Los Angeles, no mundo do faz de contas

Los Angeles, no mundo do faz de contas
Se a metrópole é um destino que dispensa apresentações, visitar (ou revisitar) os lugares que fizeram a sua fama é uma boa maneira de descobrir que a cidade ainda é apaixonante
Marcelo Spatafora

O simpático trem funicular, que opera desde 1901Coloque de lado o glamour obtido, há décadas, pelos principais astros do cinema no tapete vermelho do Kodak Theatre (agora Dolby Theatre), que, na verdade, se estende por toda Hollywood Boulevard, fechada ao tráfego. Nem sempre foi assim. A segunda maior cidade dos Estados Unidos, hoje com 4 milhões de habitantes, nasceu na longínqua localidade de Nossa Senhora dos Povos dos Anjos de Porciúncula, na qual predominavam os campos de cevada. Já no século 19, a especulação imobiliária se transformara em realidade, com os nativos que chegaram primeiro se curvando ao ímpeto pioneiro de um milionário americano. Surgiam, então, os distritos e os condados marcados pelo sol praticamente o ano todo: nascia Los Angeles.

E ele realmente brilha para todos, como determina a diplomacia de resultados, respaldada pelos poucos artigos da constituição americana. Nada como uma neighbourhood multiétnica representada por Chinatown, Little Japan e toda a marcante ascendência latina. Tal epopeia mereceria um blockbuster para evidenciar tantas nuances da “cidade-meca” das produções musicais, de cinema, televisão e até games. Nada que os pioneiros não imaginassem.

Os primeiros produtores de cinema chegaram em 1907 fugidos de Nova York, pois lá se cobrava muito caro pelo aluguel e a patente de equipamentos. Optou-se então pelo agreste, a paisagem desértica que surpreendeu a maioria dos americanos. O Poder do Sultão foi inteiramente rodado na Califórnia e serviu para pavimentar a chegada dos grandes estúdios a uma região inóspita, mas, na prática, efetivamente rentável. Paramount, MGM, FOX, Universal. Durante décadas os clássicos marcaram a tela grande com Charles Chaplin, Al Pacino, Jack Nicholson, Robert de Niro, Tom Hanks, Brad Pitt. Até contribuíram para tornar um austríaco, Arnold Schwarzenegger, o governator, digo, governador da Califórnia.

Atualmente, as grandes produções deixaram de ser necessariamente rodadas nesse cenário. Espanha, Bélgica, Praga e Veneza, entre outras, viraram locações ideais para conhecidos diretores e até aspirantes a tal. Mas os angelenos e turistas continuam a respirar filmes. Em qualquer roteiro tímido será possível reconhecer o mundo futurista de Blade Runner, O Caçador de Androides, e até o campo da batalha final de Transformers. A preocupação dos responsáveis pelo turismo é relembrar isso, sofisticando o linguajar, e os exemplos, ao garantirem que L.A. será a capital da cultura do século 21.

A cidade rivaliza com Nova York e não esconde o objetivo de virar a número 1. E ninguém se furtou a tomar emprestada a nomenclatura da Big Apple. Downtown é o coração da cidade, centro financeiro verticalizado, restaurado e imponente, onde ícones art déco dos anos 1930 convivem com modernos arranha-céus dos mais representativos setores da ainda combalida economia. O compositor brasileiro Tom Jobim costumava dizer que a melhor maneira de visitar as ruas de Nova York era deitado numa maca. Podemos usar o mesmo raciocínio para L.A. tamanho o número de edificações: um teste de força para pescoços desacostumados a tal exercício de repetição. Destaque ainda para a suntuosidade dos prédios nos quais estão instaladas as mais famosas consultorias americanas. Elas, além de não preverem o quase-crash da era Obama, continuam lucrando ao qualificar a saúde financeira de outras economias mundo afora. No âmbito local, a crise ainda mexe demais com os brios dos americanos.

Nessa região, ainda é fácil esbarrar em importantes marcos culturais, como o Museu de Arte Contemporânea, o Dorothy Chandler Pavillion, que também já abrigou a entrega do Oscar por muitos anos, o Plácido Domingo e a L.A. Opera. O Walt Disney Concert Hall, obra do arrojado arquiteto Frank Gehry, que nasceu no Canadá, mas escolheu Los Angeles para viver, pede uma visita por causa de seu formato futurista. E se as apresentações de orquestras o fascinam, desde 2003 o Concert Hall é a casa da Orquestra Filarmônica de Los Angeles. Volte à noite para os shows: satisfação garantida.

Em Downtown, ainda se leva a sério a dobradinha cultura e lazer – o Staples Center, casa do Los Angeles Lakers, é imperdível. O complexo demonstra que o arrojo somado a investimento mudou o destino degradado da região. No total foram investidos quase US$ 3 bilhões e agora há fartura de bares, restaurantes, hotéis e escritórios. Numa só noite 50 mil pessoas podem se divertir confortavelmente por ali.

Se há um local onde a vida cultural acontece é DTLA. Quer um pouco mais de história misturada a renome? Vale a pena visitar o Grammy Museum Live. Em um prédio novíssimo estão representados os principais ícones da música que receberam prêmios e doaram documentos pessoais, roupas e outros adereços. E não resista aos gifts da lojinha: com uma garimpada atenta, é possível encontrar presentes diferenciados a preços nada abusivos.