O metrô de São Petersburgo, ou melhor, Leningrado
São Petersburgo ou Leningrado não é só questão de nomenclatura. Esse anos que a cidade passou sob comando soviético, batizada em homenagem a Lenin, mudaram o estilo de vida da cidade pra sempre. O que há de comum entre os períodos? Palácios.
Os palácios da nobreza em cima da terra, pra meia dúzia. Os Palácios para o povo, como a União Soviética batizou as estações de metrô, submersos.
A Revolução Socialista na Rússia deu certo como nenhuma outra – uma rede de metrô feita de estações de mármore e lustres de cristal não passou sequer por orçamentos e foi construída rapidamente por trabalhadores que receberam ideologia ao invés de dinheiro. Mas o governo socialista deu errado como nenhum outro, desgatando-se como o sonho de quem acreditava realmente na possibilidade de construir uma nova nação. É uma loucura pensar que muitas da pessoas que cresceram sob este sonho, aliás, já tiveram duas ou três nacionalidades antes dos 20 anos de idade.
Estação Avtovo estava estava em reformas…
Lindo, barato e eficiente, o metrô de São Petersburgo não é só uma memória ou legado deste período. A forma conservadora com que os russos se vestem, os vagões velhos e barulhentos e as luzes fracas dão tal atmosfera pra esse turismo soviético, que quase não é preciso usar a imaginação. Até mesmo as estrelas e as foices cruzando os martelos ainda estão lá – pouquíssimas foram retiradas.
Pra ver o melhor da arquitetura ferroviária soviética, a linha vermelha é a mais antiga e, da estação Ploschad’Vosstaniya até o extremo sul, qualquer uma das paradas vale a pena (em especial, a estação Avtovo).
Ufa! O Buda não é nazista
Poucos símbolos causam tanta repulsa quanto uma suástica. A propaganda nazista o elevou a marca de um governo próspero e sólido, no auge do regime; a história desta mesma ideologia fez com que os esses entrelaçados fossem censurados em boa parte do mundo.
Na Ásia, no entanto, os budistas devem ter calafrios quando vêem qualquer associação da suástica com algo tão ruim. Há milhares de anos, o budismo já a considerava símbolo de solenidade e, se ocidentalmente ela não é bem aceita, para os seguidores de Buda ela é um ícone. Até fazer toda a reflexão e lembrar que focinho de porco não é tomada leva um tempo mas a questão é justamente essa: pessoas pensam diferente.
Em Hong Kong, o primeiro tilt que me deu na cabeça quando cheguei ao gigantesco monumento do Buda Tian Tan, ainda mais com aquela mão direita erguida foi – ué? Hitler passou por aqui também? Não sabia que os nazis tinham conquistado parte da China…
As idéias só começaram a se encaixar quando, olhando por mais um tempo, vi que o símbolo estava invertido. Lembrei ainda da polêmica do cara que ganhou um dos últimos Big Brothers e tinha a suástica invertida tatuada no braço, na saia de um guerreiro – ele pastou muito pra conseguir se explicar e, mesmo assim, acho que não conseguiu ser convincente. Na verdade, é no nojento contexto nazista que o símbolo se inverte pra dar formar o duplo S, orgulho da polícia hitlerista, que interferiu no destino de tanta gente. No peito do Buda, totalmente o oposto: um símbolo de boa sorte e paz aos que querem alcançar o nirvana.
Monastério de Po Lin
Completado em 1993, o Buda gigante no vilarejo de Ngong Ping, a alguns minutos de Hong Kong, é um dos 5 maiores da China. E já que tudo lá é relacionado a bênção, dá pra confessar que Deus – seja ele o velhinho de longa barba branca ou de olho puxado e com quilinhos extras – abençoou essa cidade. Lagos e montanhas são cortados por uma linha de teleférico, num trajeto que sempre coloca um morro à sua frente, dando a impressão de ser último mas, quando é ultrapassado, revela uma nova paisagem. As cabines panorâmicas são grandes e comportam até 6 pessoas, por uma tarifa de 115 dólares de Hong Kong cada. Após 5 quilômetros de um passeio muito agradável, chega-se à estação final de Ngong Ping – uma vilinha temática construída recentemente para dar mais estrutura ao lugar. Alguns restaurantes chineses, árabes, italianos e muita americanada, além das lojinhas de souvenirs. Quase comecei minha coleção de hashis – os palitos usados no oriente no lugar do garfo – que estou ensaiando há algum tempo.
Depois deste corredor turístico, um outro, com mais significado e mais cara de China, é guardado por estátuas de guerreiros de ambos os lados, conduzindo-o à escadaria do Buda Tin tan e o Monastério de Po Lin. É claro que eu não decorei nenhum destes nomes e tive que googlar tudo antes do post, mas uma vez estando lá, é só procurar pelo buda e pelo templo que você vai se encontrar. Sob um nevoeiro que, em alguns momentos, mal permitia ver os últimos degraus lá em cima, a vista da praça imediatamente antes da escada fez aquele conjuntão, todo espalhado, criar as conexões. Um círculo vazio que propõe um momento de reflexão e aproxima o buda, o templo, os portais e todos os outros elementos ao redor.
O Budismo, pelo menos à primeira vista, é quase lúdico. Cores intensas, lustres feitos artesanalmente, esculturas de todos os materiais – do gesso ao ouro -, flores, incensos e detalhes em cada centímetro, do rodapé ao telhado. Calados, os monges tomam conta do recado sem reclamar – muito pelo contrário, o meio sorriso está sempre lá. Harmonia, paz, cooperação são valores estampados nestes rostos. Não me conformo que, em todos os nossos anos de escola, onde somos obrigados a decorar fórmulas de moléculas – sem saber o que é uma molécula -, os programas de história e geografia não incluem sequer uma aula sobre a história do Oriente.
exposição com alguns teleféricos ao redor do mundo
e olha quem estava lá
Pode parecer um passeio bobo quando se ouve todo aquele negócio de teleférico, vila temática e etc, mas é uma das maiores incursões que se pode fazer na China milenar do nosso imaginário.
Uma história para uma foto: Metrô de Dubai
Nos bastidores de uma cidade futurística, consumista e com muita luzinha brilhando, Dubai revela, no metrô, um pouco da rotina de quem está lá pra fazer isso acontecer.
Entrei no vagão às seis da tarde, hora mundial do rush, quando as estações que parecem lobbys de hotéis cinco estrelas são tomadas. Em sua maioria, trabalhadores filipinos e indianos, empregados por hotéis, shoppings e outros cargos gerados pela indústria do turismo, transportam-se pela linha vermelha que, como uma artéria do sistema de transportes da cidade, corta a cidade de norte a sul passando pelos principais pontos onde a espalhada metrópole concentra o movimento.
Aeroporto, centro velho, centro novo, Dubai Mall (maior shopping do mundo), Burj Khalifa (maior prédio do mundo), Mall of the Emirates e Marina: de uma ponta a outra, leva cerca de duas horas. O que os vagões japoneses, que não precisam de maquinista, têm de bonitos e silenciosos, têm também de lentos – não por culpa deles, mas pela administração de tráfego de Dubai que cancelou a compra de dezenas de trens quando explodiu a crise dos ricos, em 2008.
No fim do expediente, as mãos estão cansadas e machucadas. Pra ter tanta mordomia disponível, tem que ter, também, quem sirva.
Onde Dubai tem um pouco mais de alma
A gente tem fases e eu estou na minha da preguiça da edição. O negócio agora é tentar uma foto bacana com o celular e hashtaggear até não poder mais. Tomara que isso passe (ou que parem de lançar tranqueiras e apps de fotografia que viciem tanto).
Em Dubai, uma parte do Oriente Médio mais maquiada que as mulheres dos sheiks, uma boa câmera de celular foi o que me faltava pra recuperar o entusiasmo por mostrar a vida que acontece fora dos hotéis e restaurantes que transbordam em estrelas.
Não há outra cidade com tamanha excelência nos serviços, é verdade – táxis cobram preços justíssimos e sem golpes; frutas frescas estão nos mercados todas as manhãs, mesmo que não haja uma plantação sequer no país todo; e até um barzinho despretensioso, com ar de sujinho, tem um chef internacional por trás, comandando a cozinha.
Palmeiras e carrões: o “samba e futebol” de Dubai
Estação de metrô Palm Deira, perto do Deira Fish Market
Mas morar numa bolha, às vezes, é estranho. Mesmo com 90% dos habitantes vindos de outra parte do mundo, política e religião são assuntos categorigamente ignorados pela imprensa.
Condições trabalhistas de ramos pesados, como a construção civil, não têm sequer um detalhe que seja de conhecimento público, sempre camufladas com o pensamento que sentencia que, por pior que sejam, são melhores que nos países de origem desses trabalhadores.
Quem se importa, quando o show do Justin Bieber já foi tão anunciado que mobilizou até os fãs de Iron Maiden para ir ao próximo grande evento da cidade.
É muito entretenimento, muita ditadura da felicidade, muita gente se arrumando e se perfumando demais só pra ir até a farmácia.
Chato e do contra, como sempre, elegi meus bairros preferidos de Dubai os mais tradicionais e velhinhos.
Há um tempo atrás, com muita pretensão (mas muita boa intenção =D), fiz uma lista de 20 lugares pra comer bem em Dubai, inclusive com álcool. Agora, sem me limitar à comida, quero dar o empurrão que falta a quem deixa de ir pra lá por acreditar que é uma cidade sem alma.
Costa e litoral
Melhor que dizer que Dubai tem uma faixa de mais de 40 kilômetros de costa, é dizer que Dubai é esta faixa. Contudo, mesmo que tudo esteja perto do mar, ele nem sempre é acessível, já que várias das praias são privadas e pertencem aos hotéis.
O melhor trecho está entre a Jumeirah Open Beach, na região de Satwa, e a Marina, distantes 15 kilômetros uma da outra. Num dia (que não seja entre Junho e Setembro, quando a temperatura torna qualquer atividade a céu aberto impossível), acorde cedo, alugue uma bicileta numa das estações no entorno do Dubai Mall e vá direto para o Lime Tree, um café estiloso que aposta em produtos orgânicos numa terra onde desperdício ainda não é considerado problema. O sanduíche de mussarela de búfula com tomate seco e um milk shake de manga com granola são perfeitos para, do mezanino, apreciar a praia e se abastecer para um dia de pedalada pelo litoral. Lembranças gourmet como caixas de chá, livros de receita e acessórios de cozinha estão a venda na lojinha dentro do café.
Jumeirah Beach (que não é a mesma que a Jumeirah Open Beach)
O Lime Tree não está exatamente na rua da praia, já que os árabes não sabem usar praias como nós e colocaram os restaurantes na rua de trás. Então, terminado o café da manhã, é hora de ir, de fato, para a praia.
A Jumeirah Open Beach é a maior praia gratuita de Dubai e, também, oferece a melhor vista. Todos os edifícios da Sheikh Zayed Road, a avenida principal que corta a cidade inteira, são visíveis daqui. E até outro ícone, o Burj Al-Arab, é visto bem mais adiante.
A faixa da areia é tão extensa que, mesmo longe de estar vazia, parece sempre ter muito lugar disponível. Uma pista de corrida vai paralela a uma outra para bicicletas, de uma extremidade da praia a outra, e casais procuram por lugares onde possam dar as mãos, nos longos píers de pedra que invadem a água e brecam as ondas fortes.
Descendo em direção à Marina, a Kite Surf Beach é a preferida dos praticantes de esportes. Não os aquáticos, como o nome sugere, mas os com bola. A Copacabana dubaiense é aberta a quem quer que queira jogar uma partida beach volley. Logo após, já no último trecho antes do hotel em forma de vela, o Burj Al-Arab, está a praia onde a comunidade paquistanesa se reúne, devidamente vestida da cabeça aos pés, para fazer o que eu fiz muitas vezes lá na Praia Grande: uma bela farofada.
E o trecho mais especial desta parte está um pouco escondido de quem passeia pela praia.
Na rua de trás, em uma cozinha do tamanho de um trailer, mesas de plástico colocadas do lado de fora tem que ser divididas entre gente que nunca se viu antes pra poder assentar todo mundo. Uma fila se estende a frente do apertadíssimo restaurante indiano Bu Qtair para pedir uma das duas únicas opções de prato: camarões picantes ou peixe inteiro frito. Ambos pescados no dia, mais fresco impossível.
Servido em prato de papel e sem talheres, o peixe frito (com cabeça e tudo) chega para duas pessoas tranquilamente, mas camarão não nasceu para ser desperdiçado, então há de se pedir uma porção também. Toda a higiene ignorada e o clima de feira que que o Bu Qtair conseguiu perservar nesses 25 anos de vida o tornaram um dos restaurantes mais tradicionais de Dubai. É relaxado, é autêntico, é o lugar que mais me fez sentir fora de Dubai até hoje. É mais popular entre gente que já mora na cidade, por estar em um bairro residencial, mas já recebeu visita até de Anthony Bourdain. E o fundamental: é delicioso.
Anthony Bourdain experimentando a comida do Bu Qtair
Deira e Bur Dubai
Bur Dubai é onde Dubai começou. O bairro à margem sul do Rio Creek vai ficando mais vivo à medida que o sol vai descendo. O comércio começa a acender as luzes e o reflexo dos vidros é substituído por interiores cheios de vida. O restaurante iraniano Special Ostadi, aberto desde 1978, revela suas paredes coloridas decoradas aleatoriamente com arranjos que vão de celulares velhos a cédulas de dinheiro do mundo todo. Ele é gerido por pai e filho desde que foi aberto e, em uma cidade que assombra por ter tudo novo em folha, o humor do dono do negócio tradicional te carrega por um mundo de experimentação de comida iraniana – nunca hesitei em aceitar todas as suas sugestões.
Uma sopa, muita carne, pão, salada, sobremesa e bebida nunca saíram por mais de 70 Dirhams (cerca de R$40,00). Os pedaços de frango grelhado com açafrão chegam sobre uma camada da pão sírio que vai pegando o sabor e a cor da carne e que, ao final da refeição, vai muito bem com o chá açucarado com limão.
Do outro lado do Creek, perto da estação Palm Deira do metrô – que apesar de futurista até a alma, tem areia e só areia ao seu redor -, está o Deira Fish Market.
Deira Fish Market
Deira Fish Market, Dubai
Os últimos e menos nobres cortes são expostos. Tudo se aproveita
Ainda estão pra inventar coisa melhor que os mercados. Tem tanta fartura, tanta cor, tanto cheiro, tanta coisa acontecendo… um recorte da história da cidade de como ela foi, é e até uma pequena previsão do que pode virar.
Construído em 1988, foi um dos primeiros grandes empregadores de estrangeiros dos Emirados Árabes, o que o tornou uma espécie de Pequeno Paquistão/Bangladesh. Esses países têm, além da condição quase sub-humana com que a população é tratada, a proximidade e a religião – são todos islâmicos – e isso faz com que trabalhadores sejam importados de lá até hoje.
Trabalhadores de diferentes seções do mercado. 1 – Sesta no carrinho de mão 2 – Seção de peixes frescos não para
Deira Fish Market, Dubai
Há dois momentos especiais do dia ao redor do mercado: o primeiro é logo de manhã, lá pelas 6, quando ainda estão abrindo. Peixes inteiros de mais de dois metros estão sendo trazidos ainda vivos para serem cortados e expostos. O outro é no final da tarde, logo após a última das cinco orações diárias que os muçulmanos tem que fazer, quando fazem uma espécie de sesta e, na falta de um lugar mais confortável, não hesitam em tirar seu descanso dentro dos carrinhos de mão.
Numa cidade tão carente de história, o Mercado de Peixes é um pedaço que, apesar de jovem, já viu todo seu arredor mudar completamente. Agora, pode ser que ele seja testemunha de sua própria mudança. Orçado em cerca de 140 milhoes de reais, o novo Mercado de Peixes de Dubai está previsto para estar pronto daqui a um ano, brilhando, cheio de mármore e transformando mais uma tradição em shopping center.
Omã: de barco, pela costa mais bonita do Oriente Médio
Ta aí um lugar que não esperava pisar, o Omã. Não por falta de atrativos, de história ou de interesse, mas simplesmente porque tem lugares que quando você ouve falar, é quase instintivo pensar: aff, onde fica isso?
A maior parte do Omã fica no extremo sul do Golfo Árabe, junto com outro país culturalmente riquíssimo, o Iêmen. A diferença é que, enquanto o Iêmen continua invistável por, abertamente, refugiar tudo quanto é tipo de terrorista, o Omã segue seguro, tolerante e receptivo.
Há, ainda, uma outra pontinha que, assim como a porção principal, faz fronteira com os Emirados Árabes Unidos. É por isso que, estando em Dubai, fica fácil ir rapidinho até ali, ao Omã, e voltar. Nesta pontinha, aliás, está a última coisa que um latino procuraria num país muçulmano: praias.
Já tinha ouvido falar de gente que vai procurar a costa francesa, italiana, turca, barsileira, mexicana ou astraliana, mas qual foi a bela surpresa que tive quando descobri que a costa omani é dona de um litoral tão único e águas tão transparentes.
O deserto é cortado por ótimas estradas, conectando Dubai, nos Emirados Árabes, a territórios do norte do Omã
Dhow (Dáu), a embarcação mais típica do Golfo Árabe
Ostras pescadas por quem tem o know how de anos. Essa era a principal atividade da região antes do turismo
Mini praias são esprimidas por rochas desérticas gigantes e água verde clara, ótima para fazer snorkling ou simplesmente flutuar, num dos mares mais salgados do mundo. Uma mesquita de frente pro mar dá o toque pitoresco que faltava.
E quem não tem iate, passeia no bote. Os pescadores do Omã já descobriram que passar o dia procurando pérolas perfeitas pra vender aos joalheiros nunca iria dar tanto dinheiro quanto convidar turistas pra dar uma volta em seus barcos, os dhows.
É negociável, mas por volta de 200 Dirhams (+ ou – R$ 100,00), eles te levam por um dia inteiro nas embarcações, onde cabem cerca de 40 pessoas. Sempre beirando a costa e os melhoers cenários, o bote navega entre os limites da maré e alto mar. Almoço está incluso – depois de deixar o pessoal nadar um pouco e brigar com o sal, tentando se manter debaixo dágua, os pescadores chamam todo mundo de volta e servem um peixe frito com arroz árabe, acompanhado de uma bela salada. Frutas, sucos e água estão disponíveis a qualquer hora.
O peixe fresco é frito na cozinha simples montada a bordo do Dhow
Importantíssimo 1: alguns vistos emitidos pelos Emiardos Árabes Unidos para sua estada em Dubai são descartáveis, ou seja, mesmo que a validade seja de 30 dias, uma vez que você saia do país, não pode mais regressar. Verifique qual é seu tipo de visto antes de atravessar a borda para o Omã, onde o visto é bem menos burocrático e emitido na fronteira, mediante pagamento em dinheiro de cerca de 80 Dirhams.
Importantíssimo 2: os passeios de barco pela costa do Omã saem de vários portos. Um deles, o de Dibba, fica ainda em território dos Emirados Árabes. Portanto, se o seu visto for desses descartáveis, escolha o passeio que sai deste porto. De qualquer maneira, é necessário levar passaporte porque, quando se está embarcado, o bote alcança territórios pertencentes ao Omã e, por causa disso, os oficiais checam documentos antes do embarque.
Só importante: Se você não dirige, contrate uma operadora de turismo pra ir te buscar e deixar em Dubai. A Sheesa Beach é confiável, tem bom atendimento e aceita bookings de última hora.
Mais ou menos importante: quem vai para portos mais distantes, como de Kassab, tem a opção de pernoitar por lá e fazer o passeio no dia seguinte, já que o caminho é longo (cerca de 4 horas) e os hotéis da região são excepcionais e completamente integrados a paisagem. Só não dá pra esperar grandes pechinchas, já que são todos 5 estrelas.
Ferrari World, em Abu Dhabi: 240 km/h na montanha russa mais rápida do mundo (com vídeo!)
O conceito de leste e oeste nunca foi tão dinâmico neste mundo: eles permanecem os mesmos pontos cardeais, mas não se sabe mais quem dita as regras. Os clubes de futebol da europa estão sendo comprados por sheiks, as 10 melhores companhias aéreas do mundo são asiáticas, tecnologia da informação tem sido importada da Índia e um parque temático da marca de carros mais glamurosa de todos os tempos abre a alguns milhares de quilômetros da sua sede, por um plano ambicioso da capital dos Emirados Árabes Unidos, Abu Dhabi.
Abu Dhabi é impressionantemente menor e mais conservadora que Dubai, mas tem petróleo para mais de 10 vezes mais tempo – 120 anos, contra nem 10 de Dubai. É impressionante como essa pequena capital, ofuscada pela vizinha famosa, já é uma força global, mesmo que a cidade nem exista direito. Com suas perspectivas de crescimento que, ano após ano, a colocam no topo do ranking das cidades que mais crescem no mundo, Abu Dhabi continua atraindo investimentos ousados pra se tornar a próxima estrela do luxo árabe.
Entre projetos grandiosos que estavam ou ainda estão no papel – a crise também chegou lá -, alguns deles já tomaram forma. Entre eles, o parque temático da Ferrari, concluído no final de 2010. A marca do cavalo é uma das favoritas entre os habitantes de todo o golfo árabe, especialmente os com alto poder aquisitivo que, mesmo em suas dishdashas (traje árabe tracidional) brancas, não abrem mão do boné vermelho pra combinar.
É engraçado que, ao contrário de outros parques, a Ferrari não idealizou o empreendimento primeiro para depois saber onde instalar. Eles já tinham na cabeça o projeto de explorar a marca no Orinte Médio e não sabiam por onde ir, até que chegaram a conclusão que um parque de diversões é tudo que um povo ávido por consumo queria.
fonte: shockmotors.com
fonte:fottus.com
Mapa distribuído na entrada do Ferrari World
Simuladores, montanhas-russas, carroséis, galerias com carros novos e antigos, cinemas 3D e restaurantes compõe a atração que, sob a linda estrutura vermelha com o logo da Ferrari no topo, é uma das maiores de Abu Dhabi. Entre os destaques está o Scuderia Challenge: um simulador que te coloca dentro de um cockpit de um F-1, literalmente deitado e controlando sua Ferrari naquele volante com dezenas de botões. Os impactos das batidas são convincentes e leva tempo pra pegar o jeito, mas não se sinta culpado: Massa e Alonso também estão apanhando bastante nos últimos tempos. Apesar do parque não ser lá tão grande, vale a pena pegar um dia inteiro, sem ser fim de semana, pra conseguir mais tempo pra treinar e, quem sabe, completar uma volta inteira sem rodar.
Todo o capricho cenográfico, as reproduções dos paddocks e até das piazzas italianas são coadjuvantes de primeira mas, o que seria do Ferrari World se não fosse a Formula Rossa. Pelas arábias, nada é construído para ser simplesmente grande – é sempre pra ser o maior. E para o maior parque temático indoor do mundo, a montanha russa mais rápida. Logo na partida, os carros são disparados como uma bala e, antes mesmo da primeira queda, já alcançam os 240 km/h. É rápido que não dá pra gritar – você abre a boca, mas a voz não sai. A partir daí, umas ou duas quedas fortes e curvas razantes, por mais fortes que sejam, parecem apenas um simples resto, até que se possa voltar pra fila e sentir os 240 de novo.
Formula Rossa
Formula Rossa, a montanha russa mais rápida do mundo
Filmei uma volta completa da Formula Rossa. A camerazinha as vezes me traiu, desfocando a imagem, mas dá pra ver o principal, que é a partida.
Para chegar a Abu Dhabi, a partir de Dubai, alugar um carro é sempre a melhor e mais barata opção para quem vai ficar alguns dias pela região. Ônibus super confortáveis também partem da estação de ônibus Bur Dubai, de meia em meia hora, por 20 Dirhams (cerca de R$10,00) a ida e 15 Dirhams a volta. A partir da estação de ônibus de Abu Dhabi, um taxi até o Ferrari World sai por cerca de 10 Dirhams.
Outro emirado: Sharjah
Os guias de viagem geralmente apresentam Sharjah como o irmão comportadinho de Dubai. O emirado seco, onde as pessoas se cobrem da cabeça aos pés, muito mais conservador. Estava até assustado antes de ir pra lá e, só pra garantir, vesti calça comprida e camisa de manga longa. Quase derreti a toa – a turistada toda estava a vontade, de short e camisa. Às vezes me pergunto se o pessoal que escreve guias realmente vai para os lugares!
Museum of Islamic Civilization
Não há divisão física entre Dubai e Sharjah e, na verdade, elas se parecem muito. Sharjah só não é um nome mais forte porque não foi pioneira, mas o modelo de desenvolvimento segue o que foi criado na sua vizinha mais famosa. É o terceiro maior emirado – que não é nada mais que uma cidade – dos 7 que compõe o país (EmiradosÁrabes Unidos), tem seu próprio centro econômico e também é chegada em um arranha-céu e ilhas artificiais. A prosperidade árabe paira nesta cidade surpreendentemente bonita.
Gold Souk
Durante o dia, o grande motivo para estar em Sharjah é, sem dúvida, o Museum of Islamic Civilization. O pavilhão é ornado milimetricamente na parte de fora e o domo dourado no centro torna o prédio imponente como todo marco árabe deve ser. Lá dentro, o nascimento e crescimento do Islamismo são explicados através de várias coleções – de cópias manuscritas do Corão, o livro sagrado do Islamismo, a uma série de réplicas de mesquitas ao redor do mundo. Todas os costumes que parecem tão estranhos ao ocidente são detalhados minuciosamente e há até uma galeria dedicada a explicar a influência do Islam nas culturas indianas – o Museum of Islamic Civilization compensa toda a falta de museus em Dubai. Fica aberto das 10 as 22 e o preço é quase simbólico: 5 dirhams.
Assim como o museu, os lugares mais interessantes de Sharjah estão a beira da baía (artificial, é claro) que a cidade abraça: o Gold Souk, um mercado-shopping imenso; as mesquitas, principalmente a Buhaira; e o Qanat al Qasba, um shopping bem dubaístico. São lugares bonitos durante o dia, mas o que vale mesmo é estar em um deles quando a noite cai. A iluminação transforma a cara da cidade. Um bate volta a partir de Dubai é fácil e barato: partindo da estação de ônibus de Bur Dubai, o trajeto leva cerca de uma hora. Os ônibus partem a todo momento e custam 5 Dirhams (R$ 2,50).
Resorts em Dubai: a europeização do deserto
Público e privado em Dubai às vezes não fazem fronteira. A vida social para visitantes está 95% concentrada em hotéis – caminhadas, refeições, drinks, piscinas, bares, shoppings, vistas… os hotéis têm, basicamente, tudo que a cidade pode oferecer.
Sair perambulando pelos labirintos do Madinat Jumeirah, um dos extravagantes resorts, é um tilt na cabeça. O hotel é produzido em nível cenográfico. O estilo árabe marroquino em todas as torres que circundam o complexo é propositalmente misturado a efeitos de perspectiva forçada para que não se tenha idéia de onde o complexo termina. Ele é, de fato, enorme, mas com esse efeito, parece infinito.
souk cenográfico do Madinat Jumeirah
As chaminés naturais não estão lá pra cumprir sua função ancestral de jogar o ar quente pra cima, as moedas gigantes não são mais aceitas e não tem poeira voando pra todo lado, mas o poder de convencimento de uma bela mentirinha é inegável. Melhor direção de arte, sem dúvida, mesclada aos confortos da modernidade – ar condicionados e caixas eletrônicos são sempre bem-vindos.
porque eu também posso bater a foto mais tirada de Dubai!
Uma forcinha aqui e ali para incrementar o luxo. Gôndolas passeando em lagos, mesinhas do lado de fora, pontes magníficas… a europeização do deserto deu certo. Onde antes não havia nada, agora há mundos inteiros e complexos, com tantas opções de hospedagem, passeios, refeições e vida noturna, que talvez nem seja compensatório sair do hotel.
Uma passadinha na praia vizinha é uma desculpa. Areia limpinha, mar mais ainda – com água no pescoço, ainda dá pra ver os pés. Dubai só não usa suas praias como chamariz turístico porque, novamente, os hotéis o fazem. Com exceção de uma ou outra praia pública sem estrutura alguma, os hotéis possuem as praias e é direito deles cobrar por todo e qualquer serviço como guarda sol, cadeira e até o acesso a praia.
O Madinat Jumeirah é um símbolo da Dubai consolidada como destino de exclusividade. Ao mesmo tempo que qualquer um pode chegar e entrar no complexo a qualquer momento, é certeza que sem uma carteira
recheada seu dia/noite não vai ser assim tão divertido. Como a cidade, apesar de não ser enorme, é bem espalhada, resorts tudo-em-um são um dos principais apelos. Extremamente verticais ou mais conceituais, como o próprio Madinat Jumeirah, são as principais atrações de Dubai, já que todos seus serviços, principalmente os lounge bars, são abertos para hóspedes e não-hóspedes. E, assim como os shoppings são evoluções dos mercados, a arquitetura ousada também é uma sucessão que faz todo sentido. A cultura árabe se expressa muito por formas geométricas, uma vez que representações do ser humano podem ser consideradas ofensivas.
A carta branca dos hotéis para servir álcool, permitir festas e fazer vista grossa a todos os costumes não previstos pelo Islam, no entanto, tem um ponto em comum um tanto peculiar: as noites tem hora pra acabar. Duas ou três da manhã, no máximo, acendem as luzes e te tiram do lugar como numa festa de 15 anos. Tipo da regra que, creio eu, deve ser extinta junto com uma série de outras em poucos anos se a dinâmica da cidade continuar a mesma.
O que são e onde ficam as arábias
Países na Península Árabe (entre a África e a Ásia) e na parte continental da Ásia
A parcela árabe do globo, de tão diferente, ganhou a classificação de mundo – O Mundo Árabe. É como se fosse um universo paralelo que não tem relação nenhuma com coisa alguma. No outro Mundo, o normal, os conflitos mais sangrentos entre governo/população dos últimos tempos estão sendo noticiados, sim. Mas duvido que, na retrospectiva de fim do ano, sejam páreo para os 10 anos do atendado 11 de setembro.
Alguns conceitos sobre essa coisa toda de Arábias, Islam e Oriente Médio são tão vagos quanto a conturbada relação desses países entre si – algumas das fronteiras são as mais mal definidas do mundo e, com política atrelada a religião, qualquer desculpa divina pode ser usada pelos líderes. Alguns deles estão judiando de seus países há mais de 20,30 ou 40 anos com poder absoluto, enquanto mumificam na sala da presidência.
As arábias, em definições geográficas, são aquele pedaço que ficam entre a África e a Ásia, na península que, não podia ser diferente, chama-se Península Árabe. Como a Arábia Saudita ocupa uns 80% da região, é normal que se confunda a nome do país com a região. No entanto, ali também estão Oman, Iêmen, Bahrein, Qatar e Emirados Árabes Unidos.
Países Árabes do Norte África
Culturamente, a religião e os costumes ainda se espalham por vários outros países, incluindo o norte da África (Marrocos, Tunísia, Egito, etc) e uma parte continental da Ásia (Síria, Líbano, Irã, Paquistão, etc). E não é em nenhum destes pontos que se encontra a intesecção entre eles mas, sim, na religião: o Islam.
Uma vez nascido em um desses países, não há opção – você é considerado muçulmano seguindo ou não a religião. A diferença entre o certo e o errado é muito clara e as leis, como a própria crença, são sustendadas pela tradição. Recentemente, cidades que se entregaram a ocidentalizações como Dubai, Doha e Abu Dhabi tem tido algum destaque. É como se fosse um passo adiante rumo a entrada na cena global. Aquela fechadura emperrada que não abria de jeito algum foi jogada fora e as portas agora estão abertas. A ambição de exportar a arábia foi descoberta.
Não só porque apresentaram evolução e poder no campo dos negócios mas, ao abrir-se para o mundo, esses lugares dão à vez a quem sempre teve vontade de explorá-los. Pode ser o “seja bem vindo”que os leitores do Lawrence das Arábias esperavam pra poder partir num roteiro semelhante
Esses povos a serem desvendados, às vezes tão religiosamente militarizados, têm muito em comum, mas também muita distinção. É preciso respeitar os limites de onde somos aceitos ou não como observadores. Alguns países estão abertos, outros fechados e outros, ainda, fechados mas nem tanto. Destrinchar todos os sensos comuns das Arábias é tão tentador quanto saber quem são as pessoas por trás de todos aqueles panos.
Dubai Mall, o maior shopping do mundo: há o que comprar e o que aprender
A primeira lição é que, ao contrário do que eu achava até agora há pouco, shopping não é tudo igual. Quem diria, tirar uma lição de um shopping, sem ser shopaholic. Muito pelo contrário, aliás: turismo de compras nunca foi meu preferido.
Vai ver foi até por isso que, num dos lugares mais visitados de Dubai – principalmente entre os que não são arranha-céus – dá pra perceber tanta coisa. Difícil ver um marco turístico tão apreciado por locais quanto o Dubai Mall. As lojas de roupas tradicionais árabes se esbaldam, apesar dos modelos tão parecidos. Compras, aqui, são levadas muito a sério.
O shopping é um espaço público, como se fosse parte da rua. Tem praças, áreas comuns, páteos externos e arranjos dignos de um palácio. Até aí nada de revolucionário na idéia – a preocupação mais atual dos malls por aí não é mais oferecer um refúgio, mas integrá-los ao seu entorno. Só que isso faz muito mais sentido quando se fala de um lugar que tem, mais de metade do ano, temperaturas acima de 40 ou até 50 graus. O espaço é, ao mesmo tempo, uma ilha de sombra e água fresca, e parte do urbanismo do complexo que compreende o shopping, e os hotéis-restaurantes-bares-clubes que ficam em volta.
O confinamento tem, só do lado de dentro, um aquário gigante, réplicas de souks – mercados tradicionais árabes – e rinque de patinação. No lado de fora, o Burj Khalifa paira, pra quem quiser observar de baixo pra cima e de cima pra baixo – a primeira opção é gratuita; a segunda, custa 100 Dirhams comprada com antecedência e 400 Dirhams pra visitar na hora. Procure pelas placas do At The Top na sinalização do shopping.
Imenso, megalomaníaco e ilusório, assim como a Dubai contemporânea, o Dubai Mall é conceitual e vanguardista como talvez nenhum outro shopping no mundo. Capaz de ser confundido com algum palácio daqui a uns séculos, quando for encontrado em ruínas.
Dubai: pegando o jeito
O Creek corta a cidade velha – que como o skyline mostra, já não é assim tão velha
Tenho trabalhado bastante nos últimos dias e, o mais estranho: não estou achando ruim. Acordar às 4 e almoçar as 11:00 tem sido hábitos constantes e eu já não lembro mais como é sair de casa com o dia aceso. O mais divertido: tomar café da manhã no mesmo horário que, há algumas semanas atrás, eu comia pizza gelada com coca sem gás antes de dormir, em São Paulo.
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De dia e de noite, uma das regiões onde ficar apenas admirando a paisagem já vale a pena
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Deira de um lado, Bur Dubai de outro. 1 Dirham (R$ 0,50) para atravessar o rio de barco
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Travessia feita por abras, os barcos usados pelos locais
Mudanças de rotina e de hábitos que têm tudo a ver com viagem, especialmente aqui deste ponto do planeta. Dubai é uma fantástica introdução ao Oriente Médio começando pelo fato de que tapou este buraco no mapa. Antes da pujança econômica, a oração oriente médio era subordinada – aos verbos bombardear e guerrear. Não que hoje se saiba muito mais, até porque países como Arábia Saudita, Irã ou Paquistão, que são grandes, continuam irredutivelmente fechados.
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Ouro, ouro e mais ouro…
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purinho.
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Do outro lado da corda, Dubai é cada vez mais receptiva e, ciente de que o petróleo um dia acaba – a reserva de Dubai é prevista pra acabar em menos de 10 anos -, prepara seu terreno para sobreviver do turismo. Não é mais aquele passe de mágica que foi há pouco tempo, quando o sheik apontava o dedo num dia e a faraonice surgia no outro. Mas o desenvovilmento abrubto foi tão bem planejado, que uma metrópole surgiu em 15 anos sem apresentar problemas de violência ou conflitos culturais, apesar da imensa massa de estrangeiros que entra todos os dias. Doha (Qatar) e Abu Dhabi (Emirados Árabes) que o digam: estão seguindo o mesmo modelo.
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828 metros de Burj Khalifa. Quando se olha o skyline por completo, o resto dos prédios é que parece nanico
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Sheik Zayed Road, novo downtown que reputou Dubai pelo luxo e extravagância
A LasVeguização de Dubai rendeu, nesses anos de destaque da cidade, o adjetivo de fake. Bom, se o negócio está ali na sua frente e você pode ver, ouvir e tocar, a definição de fake já fica um tanto inadequada. A sensação não é mesma de estar na Síria, no Líbano ou na Jordânia, é lógico. Da mesma forma que estar em Natal também não é a mesma coisa que visitar Recife. O Oriente Médio, assim como o Nordeste, a Europa e os Estados Unidos, não é um bairro. Cada canto tem suas peculiaridades e seu próprio momento na história.
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Este planejamento urbano meticuloso pelo qual a cidade é guiada é um marco tão importante para a região, quanto Brasília foi para o Brasil – apesar dos lagos artificiais no meio do cerrado e a planta em forma de avião, nunca vi chamarem Brasília de falsa. E ambas são tão inovadoras que, o legado, para bem o para o mal, é discutido diariamente.
As semelhanças com a nossa capital, no entanto, param por aí – em Dubai, apesar do governo poder empregar parentes e amigos, as coisas saem do papel, a corrupção é quase zero e as leis não são feitas só pra serem lidas no Congresso. Na verdade, nem Congresso tem. O sheik do emirado é praticamente o dono da cidade, passa o poder de pai pra filho e, mesmo sendo absoluto, faz questão de tocar o projeto de desenvolvimento mais audacioso da história da humanidade. Dubai, que não estava em livro algum há duas décadas por não passar de um tanque de areia, hoje é renomada e em constante metamorfose.
Metamorfose porque, a cada dia, a cidade tem que aprender a lidar novamente com a balança que equilibra tradição e tolerância. Andar de bermuda já não é mais indecência e pessoas de sexos diferentes já podem pegar o mesmo táxi, mas continua difícil ver um pátio de escola que tenha meninos e meninas brincado juntos. A compreensão da dimensão da cultura árabe se torna cada dia mais fascinante. Também, pudera: apesar da forte corrente do idioma e da religião, são mais de 20 países que, no Ocidente, são completamente ignorados em aulas de história.
Estou vendo pessoas vestidas tradicionalmente todos os dias e achando a sessão de não-muçulmanos (onde ficam as carnes de porco) cada vez mais rápido nos supermercados; aprendi que um apartamento no meio do deserto, se tiver as janelas abertas por mais de uma hora, começa a encher de areia a ponto das pegadas ficarem visíveis no chão; estou pegando o jeito de como negociar nos souks de Deira e Bur Dubai, meus bairros favoritos até agora; o fim da tarde e a noite tem se mostrados momentos do dia em que tudo fica mais agradável e bonito, do movimento das pessoas à iluminação das ruas; e a cada hora passada neste tubo de ensaio futurista, me sinto mais parte da experiência.
Despertador de Dubai
É assim que eu acordo aqui, nem precisa por o celular pra despertar! A propósito, olhando para o meio do vídeo – e se esforçando muito, – dá pra ver a mesquita de onde o som está saindo.
O insight – e o out também – das embalagens das arábias
Embalagem é um negócio tão fascinante, que a gente compra produtos por causa dela todo santo dia e ainda é capaz de discutir, dizendo que não. Bom, se essa caixa de hamburguer aí em cima não tivesse o logotipo do S vermelho, ela com certeza não teria não teria se destacado tanto aos meus olhos, na prateleira que tinha uma meia dúzia de marcas ilegíveis. Além disso, olha só ali no cantinho, o selo verde com o desenho da faca, garantindo que a carne foi abatida como manda o Islam – tecnicamente, não sei se há diferença, mas a principal é que os muçulmanos não podem comer animais que não tenham sido sacrificados em nome de Allah. Vai ver é por isso que a carne aqui é tão cara: eles repassam para o consumidor o preço do fiscal que verifica o processo no matadouro. De qualquer forma, são dois coelhos numa tacada só: brasileiros, que não são poucos em Dubai; e população local, de grande maioria muçulmana, que compra um produto importado com certeza de não ferir suas tradições.
E esse leite, vendido em caixa de produto de limpeza? A cada gole, me imaginava tomando desinfetante.
Em compensação, nesta latinha, pode até colocar Dolly que vão tomar achando que estão abrindo felicidade.
Dubaienses, dubaianos e dubraisileiros
Toda a monstruosidade de Dubai, de cara, já no aeroporto. Espaços amplos, mas sem divisórias e pilares imensos até o teto super iluminado. Eu, como bom pobre, fui direto comprar meu bilhete único: um Silver Card. Custa 20 Dirhams (um real compra pouco mais de 2 dirhams), sendo que 14 são de crédito para usar em metrôs ou ônibus. É recarregável e a tarifa é calculada automaticamente de acordo com a rota, sendo que um metrô utilizado 30 minutos após um ônibus, ou vice versa, está incluído no preço da passagem. No geral, uma viagem nunca sai mais cara que 4,10 Dirhams, mesmo que seja para uma zona mais afastada. Para os trajetos mais comus, dentro da zona onde estão compreendidos os maiores pontos de interesse –
incluindo o aeroporto -, a tarifa é de 2,30. Pela qualidade do serviço, dá pra dizer que é de graça.
É tudo verdade: 1 – os trens são tão silenciosos e confortáveis, que às vezes dá vontade de não descer. 2 – Os pontos de ônibus são câmaras envidraçadas e com ar condicionado. 3 – Faz frio e até bate um ventinho de vez em quando: hoje chegou a 16 graus.
Ponto de ônibus. Dá pra ver os banquinhos ali dentro da cabine?
Ah, claro. Sangue de paulista: queria o bilhete único para ir até a Santa Ifigênia dubaiana. Tem uma avenida, bem simpática até, chama Khaled bin Al Waleed, chegável pela estação de mesmo nome, onde vende tudo quanto é tranqueira, principalmente eletrônica. A principal diferença – além de que os produtos são originais – foi no movimento: duas e meia da tarde e um monte de lojas fechadas – eles fazem sesta, tipo restaurante, sabe? De trancar a porta e tudo e só voltar lá pelas três ou quatro. A sesta é sagrada, assim como a sexta que, para os muçulmanos, é o dia que tudo fecha. Dos preço da tranqueiragem, pelo menos os anunciados nas vitrines, bem razoável. Mas ainda preciso fuçar mais por ali.
Ainda não foi assim aquele choque, até porque Dubai é bem ocidentalizada e tem muitos estrangeiros. De tanto brasileiro, português jájá vira idioma oficial. Se não virar também, eu acabo aprendendo árabe decorando a oração que o pessoal da mesquita aqui do lado faz, no alto falante, 5 vezes ao dia.
Dubai: 20 lugares pra comer e beber (inclusive álcool!)
Alguns paulistas ainda se impressionam quando eu digo que moro em Dubai: “Caramba! Morar em Dubai é top!”. Top é morar em São Paulo, meu amigo! Todo paulistano sabe que comida é o ponto forte da cidade, mas pelo hábito de ter que pagar caro por tudo, talvez acabem esquecendo que o preço é tão alto quanto a qualidade.
Em Dubai, é o contrário. É difícil achar comida boa e, se os preços não são assim tão baixos, também não assustem brasileiro nenhum. No índice Big Mac, aquele que mede o custo de vida dos países de acordo com o preço do sanduíche, o Brasil é o 5º mais caro, enquanto os Emirados Árabes Unidos estão em 27º (a diferença seria maior caso todos os países da zona do Euro não fossem agrupados em um mesmo item).
Mas fast food nunca foi minha paixão e nem o preço baixo me fez correr pra eles. Depois de dois anos girando pelo deserto mais artificializado do mundo, me sinto no direito de listar alguns lugares onde dá pra comer bem em Dubai sem deixar a carteira machucada.
ps: os endereços são esquisitões mesmo, porque os prédios ainda não tem numeração e, geralmente, são localizados pelo nome.
Barato
Interior do Zaroob. Foto: divulgação oficial
Zaroob
Comida libanesa. O aconchego da cozinha aberta e os produtos empilhados em estantes conquista, indo na contra-mão de uma cidade onde ostentar é quase um mandamento.
Sheikh Zayed Road, sem número
Shakespeare Co
Sobremesas fantásticas em ambiente de realeza. Experimente a torta de maçã com sorvete. A poucos metros do libanes Zaroob.
Sheikh Zayed Road, sem número
Zaatar w Zeit
Similar ao Zaroob, com a vantagem de ser 24 horas.
Sheikh Zayed Road, sem número
Fibbers
Escondido atrás de uma porta tímida, o pub irlandês de móveis velhos e balcão que mais parece um altar é a segunda casa dos beberrões da cidade.
Sheikh Zayed Road, atrás do Noor Islamic Bank
Serve álcool
Shogun
Coreano adora um churrasco. Sem medo de errar, peça o churrasco completo. As peças de carne vêm temperadas, mas são preparadas pelos próprios clientes, na chapa que fica no centro da mesa. A parte exótica são os acompanhamentos em pequenas porções, trazidos sem parar durante todo o jantar.
Al Ghurarir Mall, Deira
Level 43
No piso 43 de um hotel, uma vista 360 graus de toda a cidade. Comida para dividir, como espetinhos e bolinhos fritos, são a especialidade.
Four Points Hotel, Sheikhb Zayed Road
Serve álcool
Charlie’s
Mais um pub irlandês para acompanhar os esportes. Com casa lotada, a atmosfera é incrível, mas vá no finzinho de tarde para experimentar uma das melhores comidas de boteco da cidade.
Four Points Hotel, Sheikh Zayed Road
Serve álcool
Shakespeare Co tem decoração de casa de bonecas
Vista do lounge externo do Level 43
Marromeno barato
Irish Village
Não tão autêntico quanto o Fibbers, mas maior e mais espetacular. Frequentemente recebe shows e eventos.
Dubai Aviation Club
Serve álcool
Warehouse
Um pouco d tudo. No ambiente interno, um lounge térreo e uma balada no primeiro andar. O melhor fica mesmo do lado de fora, em ambiente aberto e mais casual.
Meridién Airport Hotel
Serve álcool
Asiana Hotel
Três restaurantes temáticos lindos estão dentro deste hotel: um corenao, um chinês e um japonês. Toda quinta feira, por um preço fixo, pode-se comer a vontade em todos. Se quiser ter espaço para os três, não peça mais de um prato em cada: eles são generosos.
Asiana Hotel, Deira
Serve álcool
Vapiano
Restaurante italiano que não é pegadinha. Fãs de pasta tem que ir direto pra lá. Várias unidades, mas a do Dubai Mall tem uma área externa com vista para o show das fontes em frente ao Burj Khalifa, o maior prédio do mundo.
PF Chang’s
O chinês mais famoso da cidade. Também em várias unidades, mas tendo a sua principal e mais dubaística no Dubai Mall.
Serve álcool
Nanking
O chinês mais escondido da cidade. Frequentemente vazio, faz comida que não perde em nada para o PF Chang.
Millenium Tower, Business Bay
Noodle House
O Pf Chang’s é o mais conhecido, o nanking é o mais escondido e o Noodle House é meu favorito. Comida de fazer hmmm.
Dubai Mall
Rosso Vivo
Pizza boa e ponto, nada mais que isso. Achar pizza boa em Dubai é dureza e a maioria das pizzarias, principalmente pra paulista mal acostumado, mal chega a ser razoável.
Millenium Tower, Business Bay
Wagamama
Comida japonesa é frequentemente associada a peixe cru. O wagamama serve outras delícias da culinária japonesa como bolinhos fritos de carne de pato e macarrão com frutos do mar.
Crowne Plaza Hotel, Sheikh Zayed Road
Serve álcool
Vapiano é o lugar para amantes de massas
Ainda pagável
Icho
Rodízio japonês quase como o que estamos acostumados. O preço é fixo, mas os pratos frios são servidos em buffet e os quentes tem que ser pedidos. Do 49º de um hotel, a vista da Sheikh Zayed Road é fantástica.
Radisson Royal Hotel, Sheikh Zayed Road
Serve álcool
Dunes Cafe
Um buffet com tudo que se possa imaginar: sushi, carne, salada, frutos do mar, queijos, sobremesa, bebidas e etc. Ambiente charmosos e serviço excelente.
Shangri-la Hotel, Sheikh Zayed Road
Serve álcool
Cheesecake Factory
Recentemente trazida dos Estados Unidos, a rede altamente engordativa de slow food faz sucesso em Dubai. Tudo, absolutamente tudo, é bom.
A unidade do Dubai Mall é bacana, mas a do Mall of the Emirates é melhor e com muito menos filas.
Kisaku
O Wagamama é pras massas. O Kisaku é pra comunidade. Já foi considerado o melhor restaurante japonês na Ásia, fora do Japão.
Al Khaleej Palace Hotel, Bur Dubai
Em Dubai, o metrô com classe
Faz sentido: se as estações parecem aeroportos, os trens parecem aviões – com direito a divisão de classes. Tendo uma linha em funcionamento e outra em construção, o metrô de Dubai tem trens dividos em três categorias. Duas delas são relativamente comuns: uma para mulheres e crianças e outra pra homens.
A extravagância a la petróleo é a classe Gold. Com todos os bancos de couro, assentos mais espaçados e janelas maiores, os vagões sem motorista oferecem visão panorâmica dos lados e à frente. Tem até trilhomoça.
fonte: http://blog.foreignpolicy.com
A expansão da rede de metrô, assim como de toda a cidade, teve seu ritmo avassalador prejudicado pela crise de 2008. Quando a recessão chegou, o projeto de mais duas linhas, que já estavam desenhadas e prontas para serem erguidas, foi parar na gaveta e nunca mais saiu.
Austrália: via Santiago, Buenos Aires, Johannesburg ou Dubai?
Enquanto não há um vôo que faça São Paulo / Sydney sem escalas, quem vai pra Austrália tem algumas opções pra ganhar um carimbo a mais no passaporte. Todas merecem paradas, de duas ou até mais noites.
Johannesburg pode ser a excessão porque não é amor a primeira vista. Se beleza não conta, é no mínimo interessante observar como se comporta uma metrópole no coração da África, com todos os prós e contras que um país em desenvolvimento está acostumado – crescimento rápido sem estrutura física, centro abandonado e subúrbios podres de ricos, etc. Atrações como o Museu do Apartheid são únicas, além do estádio Soccer City, que sediou a abertura e o encerramento da Copa do Mundo de 2010. mais sobre Johannesburg
Tratando da passagem, voar pela South African é, geralmente, o melhor custo benefício das quatro opções, numa disputa acirrada com a Qantas. A diferença é que a australiana Qantas vai por Santiago. A capital continua sendo uma grande estrela. Discreta, é verdade, e quase sempre usada para paradas para outros pontos de maior interesse do Chile, como o deserto do Atacama. Em constante desenvolvimento, Santiago é uma cidade organizada e misteriosa com muito para ser visto além da casa de Pablo Neruda e a sombra da gigante que fica do outro lado dos andes, Buenos Aires. mais sobre Santiago
Buenos Aires que, talvez, seja a melhor opção das escalas. O triste é voar Aerolineas. Mesmo que a tarifa seja atrativa, pense algumas vezes antes de embarcar, até porque a Qantas também tem vôos a partir de lá. Pela parada, é quase impossível se arrepender. mais sobre Buenos Aires
Já Dubai, é uma escolha inusitada. O trajeto mais cumprido, porém, o mais bem servido. Não há grandes pechinchas na Emirates ou nas diárias dos resorts da cidade mais extravagante das Arábias mas, certamente, este é o caminho com mais mordomias.