no preço. É fácil encontrá-los na rua e todos estão dispostos a fazer negócio. Há quem considere contratar o mesmo motorista para toda a viagem para baratear o custo, mas é complicado colocar uma pessoa a mais na sua viagem sem saber sequer se vocês vão se dar bem.

Há ônibus frequentes para quase todos os destinos mais procurados. Geralmente, são superlotados e abafados. Mas o preço é proporcional – de Kandy a Anuradhapura, por exemplo, percorre-se os cerca de 130km por não mais que R$5,00.

Onde ficar
É aventura sim, mas tem muito conforto pra ser aproveitado. Não hesite em deixar o hotel mais barato de lado e pegar um mais bacana. É bom, barato e principalmente, grande parte da sua experiência por lá. O serviço e a hospiatlidade fantásticos misturados a catástrofes de decoração e manutenção vão te pegar de surpresa e arrancar risadas. Fora que é uma delícia ter um bom descanso depois de um dia que só o calor, por si só, já é suficiente pra te levar a exaustão.

Não deixe, também de experimentar a comida dos hotéis e pousadas. Quase toda acomodação tem seu respectivo restaurante, que é aberto mesmo para quem não está hospedado. Além disso, a comida servida em buffets é mais fácil para experimentar, porque dá pra ver o que você vai comer antes.

Viajar de trem
Pelo menos uma viagem de trem no Sri lanka é obrigatória: de Colombo a Kandy ou vice-versa. Colombo é a cidade por onde você e entra e sai do país e Kandy é a capital cultural. 95% de chance de você acabar passando pelas duas, então oportunidade não falta.

O trem Colombo – Kandy é uma jornada de cerca de três horas e é, sem dúvida, uma das melhores partes da viagem. Os vagões que parecem querem descarrilar a todo momento são velhos e barulhentos e o ventilador no teto é só enfeite – o calor úmido te pega de qualquer maneira. Lá fora, as cenas começam com as casas paupérrimas construídas a centímetros da linha do trem. A medida que Colombo vai ficando pra trás, as plantações de arroz e as montanhas mais verdes vão surgindo.

Quando a noite cai, as atenções voltam-se mais para o que acontece dentro do trem. Metade das luzes é fraca, a outra metade não funciona. Comerciantes saltam para dentro e fora da embarcação a todo instante, independente da velocidade, da proximidade das estações e muito menos do tamanho das cestas gigantes que carregam na cabeça.

Os horários, ao contrário dos ônibus, são respeitados. Neste site (em inglês) há a tabela para esta e outras linhas de trem no Sri Lanka, explicando a diferença entre vagões e classes. Pense duas vezes antes de fazer economia a todo custo: primeira classe por R$ 18,00 não é todo dia (dá pra reservar com antencedência pelo site do Rajadhani Express). Se estiver lotada, a segunda custa R$3,00 e ainda te dá o direto de sentar. Terceira classe é apertada e concorrida – como que por mágica, as portas do trem mal abriram e já tem gente ocupando todos os assentos. Se levantar o pé, não põe mais no chão.

Segurança
O Sri lanka é mais seguro que várias capitais européiais. Os índices de criminalidade são baixíssimos, especialmente os que envolvem intimidação ou abuso. No entanto, é sempre bom não emburrecer achando que nada pode acontecer. Um seguro de viagem também não vai nada mal, considerando que hospitais e centros médicos estão em situação calamitosa.

Vistos
Até pouco tempo atrás, os vistos eram emitidos na chegada. Agora, há a necessidade de fazer o requerimento online por este site (http://www.eta.gov.lk/slvisa/) e pagar a taxa de US$25,00 com cartão de crédito. O visto chega no seu email quase instantaneamente. Ele deve ser impresso e mostrado ao agente de imigração no aeroporto.

O Sri Lanka, antes, durante e depois da viagem, te desperta gratidão pela chance de poder ter conhecido mais sobre este país e este povo. Povo que merecia mais, tamanha sua qualidade. Agora que as rotas do turismo estão achando o Sri Lanka no mapa, o país tem tudo pra achar também o seu caminho.

O guia, aquele que você tem que levar quando for, serve pra ser guardado depois, quando estiver completamente destruído pela umidade e sujo pelas mãos que quase não vêem talheres durante seu tempo lá. Viagem pra ser guardada com memória de elefante.

Sri Lanka: a Índia nível fácil

O Sri lanka é tão desconhecido por essas bandas do ocidente que, antes de qualquer coisa, a melhor pista que se pode dar é que é um país. É minúsculo, muito menor e menos comentado que a nação que mais o influenciou ao longo de sua história, a Índia. Mas não faz e nunca fez parte dela.

Pela influência de culturas e invasões indianas, o estereótipo físico é o mesmo. É muito menos intimidador e o povo é mais dócil. Não tem fronteiras, pois é uma ilha. Não tem sistema de castas, que foi abolido assim que a constituição foi alterada junto com o nome do país, que chamou-se
Ceilão até 1972.

A Índia é destino turístico robusto e consolidado; o Sri Lanka, alternativo.

É mais inocente, também. A maioria dos sorrisos ainda são honestos, como todas as outras reações que os sinhaleses têm ao ver um visitante – pode ser uma bala oferecida ou só uma cara de espanto, mas ninguém te ignora.

O turismo que cresce a cada dia vai mudando este panorama lentamente. Taxistas e motoristas de tuk-tuk já começam a extrapolar em cima de desavisados cobrando 10 vezes mais que o fariam para um local. Porém, o turismo é a indústria que pode tirar este povo, que tem tanto pra mostrar e em todos os cantos do país, da miséria – uma corrida num tuk-tuk, mesmo superfaturada, não sai por mais de 300 rúpias, equivalente a 5 reais.

Só pra lembrar: tuk-tuk é aquele triciclo que qualquer criança de 10 anos gostaria de ter. Pequeno, colorido, barulhento, fácil de guiar e cheio de improvisos e penduricalhos adornando do chão até o teto – adesivos do buda, medalhas, pintura brilhante e antena com bandeirinha. Por lá, é muito mais comum e popular que qualquer carro. Já começaram a aprecer até os primeiros tunados.

É divertido e barato andar neles. E os motoristas quase sempre tem algo interessante para contar e indicar. As viagens de até 3 ou 4 horas – muito comuns, devido ao estado precário das estradas – podem ser feitas num desses sem problema. E se parecer muita aventura, espere até pegar o primeiro ônibus sem ar condicionado e janelas fechadas, por conta das chuvas de monções que caem todos os dias, mesmo que só por alguns minutos.
Ver e estar no Sri lanka é uma renovação de conceitos constante. Se eu disser que logo na primeira longa viagem de estrada, saindo da capital Colombo, precisamos parar num restaurante de estrada (a natureza chama), qual é a imagem que vem a cabeça? Porque quando digo restaurante, me refiro a um puxadinho mais que simples, com espaço para três mesas e olhe lá. E estrada significa uma rua semi-asfaltada e tão estreita que, se não fosse pela pintura da faixa amarela, não dava pra adivinhar que é dupla mão.

Do outro lado da rua, aliás, todo mundo vinha à porta pra olhar o que acontecia com aqueles branquelos que tinham resolvido parar por ali. Era a gente tirando foto do lugar e eles tirando foto da gente. O casal que comandava o restaurantezinho era uma graça. Simpáticos e sorridentes, nos trouxeram copos turvos mal lavados e uma jarra de água quente e, antes que pudéssemos pedir qualquer coisa, já estavam na mesa um curry de lentilhas, um outro de peixe e uma dúzia de salgados fritos recheado com vegetais, tudo extremamente apimentado. “Ajuda a matar os vermes” – orientou nosso motorista, que começou a nos servir, ensinando como montar o prato e o que combinava com o quê. Sem cerimônia e antes que houvesse a chance de perguntar onde estavam os talheres, começou a comer com as mãos. Meio sem prática, simplesmente seguimos na dele e enfiamos os dez dedos no prato.

Já com a língua ardendo de tanta pimenta, chegou o chá, numa xícara inglesa de porcelana e com um aroma incrível (o chá do Sri lanka, ainda vendido como tipo Ceilão é o mais renomado do mundo e caminha pra ser, novamente, o mais exportado. Uma injeção de açúcar que elevou meu risco de diabete em uns 1000% e deve ter me deixado fazer uma careta de leve, porque o nosso motorista-assessor alertou: – “Cuidado! não está bem adoçado”.

A hospitalidade do casal e toda a paciência do motorista conosco, que se esforçaram para nos agradar a cada segundo, mesmo sem saber exatamente como, foram tocantes. A conta para 3 pessoas deu menos de 7 reais e , quando oferecemos cerca de 10, relutaram em aceitar. Dali pra frente, seja lá o que acontecesse, a viagem já teria valido a pena.

O chá, a pimenta, as longas estradas… é um ciclo frequente no Sri Lanka: você tem que parar porque está apertado, mas pra usar o banheiro tem comprar algo; você come um salgado apimentado e a boca começa a queimar; então pede um chá, que vem com um punhado generoso de açúcar; você volta pra estrada e pra matar o gosto doce toma um monte de água e, logo a frente, precisa de outro pit stop. Acho que foi assim que o chá e os temperos ardidos se tornaram paixões nacionais. Os banheiros, definitivamente, não são a coisa que os faz ter mais orgulho.
A herança inglesa como o gosto por chá, o talento pra se virar sob seja lá quais forem as condições e a diversidade de hábitos e religiões são parte da cultura indiana, trazida para o Sri Lanka por milhares de anos. Os templos hindus e as extensas plantações de arroz que parecem terminar depois do horizonte, também. Há muito em comum entre os dois países e, justamente por isso, é tão fácil apontar as diferenças. Imagino que, para um sinhalês, ser chamado de indiano causa o mesmo sentimento que temos quando, ao dizer que somos do Brasil, ouvimos o gringo contar sobre seu interesse em aprender dançar salsa.

A Índia no nível fácil, como o Sri Lanka foi recomendado para mim por um amigo, não é tão fácil assim. Mas tudo é tão barato, tão perto, tão encantador e hipnótico, que as dificuldades vão se tornar apenas um detalhe.

Sri Lanka: por que ir

Qualquer retorno de viagem dá tristezinha, mas dessa vez… acho que é um negócio diferente. Voltei do Sri Lanka completamente apaixonado.

A escolha do destino é estranha, o nome mais ainda. Garanto que você: 1 – ou não sabia que existia, 2 – ou já tinha ouvido falar mas não idéia de onde fica, 3 – ou se pergunta por que raios se meter num lugar desses. Eu não sabia responder nenhuma das três até há algum tempo atrás. Agora tenho certeza que nunca desejei tanto ter estado por mais tempo em nenhum outro país.

O Sri lanka é uma nação muito maior que a pequena ilha que o comporta. A Índia, vizinha gigantesca ao norte, acaba fazendo sombra – não só fisicamente, mas como destino turístico muito mais consolidado. Mas o antigo Ceilão está ressurgindo para o mundo em números exponenciais depois do fim de uma guerra civil de 25 anos, que cessou em 2009.

Ruínas milenares, praias paradisíacas, templos secretos, natureza abundante, arquitetura colonial européia transformada pelas cores e hábitos das exóticas culturas da Ásia e, principalmente, a paz, fizeram o turismo florescer e atingir taxas de 40% de crescimento no número de visitantes a cada ano.

Estradas estreitas e com apenas uma pista para cada sentido conectam as atrações que se espalham por todo país – uma viagem de 250 km, por exemplo, pode levar de 6 a 9 horas. Tudo depende do clima e dos eventos. Pode ser que o tráfego esteja parado porque alguém lá na frente resolveu empacar. Empurrar até dá, se não for um elefante.

Ou então hoje é sábado, dia sagrado do Budismo e também do templomóvel passando por vilarejos que, de tão minúsculos, ainda não têm seu próprio local de adoração. Se perderem a chance, os adeptos religião mais praticada no país só poderão ver a imagem do Buda na semana que vem.

Me fala se tanta coisa boa, espalhada por uma ilha um pouco maior que o Estado do Rio de Janeiro e, ao mesmo tempo com acessos tão complicados, não cheira a aventura.

Ainda mais quando as longas horas na estrada estão longe de ser monótonas. Não há rodovias expressas, apenas as vias locais, com a vida acontecendo por todos os trechos e a todo momento. É nas estradas e à beira delas que está o país de verdade – ao longo do que deveria ser o acostamento, o cotidiano dos sinhaleses – como são chamados os locais – se apresenta de cara e sem pudor.

E quando se alcança os destinos, ocorre justamente o contrário: só dá pra ver o que se procura depois de um longo ritual. Para alcançar o topo da Fortaleza de Sigiriya, por exemplo – as ruínas de mais de dois mil anos de uma antiga cidade do Ceilão, no topo de uma rocha vulcânica de quase 400 metros -, leva um tempo. As cerca de duas horas de subida aumentam sua expectativa e mostram que estar ali, fazendo aquele trajeto, é tão ou mais fantástico que o próprio objetivo final.

E encontrar um leopardo – o animal mais difícil de ser visto nos safaris – no Yala Park também não é tão fácil quanto se imagina, quando a informação mais marcante sobre a reserva natural é que lá está a maior população de leopardos do mundo.

O segundo safari da minha vida e o segundo que aposenta minha câmera, aliás. No primeiro, em 2008, tinha uma bem ruizinha que ficou pra trás ali mesmo. Neste agora, não foi culpa do safari, já que eu perdi a câmera um dia antes e já estava mesmo pensando em substituí-la quando voltasse. Acho que ela acabou escutando, ficou ofendida e fugiu com todas minhas fotos. Sorte que eu estava muito bem acompanhado – a patroa registrou tudo também. Só que quando vejo as fotos dela, sinto um treco estranho que não sei se é alívio ou inveja.

O que ficou registrado na memória, minha ou do celular, e na câmera da parte mais responsável deste casal vem nos próximos posts sobre este país charmoso e simples como nenhum outro, o Sri Lanka.

Onde ir no Sri lanka pra encontrar o que você procura

Os currys absurdamente picantes que sobem ao cérebro na velocidade da luz; baratas do tamanho de ratos e ratos do tamanho de gatos; a umidade, o sol a pino e temporais, tudo junto e todo dia. Eles têm de tudo e não falta coisa pra mostrar mas, mais que isso, o Sri Lana é experiência sensorial. Não se prenda tanto ao que você vê – gaste mais tempo do outro lado da câmera. Os locais vão achar o máximo posar numa foto ao seu lado. Perder tempo planejando cada dia do roteiro se preocupando com clima, monções e temporada chuvosa é pura perda de tempo – país tropical de clima instável com quatro estações por dia a gente já conhece, não?

O Sri lanka é pra viajantes curiosos, que querem criar mais uma versão para a história tão rica, porém mal contada deste país de tantas crenças e culturas. Então a melhor recomendação que se pode fazer é: simplesmente vá.

Colombo, a capital e maior cidade, não é o maior motivo do mundo pra visitar o Sri Lanka, mas também está longe de ser desinteressante. O mercado de rua na região de Pettah, com sua arquitetura colonial britânica, é o melhor lugar para obeservar como a vida cotidianda da cidade corre. Budistas, cristãos, muçulmanos e hindus convivem em paz, mas em meio a muita bagunça neste bairro pulsante.
Perto dali, o parque Viharamahadevi, com seu Buda abençoando a prefeitura, mostra o lado mais dócil e calmo da cidade caótica. As frutas frescas nas barraquinhas são doces, saborosas e fresquíssimas,até porque se não fossem, apodreceriam no mesmo dia por causa do calor. Tão frescos quanto as frutas, são os frutos do mar. Vá ao recém reformado Dutch Hospital – que, obviamente, não é mais um hospital – e experimente os carangueijos do Ministry of Crab.

Hotéis suntuosos como o Taj Samudra e o Galle Face podem ser intimidadores a primeira vista, mas os restaurantes e bares são extremamente acessíveis, assim como os spas e serviços de massagem. Eles são o retrato mais fiel possível do continente asiático e sua hospitalidade imbatível. Jardins e fachadas ostensivas escondem lobbys decadentes e muito mais simpáticos que se possa imaginar.
A pobreza não pode ser ignorada – é avassaladora. E isso só faz aumentar a admiração pela forma com que a população dribla seus problemas. Vá a Negombo, cidade litorânea perto do aeroporto internacional de Colombo e experimente algum dos restaurantes a beira mar. O Kings Coconut, um dos primeiros, tem um ambiente tão simples que te faz se sentir convidado na casa de um bom amigo. Lula a dorê pra começar, depois um belo filé de peixe frito com salada e duas cervejas de garrafa, tudo por R$20,00 por pessoa.

Kandy é o centro cultural do Sri Lanka. Uma cidade calma que, mesmo sendo a segunda maior do país, tem só cem mil habitantes. Centro da resistência sinhala contra as primeiras potências que tentaram dominar o país (Portugal e depois Holanda), Kandy continua sendo sagrada por abrigar a maior relíquea budista em poder do Sri lanka: um dente que pertenceu ao Buda.
Ele está guardado no Temple of the Tooth, um templo simples e magnífico ao mesmo tempo. Quase tudo é feito de madeira pintada e metais sem valor – pedras preciosas são uma raridade. Um templo discreto e inocente como seus peregrinos, que oram quietos e sem fazer show, contentando-se apenas em estar ali e fazer sua reflexão pessoal. Quando muito, juntam as palmas das mãos, apontando os dedos para o céu.
Por fora, telhas rachadas e desmontadas, por dentro os sacerdotes vestidos a caráter são os personagens perfeitos para o cenário. Não há absolutamente nada que quebre o clima – nem um vendedor de guarda chuva sequer, mesmo que a chuva lá fora venha de 5 em 5 minutos.

Um jantar no Queens Hotel também é obrigatório. É autêntico como só um hotel histórico e independente pode ser. Ex-casa de um governador na época da colonização inglesa, o prédio está em decadência desde então. O grande e velho salão, com mobília mais velha ainda, é completado pelos garçons de luva branca e o som do piano, sendo tocado por alguém que, seguramente, não tem mais que 3 meses de experiência. Numa mesinha de canto, o chef arremessa alguns pequenos camarões numa frigideira portátil, sem se importar muito com o óleo espirrando por todo lado. O buffet com tudo incluso sai por cerca de R$30,00.

Dambulla, um templo cravado nas alturas de uma rocha e, ao mesmo tempo, no interior dela, foi o que mais me surpreendeu. Após passar por praticamente um ritual de acesso, subindo uma motanha íngreme e escondida, encontras-se essa jóia. Uma fachada tipicamente asiática guarda esconderijos de reis que foram se refugiar em meio a guerras e fizeram, ali, sua morada. Cinco cavernas de todos os tamanhos contam a história completa e, se quiser mais detalhes, convém contratar um guia na porta (preço é sempre negociável).
Trem Colombo – Kandy
Pelo menos um trecho, na ida ou na volta, obrigatório. Veja mais neste outro post sobre como traçar sua rota.

Anuradhapura, Polonnaruwa e Sigiriya formam o triângulo das melhores ruínas de cidades perdidas do Sri lanka, cada uma com sua especialidade. Sigiriya deixou muitas pistas, mas poucas evidências – pode ter sido uma cidade, um palácio ou monastério, não se sabe ao certo. No topo de uma rocha vulcânica que encanta não só por sua rica história, mas também pela beleza natural, o mistério te envolve a cada degrau estreito. Leva-se cerca de duas horas para subir todos até o topo e, durante toda jornada, a rocha revela visões incríveis da floresta que a cerca.

Polonnaruwa são as ruínas mais bem preservadas do Sri Lanka, algumas com mais de mil anos – são a evidência de uma era próspera e curta que o reino vivenciou. Anuradhapura, com mais de 2500 anos, ainda é sagrada para os budista e, ao contrário da calma Polonnaruwa, tem muito movimento de peregrinos e monges por todos os lados. As dagobas, memoriais enormes em forma de meia tigela, têm altares espalhados ao seu redor, com gente de todo o Sri Lanka indo para fazer sua oferenda – e macacos roubando tudo em poucos minutos.
Para safaris, o Yala National Park, ao sudeste do país, é o mais famoso e estruturado parque nacional. O motivo é bom o suficiente: a maior população de leopardos do mundo está ali. Se é difícil vê-los por ali, imagine em outros parques. Para hospedar-se, há que se escolher um hotel alguma das cidades próximas, como Tissa, e fazer safaris de um dia.