Montenegro, o terceiro país mais jovem do mundo

Se fosse Grécia, pareceria mais perto mas, só por estar no leste europeu, já fica mais distante. Se fosse Croácia, seria muito caro – já faz um tempo que a dona de Dubrovnik (cidade comentada neste outro post) está em alta. Se fosse Sérvia ou Albânia, pareceria muito velho e sisudo. É assim, querendo se livrar de qualquer rótulo dos seus vizinhos que, Montenegro, a terceira nação mais jovem do mundo, vai em busca de identidade.

Faça uma busca por imagens de Montenegro. Viu essa quase-ilha, conectada à praia por um fiozinho de areia? Costumava ser Sveti Stefan, uma das cidades históricas do minúsculo país balcânico, mas agora é um hotelzasso feito só pra olhar – a menos que se esteja disposto a gastar alguns milhares (faz diferença dizer a moeda?) por poucos dias.

Jovem e nanico, com menos de 10 anos de independência, o país tenta vender imagem de exclusividade. Eu fui um dos enganados, mas gostei – viajar por Montenegro é muito mais barato que parece. Mesmo em agosto, um mês fundamental pra quem depende da alta estação, quartos de 30 Euros (para duas pessoas) estão disponíveis por toda parte pra quem quiser fuçar à moda antiga, de porta em porta. Parece que todos os cômodos são alugáveis, todo mundo que tem sua casa de verão quer fazer um dinheirinho extra.

Oficialmente, Montenegro é independente desde 2006, mas o contrato continua com a mesma razão social – é o pedaço de litoral mais próximo e amigável dos sérvios, que passam por lá os seus verões. O monte negro, mesmo, que fica mais pra dentro do país, é pra quem já está enjoado dos vilarejinhos pitorescos, debruçados no mar. Pra mim, que estava lá pela primeira vez, ele serviu só pra embelezar a paisagem de fundo e como motivo para voltar um dia.

São nove horas de estrada, desde que se atravessa a fronteira com a Sérvia, até qualquer uma das cidades da Baía de Kotor, a área nobre, por assim dizer. Um recorte de litoral que recebeu tanta atenção da natureza, quanto do homem – a cordilheira de picos pontiagudos, enfeitada por pinheiros gigantes que lutam por espaço, comprime uma piscina clara e calma, que muda de cor a cada hora do dia.

De lá do alto, em um dos muitos pontos panorâmicos, as cidadezinhas minúsculas de Kotor, Herceg Novi e Perast parecem ainda menores. Os barcos desenham na água e dão pista sobre os trajetos que fazem entre elas e, bem ao centro da baía, duas ilhotas: São Jorge (Sveti Đorđe), onde há um mosteiro sombrio e misterioso, não pode ser acessada; já a Nossa Senhora das Rochas (Gospa od Škrpjela) foi construída pelo homem, por mais de 200 anos, para ser a fundação de uma igreja – a história é bem cliché (um retrato de Maria estava no mar / retiraram / no dia seguinte ele aparecia por lá de novo / repete), mas o viagem até ela, não.

Religiosos, os montenegrinos se dividem em cristãos: católicos ou ortodoxos. Incrível, aliás, como a mesma crença, na mesma história, com os mesmos personagens e cenários pode gerar tantas religiões, mesmo que elas tenham sido fundadas com a mesma essência. Mas com fé ou sem, este é o momento mais bonito da viagem. Na ilha, são 360 graus de uma beleza inacreditável.

De carro, dá pra atravessar o litoral todo de Montenegro em menos de duas horas, mas não faz sentido ter pressa. A grandeza de um lugar não pode ser medida pelo seu tamanho. A simplicidade do ritmo vivido nas casas dos locais, que querem mesmo é ver o tempo passar devagar, bate o glamour de qualquer hotel novíssimo, desses construídos pelas fortunas russas. Não hesite em ficar em um dos balneariozinhos mais calmos, construídos em antigas vilas de pesca, como Djenovici – ficando em algumas das cidades históricas, a chance de você conhecer um desses é muito pequena. Sim, porque nem todas as cidades começaram há milhares de anos. Algumas são apenas para férias, mas o tamanho diminuto ainda dá bastante charme.

Depois de ser recebido em Belgrado, na Sérvia, por agentes de imigração que andam armados, a sensação de estar em um país mais relaxado era inevitável. A facilidade que essas novas nações tem em tornar-se tão nacionalistas mostram o quanto o leste europeu nunca foi, assim, unido.

Aguarde o próximo post… =D

Mais sobre países balcânicos e o leste europeu:
Uma história para uma foto: Dubrovnik, Croácia
Nem feliz, nem triste: Belgrado, capital da Sérvia, escolheu ser nostálgica
Praga, na República Tcheca, não está mais escondida, muito menos revelada
Rússia: antes que tudo pareça impossível
Turismo soviético: por onde fazer