Newcastle: quase Escócia

Qualquer lugar que mescle futebol e cerveja já ganha minha simpatia, de cara. Pode haver outros motivos também, até melhores, mas povo que bebe e torce com paixão não pode ser coisa ruim.

Mais de 400 kms longe de Londres, Newcastle está bem ao norte da Inglaterra e, como comprova o sotaque, bem pertinho da Escócia. Só não comente nada disso perto de um local, quando para eles a Inglaterra continua sendo tão principal, enquanto a terra dos homens com saia é apenas um anexo.

Newcastle tem um time de futebol que, se não é dos mais fortes, continua tradicional e respeitado por qualquer grande da Inglaterra. E o estádio… bom, faça uma busca por figuras no Google pra ver se eu estou exagerando se disser que é sensacional – uma caixa linda, ousada, não tão sólida como manda a arquitetura bretã, mas que comporta mais de 50 mil pessoas com conforto e segurança. Será utilizado, inclusive, para as Olimpíadas de 2012.

Estação Central de Newcastle

De uma forma geral, não sei como ingleses e alemães fazem, mas pode jogar time que não ganha nada contra time que nunca ganhou coisa nenhuma e o jogo lota, seja qual for a capacidade do estádio. E não é porque é Europa, não. Na Itália, por exemplo, até jogos do Milan tem publico fraco, às vezes. Alemanha e Inglaterra têm, sem dúvida, os maiores “Paysandus” e “Santa Cruz” do Velho Mundo – tradição importa mais que a divisão.

Mas é claro que, uma vez que estaria lá, não custava nada ver algo mais além de esportes. E qual foi a bela surpresa quando descobri que Newcastle é não só uma das cidades mais bonitas da Inglaterra, como uma das que tem a melhor vida noturna. Um cenário que passa de vila medieval durante o dia para paraíso dos bebuns ao anoitecer.

As primeira das ponte feita para atravessar o Rio Tyne

Central Arcarde, tradicional complexo de lojas e restaurantes do centro da cidade

Mesmo na primavera faz bastante frio. Deduzi que a falta de roupa do pessoal era porque aquela era a oportuniadde menos pior pra se usar a moda verão, mas me disseram que aquilo era bem normal. O cara que me disse, aliás, era autoridade no assunto, funcionário do Central Arcade, shopping construído há mais de um século no centrão e que merce uma volta, seja pra comprar uma lembrancinha ou ir a algum dos restaurantes.

Pints em pubs autênticos logo que a noite começa a cair
O sol mal caía por trás das pontes de todas as épocas que ligam Newcastle, na margem norte, a Gateshead, na oposta, e o casario do compacto centro da cidade já começava a se acender, revelando um pub colado ao outro. Os lugares que ainda estavam apagados eram bares ou boates que se revelariam mais tarde. São só 300 mil habitantes e Newcastle não figura nem entre as 10 maiores cidades da Inglaterra mas, com a fama de cidade cool, o país acabou fazendo da cidadezinha ao norte um dos destinos preferidos dos notívagos. Faz todo sentido, já que por quase metade do ano, o sol se põe as quatro da tarde na Inglaterra – as outras cidades é que estão na contramão, completou o mesmo barman, ainda no Central Arcade, antes de me me indicar uma passada no cais.

Millenium Brige: ponte inclinada e que muda de cor
No cais, entrei no Pitcher Bar & Piano, da mesma rede que tem filiais em Londres e Birmingham. A pompa da fachada envidraçada engana – um bar que parece ser para executivos fazendo negócios não passa de um pub super agradável e relaxado, com vista para a Millenium Bridge, uma ponte inclinada (muito semelhante a Puente de la Mujer, em Buenos Aires) que muda de cor e, através do reflexo no rio Tyne, transforma a iluminação de todo o porto. Em meio há tanta gente de camisa de manga curta, eu era o único que sentia a brisa do rio esfriando e tive que colocar a toca. Virei atração turística, mas pelo menos me livrei da gripe. Ainda ali, no Pitcher & Piano, percebi também que mesmo Newcastle sendo uma cidade da noite, as cozinhas fecham cedo. Está no DNA inglês, eles conseguem viver de álcool e comida é para os fracos.

Uma cidade muito mais jovem que seu aspecto medievel e muito mais bonita que suas vizinhas compatriotas. Uma parada perfeita pra uma viagem de trem pelo Reino Unido. Um prato cheio pra quem gosta de fotografar, com as centenas de ângulos que a diferença de relevo e as pontes oferecem. Compacta, agradável e para ser conhecida a pé. Se não é pra ser eleita um destino preferido, sempre vou lembrar de Newcastle como uma das melhores surpresas.

Sem contar que ainda preciso dar um jeito de voltar, porque me empolguei demais com o resto e não deu tempo de chegar nem perto do estádio.

Birmingham: compacta e agitada, ela quer sua atenção

Canais cortam os canais de Birmingham entre construções centenárias
As Olimpíadas estão aí e Londres fica mais cara a cada dia. Mesmo sem evento algum, qualquer ranking de cidades mais visitas do mundo mostra Londres lá em cima – recebendo um evento desses, então, o movimento esperado no mês de julho já vem fazendo o setor do turismo rir a tôa.

Comparar é bobagem, ignorar é mais ainda. Nenhum dos outros destinos da Inglaterra tem a mesma vibração e energia da capital, mas vale a pena dar uma passada por outros cantos que, mesmo não tão renomados, têm muito o que mostrar.

Bem perto de Londres, Birmingham começa a sair da sombra de ser mais um polo de negócios. Desde o século passado até pouco atrás, apenas uma periferia industrial que produzia para a capital. Hoje, referência de reformulação urbanística e preocupada em honrar o lugar de segunda maior cidade da Inglaterra. Assim como São Paulo e Rio, há uma rivalidade evidente entre Londres e Birmingham. De novo, assim como as duas maiores cidades do Brasil, isso só as torna ainda
mais interessantes.

Victoria Square, com a prefeitura em destaque

Ruazinhas que cortam a New Street, a principal das ruas para pedestres no centro

Como manda a arquitetura inglesa, Birmingham é cheia dos tijolinhos à mostra – muito do patrimônio arquitetônico da cidade são velhas fábricas recuperadas, transformadas em bares e restaurantes. Um deles é o Café Rouge, rede inglesa que imita cafés parisienses que, de tão simpática, sequer parece rede. A comida a boa, o ambiente é fantástico e o preço não é abusivo. Para algo mais típico, o Pitcher & Piano Bar tem mais cara de pub, com bêbados discutindo o rugby e mesas altas com vista para os canais.

Porção mista de pãezinhos, queijos e patês no Cafe Rouge: 10 libras

O bar Pitcher & Piano tem vista para os canais, onde dá pra fazer passeios de barco

Canais que, aliás, valem uma passeada de dia e, principalmente, a noite. As luzes refletidas nos rios, que antes só serviam pra dar mau cheiro à cidade, dão vida a uma das mais bem sucedidas obras de revitalização pública do mundo. Não para por aí: bem perto da região cruzada pelos canais, no centro de Birmingham, os arredores da New Street custavam ser um dos cantos mais mal frequentados do Reino Unido. Parte do mesmo projeto que reergueu a simpática grande cidade, o Bullring é um daqueles exemplos pra ficar, mesmo, na história. Não dá pra definir se é um espaço público com serviços pagos, ou um espaço privado com liberdade de acesso.

Catedral de St Martin: a diferença de relevo dá a impressão de que a torre está enterrada no chão

Victoria Square
Vários estilos arquitetônicos contemporâneos estao integrados ao marco original mais imponente da cidade: a Catedral de St Martin. A dinâmica do comércio, típica de uma cidade imigratória, dita as praças contornadas pelo comércio de luxo e popular na parte revitalizada pelo Bullring, na Birmingham das compras. As cifras, mesmo em libras, não assustam tanto assim. Frequentemente, dá pra esquecer que estamos na Inglaterra. Em meio a restaurantes indianos estrelados e barracas árabes de fast food, o fish and chips é que parece o estrangeiro.

Bem localizada, pode ser visitada em bate-volta de Londres ou em parada a caminho de Stratford upon Avon, mais esmiuçada neste outro post aqui. Não é inesgotável como Londres – que já não é, assim, uma unanimidade – mas, sim, para um gosto mais particular. Não consta como imperdível em nenhum guia de turismo mas, se é que a Inglaterra tem cara, ela está em Birmingham.

Londres me paga

Abadia de Westminster: umas das atrações mais famosas (e caras) de Londres
Se tem um lugar que retribui cada centavo do seu preço, é Londres. É cara, tem o problema da moeda – a Libra Esterlina ainda é a moeda mais forte em circulação – e a inflação vem mirando o Reino Unido. Orçamento de viagem quase sempre estoura e, em Londres, é ainda mais fácil disso acontecer. Algumas referências para que, ao fim de sua estada por lá, os gastos não sejam tão fantásticos quanto a cidade:

1 Full English Breakfast na Victoria Station £8,50
Torradas, peito de peru, cogumelo, tomate, ovo mexido, batata frita, salsicha e feijões. Como o nome diz: completo. Dentro da estação, diversos restaurantes servem.

2 Rodízio no Preto Churrascaria £19,50
Carne brasileira de brasileira de primeira, incluindo buffet de saladas. Atendimento excepcional em ambiente simples e aconchegante.

3 Abadia de Westminster £19,00
Fundada há mais de mil anos e modificada através dos tempos, abriga os sepulcros de Isaac Newton e Charles Darwin, entre outros. Uma vez na vida… por que não?

4 Táxi do Aeroporto de Heathrow £55,00 a £65,00
Tarifa até o centro (região de Westminster). Se não estiver sobrando, não cometa este atentado contra o seu bolso. Há trens expressos regulares e metrô até a estação Paddington.

5 Noite em hotel 3 estrelas
Este item é polêmico. Depende da época, da localização… como em qualquer outro lugar. Mas a não ser que um porão como o que o Harry Potter dormia na casa dos tios seja suficiente, reserve pelo menos £70,00 por dia.

6 Oyster Card £5,00
Cinco pounds só pra receber o cartão, equivalente ao bilhete único. Depois disso, precisa de crédito pra qualquer viagem. De qualquer modo, a maneira mais tranquila de usar qualquer transporte público sem ter que ficar calculando tarifas de acordo com as zonas e os horários. Se contar que, em caso de integração, o cartão sempre te deduz da forma mais econômica possível.

7 Ingresso para jogo do Arsenal no Emirates Stadium £53,00
Para a Premier League (Primeira Divisão da Inglaterra), sem que o adversário seja nenhum dos arquirrivais. Arquibancada do anel superior, na lateral do campo.

8 Um Pint £4,00
Se não der pra entrar no estádio, sente-se num pub e peça um copão de cerveja. Afinal, são 50 pounds a menos.

9 London Eye £18,60
Consolidada como uma das maiores atrações turísticas de Londres, o Olho de Londres fere a vista quando observado da margem oposta do Tâmisa, mas oferece o panorama mais abrangente da cidade. Preço para um adulto, na bilheteria.

10 Guarda Chuva £20,00
Lei da oferta e da procura né… em Londres, mais essencial que carteira e documento.

*Os preços são aproximados e baseados em viagem feita em setembro/2011

Fotografe o Big Ben

Mesmo que Londres não se limite a ser um relojão e o sangue real já não seja o único que circula na cidade, de vários e vários pontos, o Big Ben e Parlamento se impõe na paisagem. Alguns ângulos para fotografar a maior atração turística londrina:

Parliament Square
Desta praça, localizada atrás do complexo das Casas do Parlamento, consegue-se alguns ângulos bem interessantes, como este da foto principal do post.

Da esquina da Parliament Street com a Bridge Street, é possível enquadrar tudo – do Big Ben à Victoria Tower.

Vista de uma das esquinas da Parliament Square

E seguindo um pouco mais ao sul pela St Margaret Street, no largo que se forma entre as costas do Parlamento e da Abadia de Westminster, um close na estátua de Ricardo I faz a arquitetura do palácio se exibir quase que como uma textura.

Detalhes da arquitetura do Parlamento

Westminster Bridge
Indo de metrô, descendo na estação Westminster e seguindo a sinalização mais óbvia, esta será o primeiro contato frente a frente com o Big Ben. Ainda em tempo: a estação também é linda. Visto da ponte, ainda do lado do Rio Tâmisa onde o Parlamento está, ele se mostra mais ou menos assim:

Da Westminster Bridge, do mesmo lado onde está o Big Ben

E do outro lado, onde está o Aquário, ainda dá pra enquadrar a ponte junto ou utilizar os detalhes na parte de baixo dos postes de iluminação.

Do outro lado do Rio Tâmisa, agora enquadrando a Westminster Bridge

Deste mesmo lado, também está o London Eye, a roda-gigantassa estrategicamente colocada bem na frente do Big Ben porque, como diz a lenda, quando a neblina desce não dá pra ver nem 100 metros à frente.

De dentro de uma das cápsulas do London Eye, o Big Ben fica pequenininho

Ainda pelas pontes, da Lambeth Bridge dá pra conseguir ângulos mais basicões, como este bem do meio da ponte,

Desta ponte, a Victoria Tower (à esquerda) parece deslocada das casas do Parlamento

ou este, menos comum, do Victoria Tower Gardens, com a torre central como protagonista e escondendo o Big Ben.

E ao norte, quando você acha que já está a certa distância – a 3 ou 4 quarteirões -, já na Trafalgar Square, ele se exibe mais uma vez.

Londres é o mundo, agora faz sentido

Foi a primeira vez que pisei em uma das metrópoles do trio de ferro (Nova York, Paris, Londres). Sem nunca ter estado em nenhuma das três cidades mais cobiçadas do mundo, Londres sempre foi a que mais me atraiu. Por algumas razões, muitas delas questionáveis, eu sentia que era daqueles lugares onde se podia estar por umas 10 vezes, sem enjoar.

Eu duvidada, por exemplo, que uma cidade desse tamanho tivesse dificuldade em fazer boa comida. Mas é verdade – nem os mais de 10 milhões de habitantes (e uma metadinha deles deve ser de estrangeiros) conseguiram fazer dela uma cidadassa, ao menos deste ponto de vista. A ambição está lançada a quem queira tornar Londres um polo gastronômico.

Parlamento inglês ao anoitecer

Mind the gap, ou cuidado com o vão, é a lei do metrô de Londres, o tube
O que não significa também, que não há coisa boa, apenas que tem que ser bem procurada. Foi no Preto Churrascaria (72 Wilton Road, próximo do metrô Victoria), um restaurante que serve adivinha que tipo de comida, que encontrei uma delas. Lá, minha maior expectativa sobre essa viagem fez sentido: Londres é o mundo. Ao meu redor, gente almoçando de terno e gravata e garotas quase sem roupa com uma bolsinha minúscula na mesma mesa. Não importava o que eles eram, não tinha essa de garçom ou cliente – todo mundo ali tinha só um rótulo: brasileiro.

Artistas de rua na Westminster Bridge

Trafalgar Square
Sem contar que não comia Picanha (com maiúscula, mesmo!) com farofa havia uns 10 meses e o rodízio acompanhado de guaraná me pôs no céu. Parece que 10 meses não é muito mas, nesse tempo, o ano já trocou, um bebê fabricado lá atrás já nasceu e até o Adriano quase voltou a jogar.

E tocando no assunto futebol, quem sabe não presenciei o surgimento de um ídolo? Brasil e Gana, 1×0, gol de Leandro Damião – que agora está na moda mas, antes de jogo, só era conhecido por quem acompanha futebol. No estádio do Fulham que, apesar de bem estruturado teve a pior organização de um jogo de futebol que eu já vi. Brasileiros e ganeses lotaram 25 mil lugares quase meio a meio pra mostrar a força da diversidade da capital inglesa. E sem separação de torcida nos principais setores – eu tive um ganês de cada lado e estávamos tirando sarro um do outro.

Abadia de Westminster

O outono, estação mais gostosa pra viajar, se apresenta nos jardins da Abadia

Cápsula da gigantesca London Eye
Completamente infinita, Londres pode ser meio assustadora a primeira vista mas, pra quem nasceu e cresceu no meio de um lugar tão grande e movimentado quanto, esse é o fator chave que te dá a sensação eu moraria aqui . Trânsito, gente indo e vindo, metrô cheio, bairros com personalidade própria que são mini-cidades e um orçamento que estoura fácil são atributos que não são qualidades, necessariamente. Vai ver é aí que está o charme de um lugar que não se conquista fácil, mas que alimenta seus sonhos: os gregos, italianos, indianos e latinos que o digam, estão por toda parte em busca de uma vida melhor e revelando que Londres puramente já não existe mais – a identidade pós-imigratória já está formada e experimentar uma pasta já é experiência tão típica quanto um fish and chips. Vendo tanta internacionalidade, ficou mais fácil de entender também como alguém que vêm da China, por exemplo, pode sofrer tanto porque o Arsenal não conquista nada faz tempo.

Londres é a capital de um país que não emite passaportes (para ingleses, escoceses, galeses e norte-irlandeses, quem emite é o Reino Unido), mas tem o orgulho do tamanho de um continente, já que frequentemente se considera fora da Europa. Movimentos políticos e culturais expressivos, como o Punk, surgiram ali. Foi a primeira cidadona dessas formadas pelo capitalismo e viu a primeira linha de metrô também. Londres viu um estuprador real, que mutilava suas vítimas, tornar-se símbolo de cool e o melhor detetive do mundo, embora nunca tenha existido, ainda recebe cartas. É triste sair de um lugar com tanta história, esteja ela acontecendo de fato ou apenas na imaginação. De fato, acho que as 10 visitas podem não ser suficientes.

Londres real: a troca da guarda

Real pode vir de realidade, pode vir também de realeza. Londres tem dos dois e, mesmo mais cosmopolita a cada dia, ainda preserva rituais do posudo estilo de vida monárquico. A Troca da Guarda no Palácio de Buckingham é sem dúvida o mais tradicional de todos. Um pouco mais pop, talvez – a banda toca de Together, Forever a Thriller – mas ainda extremamente disciplinado, como uma demonstração militar deve ser.

Palácio de Buckingham

Mesmo com chuva, bastante gente aparece
A guarda real se exibe as 11:30 da manhã, para centenas de pessoas que se aglomeram em frente ao portão do palácio. Como é gratuito, o esquema é “quem chega primeiro, fica melhor posicionado”. Nem a chuva londrina – que é ainda mais frequente que o show, apesar dele ser diário – espanta.

Até Thriller e Together, Forever estão na trilha da bandinha
E mesmo assim, poderia ser mais lotado. O que faz muita gente se perder no caminho é a confusão criada ao se associar a demonstração turísitca mais famosa da cidade, a Troca da Guarda, com o prédio mais famoso da cidade, o Parlamento. O evento acontece no Palácio de Buckingham, que é a residência real e onde moraram, moram e sempre morarão as Elizabeths. Já o Parlamento é o símbolo maior de Londres, um prédio de arquitetura mais imponente e onde está o Big Ben. Normal, vai… quem nunca (parte censurada para cariocas) confundiu o Corcovado com o Pão de Açucar?

Durante a cerca de uma hora de espetáculo, várias formações são mostradas. No meio de tanta sincronia, de fardas tão idênticas e ostensivas, chega a ser estranho quando os guardas se aproximam da grade que separa o público do palácio e dá pra ver os rostos deles. Foi quando eu me toquei: há pessoas dentro dos uniformes e, ao contrário do que els podem sugerir, cada uma delas é bem diferente da outra – de várias idades, aparências e ambos os sexos, inclusive.

Portões são a parte mais bonita do palácio

Até em alguns momentos de monotonia, assistir a troca de guarda é interessante. Primeiro porque, morando em Londres, a chance de alguém ir lá pra ver isso é infinitamente menor que a de um visitante, mesmo que essa gratuidade só exista porque os habitantes da cidade pagam suficientes impostos. Depois, porque o Palácio de Buckingham não é nenhuma maravilha arquitetônica e, tendo os portões como a parte mais bonita, ganha outra vida com a guarda real na frente. Com os londrinos gostando ou não, é ali que a monarquia britânica funciona e, mesmo longe da realidade, sustenta a fama da realeza que promove o turismo do Reino Unido mundo afora.

Troca da Guarda Real
Palácio de Buckingham – Londres
Diariamente, às 11:30 (a não ser em condições de tempo muito adversas)
Estações Victoria, Hyde Park, St James Park ou Green Park do metrô
Gratuito

Bate volta de Londres: Stratford upon Avon para visitar Shakespeare

Conte a alguém que você está indo para Stratford upon Avon para receber um enorme “onde é isso?”. Revele que é a cidade natal de William Shakespeare e a importância do lugar, seja lá onde ele for ou como se parece, é imediatamente percebida.

A uma curta distância de Londres ou Birmingham, as duas maiores cidades da Inglaterra, Stratford ainda preserva um quê medieval que traz certa mágica para a cidade – em alguns momentos mais Sherlock Holmes, em outros mais Harry Potter, mesmo que não estejamos falando de Connan Doyle ou J.K. Rowling. São personagens que, talvez por serem mais contemporâneos, sejam mais fáceis de imaginar que Macbeth. Aquelas casas tortas, com fachada de madeira e teto de armação rústica, coberto de palha; a esta altura já devem ter passado por milhares de restaurações, é claro, mas ainda preservam a essência de um vilarejo.

Como não poderia deixar de ser, a maior atração é a casa onde nasceu Shakespeare. Antes que se possa dizer que ele foi o maior dramaturgo da história ou coisa do tipo, é só lembrar que todo
mundo – absolutamente todo o mundo -, já escutou falar de Romeu e Julieta. E diferente de outras peças famosíssimas dele como Otelo, essa é uma que todos sabem o que se passa. Sem contar o desgastado “ser ou não s… blá blá blá” de Hamlet, repetido há mais de 400 anos.

Shakespeare é estudado, citado, representado e explorado há séculos. Na cabana simples, porém espaçosa, em que nasceu, há inscrições nos vidros da janela do quarto onde o parto foi feito, gravadas ainda no início do século 19. Em outras palavras, o assunto Shakespeare é tão velho, que lá pra mil oitocentos e tantos, Stratford já era ponto turístico.

Shakespeare está para Stratford como Mozart para Salzburgo ou Tiradentes para – dãããr – Tiradentes. O nome da personalidade fez o nome da cidade. Até por isso, é um pouco difícil fugir da overdose, mesmo fora do eixo principal, a Henley Street. De fato, ao invés de marcar ponto em todas as locações que fizeram parte da vida do genial autor, vale a pena tirar um dia inteiro para caminhar pela cidade a esmo e com calma, apreciando todos os detalhes.

A partir de Londres
Trens frequentes, a partir da Marylbone Station
Aproximadamente 2h30m
15 Libras

A partir de Birmingham
Trens frequentes, a partir da Moor Street Station
Aproximadamente 1h00
6,50 Libras

ps: após 15 dias de gafe publicada, fui salvo pela Lê (pode chamar de Leandra Franco Lessa também), que avisou que eu associei a frase “ser ou não ser…” a Otelo quando, na verdade, é de Hamlet.