Tiradentes

Tiradentes, nome pelo qual é conhecido Joaquim José da Silva Xavier, foi uma figura histórica marcante no Brasil, associado à luta pela independência e liberdade. Seu papel na Inconfidência Mineira fez dele um dos grandes símbolos do movimento republicano brasileiro, que buscava se libertar do domínio colonial português. Executado em 21 de abril de 1792, Tiradentes tornou-se um mártir da resistência contra os excessos da Coroa portuguesa, sendo lembrado até hoje como um herói nacional.

Quem foi Tiradentes?

Nascido em 1746, na então capitania de Minas Gerais, Tiradentes era um militar brasileiro, alferes dos Dragões Reais de Minas, e exerceu diversos ofícios, como dentista, minerador e comerciante. O apelido “Tiradentes” advém de sua atuação como dentista amador, profissão que lhe rendeu certo destaque local. Além de dentista, tentou outras profissões, mas encontrou estabilidade apenas como militar, onde alcançou o cargo de alferes (posto militar inferior ao de tenente).

Foi no contexto de Minas Gerais, onde a exploração do ouro era intensa e as políticas da Coroa muito rígidas, que Tiradentes se envolveu na Inconfidência Mineira, um movimento separatista inspirado pelos ideais iluministas e pela independência dos Estados Unidos (1776).

Antecedentes da Inconfidência Mineira e o Papel de Tiradentes

Na segunda metade do século XVIII, a exploração do ouro nas minas brasileiras entrou em declínio, mas as exigências tributárias de Portugal permaneciam elevadas. O quinto (imposto de 20% sobre o ouro extraído) era cobrado rigorosamente, e as dívidas acumuladas levaram à imposição da derrama, uma cobrança forçada que obrigava os mineradores a quitarem seus débitos com seus bens, caso não tivessem ouro suficiente.

Esse cenário alimentou o descontentamento da elite local e das classes que lidavam com a exploração e o comércio de ouro, fomentando o desejo de liberdade do domínio português. Inspirado pela independência norte-americana e influenciado por pensadores iluministas, Tiradentes se uniu a um grupo de inconfidentes — intelectuais, poetas e oficiais militares, entre eles Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga — com o objetivo de romper os laços com a metrópole.

A Conspiração e o Papel de Propagandista de Tiradentes

Embora Tiradentes não fosse um intelectual como alguns de seus companheiros, ele desempenhou um papel central na propagação das ideias inconfidentes. Carismático e entusiasmado, viajava pelas vilas de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, onde falava sobre a necessidade de revolta contra o domínio português. A partir de 1788, a conspiração foi ganhando corpo, e o grupo começou a planejar o levante para coincidir com a derrama, aproveitando o descontentamento popular.

Tiradentes, mais fervoroso e ousado, chegou a propor a morte do governador da capitania, o Visconde de Barbacena. Ele acreditava que a independência de Minas Gerais era essencial para que o Brasil se libertasse da “exploração portuguesa” e insistia que a riqueza mineira não deveria sustentar a Europa, mas os próprios brasileiros.

O Desmantelamento da Conspiração

A conspiração acabou frustrada quando Joaquim Silvério dos Reis, um dos envolvidos, denunciou o movimento às autoridades portuguesas em troca do perdão de suas dívidas com a Coroa. Em 1789, Tiradentes e outros conspiradores foram presos e submetidos a julgamento, onde muitos negaram participação para tentar escapar das punições.

Diferentemente de seus colegas, Tiradentes assumiu a responsabilidade pelo movimento e declarou abertamente seu desejo de independência. Essa atitude foi usada pela Coroa para transformá-lo em um exemplo e desestimular qualquer tentativa de rebelião. Ele foi o único condenado à pena de morte, enquanto os demais inconfidentes foram exilados ou perdoados.

Execução de Tiradentes

No dia 21 de abril de 1792, Tiradentes foi enforcado publicamente no Rio de Janeiro. Após a execução, seu corpo foi esquartejado, e as partes foram expostas em locais estratégicos, como um aviso aos demais colonos. Sua cabeça, por exemplo, foi colocada em Vila Rica (atual Ouro Preto), local onde a Inconfidência Mineira havia se desenvolvido.

A Imagem de Tiradentes como Herói Nacional

A figura de Tiradentes foi resgatada como símbolo de resistência durante o século XIX, especialmente no contexto do movimento republicano brasileiro. Com a Proclamação da República em 1889, Tiradentes foi promovido como herói nacional e associado à luta contra a opressão. Sua execução e seu perfil combativo o tornaram uma representação da resistência contra o regime monárquico, ajudando a legitimar os ideais republicanos.

Em pinturas e representações populares, Tiradentes foi retratado como uma figura semelhante a Jesus Cristo, reforçando sua imagem de mártir. Esse processo de construção da memória histórica transformou o alferes em símbolo da luta pela liberdade no Brasil.

Criação do Feriado Nacional em Homenagem a Tiradentes

A morte de Tiradentes, em 21 de abril, foi decretada feriado nacional pelo governo republicano, inicialmente em 1890, pelo presidente Deodoro da Fonseca. Esse dia é celebrado em todo o Brasil como um tributo a Tiradentes e à luta por liberdade e independência.

Atualmente, o 21 de abril representa não apenas a memória do movimento inconfidente, mas também um dia para celebrar a coragem e o sacrifício de Tiradentes, cujo nome tornou-se sinônimo de luta por uma pátria soberana e independente.