Sabores de Paris

Sabores de Paris
Nossos especialistas em gastronomia levam você às melhores carnes, às baguetes mais frescas, aos bares mais simpáticos e aos mercados de rua mais secretos da capital francesa

De baguetes crocantes aos `macarrons` tons pastel, Gérard Mulot é um festival de cores
A pâtisserie secreta: Gérard Mulot
Jeremy Lee, o principal chef do Blueprint Café, em Londres, visita Paris regularmente e nos conta onde encontrar os croissants mais perfeitos da cidade.

A Gérard Mulot é uma pâtisserie esplêndida em St. Germain. É fácil encontrá-la: procure uns toldos brancos e uma imponente torre de macarons (biscoitos) na vitrine. Você até sentirá o cheiro antes de vê-la. O aroma de manteiga derretida se espalha pelo quarteirão. Lá dentro, a primeira coisa que chama sua atenção são as cores: morangos reluzentes como joias sobre tortas de frutas e caixas de doces em tons de pistache, limão e rosa, que é a cor de assinatura da Gérard Mulot.

A casa faz tantas coisas, e tão bem, que é difícil destacar uma delas. Há uma torta de espinafre terrivelmente boa e quiches pequenos e apetitosos. Particularmente, tenho de levar um saco grande de croissants cada vez que vou ali – são maravilhosos. Adoro também os doces de castanha cobertos de chocolate e o religieuse: dois coques de massa folheada leve recheados de crème pâtissière e com uma crosta de café. Por fim, você pode avaliar uma pâtisserie pela baguete – e a da Gérard Mulot é imbatível. Nunca consigo esperar para comer, e começo a arrancar pedacinhos na rua – provocando olhares estranhos da clientela chique. St. Germain é um bairro de moda, portanto, espere ver princesas russas e modelos circulando por ali. Mas a Gérard Mulot é também um negócio familiar que está ali há décadas, permanecendo fiel a suas origens.

A Gérard Mulot não fica longe do Jardim de Luxemburgo, por isso, compre ali o que você precisa para em um piquenique. Um dia de sol com guloseimas da Gérard Mulot…a vida não pode ser melhor do que isso.

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• 76 Rue de Seine, 75006 Paris
• Torta de espinafre € 25; religieuse € 4; caixa com seis macarons € 10
Roberto Frankenberg
Junte-se aos locais no La Cagnotte para ter um ideia do que é a vida no bairro de Belleville
Junte-se aos locais no La Cagnotte para ter um ideia do que é a vida no bairro de Belleville
O bar secreto: La Cagnotte de Belleville
Trish Deseine escreve sobre culinária e cozinha. Nascida na Irlanda, vive em Paris há 20 anos e apaixonou-se por esse bar no coração boêmio da cidade.

O La Cagnotte de Belleville é bagunçado, mas perfeitamente parisiense. Fica próximo de meu antigo apartamento, por isso, o descobri quando me mudei. Naquela época, era insuportável ficar ali dentro por causa da fumaça dos cigarros e assim eu me sentava do lado de fora – há um terraço maravilhoso, em uma esquina da Rue de Belleville.

Aberto das 7h às 2h, o La Cagnotte é um típico bar de vizinhança. De manhã, você vê trabalhadores tomando às pressas um café expresso e mães com carrinhos de bebê. E durante o dia, vê artistas plásticos e músicos, com todo o tempo do mundo, sorvendo com calma seus pastis ou panachés. E então surgem os homens de terno e pedem seu café: “Un double”. Mais tarde, o movimento é bastante animado, com pessoas conversando, sonhando, fumando e bebendo ao som de muito rock: Stones, Smiths e Velvet Underground.

Em meio a isso tudo, pode-se ouvir a risada de Charlie – que começa tão de repente quanto termina. Charlie é o dono do bar, um homem grande, de cabelo preto, com um gosto impecável para música e que sabe quando conversar e quando simplesmente servir. E ele se lembra de como você prefere seu café e seu vinho. Vou de manhã cedo para o café e tarde da noite para um vinho petit quincy, très frais (bem fresco).

Minha mesa favorita, à noite, é “la banquette”, junto à porta (très romantique). De dia, escolho uma mesa nos fundos do terraço. Quando me levanto às 7h, antes de comer, gosto de sentar em silêncio no bar, com meu noisette (café expresso com um pouquinho de creme) e uma colher de mousse de leite que Charles acrescenta. Nenhuma comida é servida ali, a não ser croissants de manhã. Mas Charlie faz vista grossa quando você leva um sanduíche. O La Cagnotte é um lugar simpático, quase protetor, animado até a hora de fechar, e muitas vezes depois.

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• 13 Rue Jean-Baptiste Dumay, 75020 Paris
• Café com leite a € 2,70 no balcão e € 3 à mesa; petit quincy a € 4
Roberto Frankenberg
Queijo de cabra é a especialidade da pequena `fromagerie` de Pascal Trotté
Queijo de cabra é a especialidade da pequena `fromagerie` de Pascal Trotté
A casa de queijos secreta: Fromagerie Trotté
Apresentadora de programa culinário na Inglaterra, Sheila Dillon revela sua predileção por essa loja parisiense pequena, mas que é grande quando se trata de queijos.

A Fromagerie Trotté é uma lojinha minúscula no Marais. Duas pessoas mal conseguem ficar lado a lado ali dentro, mas isso faz parte de seu charme peculiar. O dono, Pascal Trotté, vende uma seleção bastante pessoal de queijos, dispostos em prateleiras que se estendem pelos dois lados do espaço apertado. Ele é especializado em queijo de cabra – você sente o cheiro no momento em que abre a porta – e vende variedades que você nunca viu. Meu favorito é o figuette, um queijo pequeno, branco e estriado, que parece um figo. Um figuette, uma baguete crocante e um pêssego maduro formam um piquenique perfeito.

Você vê muitas pessoas da área comprando um pedaço pequeno de queijo para o almoço, bem como pessoas que vêm de longe porque sabem sobre os queijos. A loja pode ser pequena, mas há ainda uma adega: Trotté é affineur (especialista em maturação). Os dois homens atrás do balcão podem parecer irritados, mas são gentis e dão excelente assessoria se você falar um pouco de francês.

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• 97 Rue St Antoine, 75004 Paris
• Figuette a € 2,5; Pouligny St. Pierre a € 8,5
Roberto Frankenberg
O Benoit serve pratos como escargots em manteiga de alho e ervas, além de morangos suculentos com sorvete de queijo
O Benoit serve pratos como escargots em manteiga de alho e ervas, além de morangos suculentos com sorvete de queijo
O restaurante secreto: Benoit
Principal chef do restaurante londrino Le Gavroche, Michel Roux treinou e trabalhou em Paris. Aqui, Michel revela uma brasserie centenária de Paris que ele e seu pai veneram.

Como no Benoit há 25 anos. É uma antiga brasserie em Les Halles, aberta há quase um século. Meu pai (Albert Roux) me levou lá pela primeira vez quando eu estava fazendo o serviço militar na França, e ainda lembro perfeitamente tudo o que comemos.

De entrada, comi os mais incríveis escargots com manteiga de alho, servidos na concha. Meu pai comeu uma cabeça de porco, que foi posta na mesa para ele se servir. As porções e a qualidade eram – e ainda são – fenomenais. Eles sempre põem na mesa grandes pedaços de patê e pão. Depois dos escargots, comi uma enorme tigela de cassoulet, enquanto meu pai comeu pombo. Os pudins do Benoit são clássicos. Naquele dia, comemos oeufs à la neige – suspiros flutuando num custard de baunilha – e crème brûlée: tradicional, sim, mas quando são bem feitos, como no Benoit, são imbatíveis.

Naquela época, o chef principal tinha um bigode enorme que enrolava nas pontas – do tipo engomado. No meio da tarde, ele saía da cozinha, servia-se de uma bebida rapidamente e ficava atrás do balcão enrolando o bigode e vigiando os clientes, vendo tudo o que acontecia. Fiquei meio para baixo quando ele foi embora, mas a casa nunca chegou nem perto de ser ruim, e desde que foi assumida pelo grupo do chef Alain Ducasse, o Benoit voltou definitivamente a seus dias de glória.

O salão é bonito – adoro o piso de mosaicos intricados e as grades de metal. A melhor mesa fica no meio do restaurante. O lugar não é grande e as mesas são muito próximas umas das outras, mas nessa mesa você fica no meio de tudo – da conversa, dos copos tilintando, do burburinho. Nunca peço essa mesa, mas talvez eles se lembrem de onde costumo sentar, porque sempre me põem ali. A clientela é bastante eclética. Há muita gente bem vestida, que vai ali para a experiência do menu com três pratos. Mas muitos moradores da área também aparecem para um pequeno prato e uma taça de vinho.

Minha última visita foi em janeiro deste ano. Ainda como escargots e dessa vez eles foram seguidos de ragu de crista de galo, rins e pâncreas de vitela: maravilhoso.

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• 20 Rue Saint-Martin, 75004 Paris
• Prato com nove escargots € 20; cassoulet € 28 e ragu € 41
Roberto Frankenberg
O Café Cambronne é um típico café parisiense
O Café Cambronne é um típico café parisiense
O café secreto: Café Cambronne
Lee Bennett, principal chef do Le Pont de la Tour, em Londres, costumava fugir para o Café Cambronne durante os três anos em que viveu em Paris.

Descobri o Café Cambronne nos primeiros meses em que estava morando em Paris, treinando para ser chef. A pé, fica a dez minutos da Torre Eiffel, na Place Cambronne. Eu havia saído da academia de ginástica com fome e parei para ler o menu – estava bem escrito e conciso, o que é bom sinal.

O Café Cambronne é um típico café parisiense. Há muito poucas reservas – não é esse tipo de lugar. Os clientes são, na maioria, pessoas que estão passando por ali ou frequentadores regulares. Há apenas dois ou três garçons servindo, correndo para lá e para cá para atender todo mundo. Adoro o clima agitado, com panelas batendo e gritos vindo da cozinha aberta. Você sente o cheiro das carnes e da manteiga de alho usada nos escargots assim que entra. É um lugar meio escuro, com paredes verdes e assentos de couro cor de vinho. Há um imponente mural em uma parede – uma cena de batalha das Guerras Napoleônicas (o Musée de l’Armée, no Hôtel National des Invalides, onde Napoleão foi enterrado, fica ali perto). Um longo balcão estende-se de um lado do café, e é ali que homens idosos tiram o chapéu e sentam todo dia para beber cerveja.

Adoro as salsichas de Toulouse com lentilhas, os escargots e as clássicas saladas de bistrô, bem feitas. As carnes são excelentes, e a picanha gigante, bem maturada, com molho au poivre, vale o preço. E você precisa experimentar o tiramisu – é bem leve e aerado, servido em um copinho. Um de meus prazeres é a geladeira de sobremesas nos fundos: você simplesmente aponta para a tarte tatin ou para a tarte au citron e o garçom corta uma fatia para você, perguntando se quer com creme ou creme duplo. No meu caso, ambos.

No verão, o terraço é um excelente lugar para sentar ao entardecer, quando a Place Cambronne fica repleta de luzes decorativas. Quando cheguei a Paris, me apaixonei por esse lugar imediatamente, e ver o mundo passando do terraço do Café Cambronne é uma de minhas lembranças mais felizes.

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• 5 Place Cambronne, 75015 Paris
• Salsichas de Toulouse com lentilhas por € 14; picanha au poivre € 19; tiramisu € 8
Roberto Frankenberg
Aroma dos frangos assando em espetos o levará ao mercado da Rue Mouffetard
Aroma dos frangos assando em espetos o levará ao mercado da Rue Mouffetard
O mercado secreto: Rue Mouffetard
Anthony Demetre é o principal chef e um dos donos do Arbutus e do Wild Honey, em Londres. Aqui, ele compartilha conosco as imagens, os sons e os cheiros de seu mercado de rua parisiense favorito.

A Rue Mouffetard, no 5º arrondissement, abriga o melhor mercado de rua de Paris. Minha mulher, Frederique, é de Paris, e me apresentou a esse mercado há cerca de dez anos. Se você está à procura da “antiga Paris” – o ideal romântico de ruas de pedra e mercados movimentados – este é o lugar. Você sabe que está no caminho certo quando começa a sentir o cheiro de frango assado, que se espalha pelas pequenas ruas sinuosas. Quando chega ao mercado, percebe por que: há um vendedor que mantém 50 frangos assando em seus espetos.

Este é um mercado da classe trabalhadora, e não uma atração como o mercado de Rungis. Você verá donas de casa e chefs de restaurantes próximos comprando seus ingredientes diários. Sempre paro na barraca de frutas e legumes de uma família de marroquinos franceses e levo o que for da estação. É também um mercado bastante regional – fazendeiros de toda parte vêm à cidade vender seus produtos em diversas barracas. Há uma barraca de queijos de Auvergne, onde você pode encontrar um maravilhoso queijo azul fourme d’ambert.

Agora que temos filhos, sempre nos abastecemos em Paris, e você encontra tudo o que precisa na Rue Mouffetard – desde uma crémerie para o leite e o crème fraîche, um açougue maravilhoso, uma barraca de vinhos e muitas fromageries.

Na rua, há um pequeno bar à vin, chamado Le Verre à Pied, onde você pode parar para um aperitivo e um petisco. Particularmente, gosto mais do mercado de manhã bem cedo. Com a neblina ainda baixa sobre a cidade, você pode caminhar até a Rue Mouffetard, comprar um café e uma baguete com manteiga e geleia e observar os comerciantes montando suas barracas e os moradores começando a chegar.

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• Rue Mouffetard, 75005 Paris
• Le Verre à Pied: jarra de merlot pequena, € 4; vitela com erva-doce e bleu d’auvergne, € 12 euros; crème brûlée, € 4
©Age Fotostock/ Keystock/ Keystone
Conhecer Paris é muito mais que visitar suas atrações mundialmente famosas
Conhecer Paris é muito mais que visitar suas atrações mundialmente famosas
PARA CHEGAR LÁ
Paris é uma das capitais gastronômicas do mundo e, de posse dos segredos de nossos especialistas que a conhecem bem, nunca foi tão fácil mergulhar na cultura alimentar da cidade.

DICAS BÁSICAS

Como chegar

TAM e Air France oferecem voo direto de São Paulo a Paris.

Circulando

Compre um passe diário Mobilis, para o metrô, ou o Paris Visite Pass, que inclui descontos em ingressos para atrações turísticas.

Leitura adicional

Adquira o Paris City Guide, da Lonely Planet, ou o Paris Encounter. Leia também Paris é uma Festa, de Ernest Hemingway, um passeio pela cidade que marcou a vida do famoso escritor.

TRÊS MANEIRAS DE VIAJAR

Com economia

COMPRAS

Paris é famosa por seus mercados de pulgas, e o Marché aux Puces D`Aligre é simpático e central. Encontre pechinchas em roupas, livros e objetos antigos (Place d’Aligre, Metrô Ledru Rollin).

DORMIR

Ao sul do Boulevard Saint Germain, o Hotel du Globe ocupa um prédio do século 17 e tem um bocado de personalidade, combinando armaduras, vigas de madeira e camas de dossel (€ 95).

COMER

A Créperie Brettonne é repleta de fotografias emotivas da Bretanha e tem crepes sensacionais. A apreciada cidra Val de Rance é o acompanhamento ideal (67 rue de Charonne; metrô Charonne).

BEBER

Sem passar por mudanças há décadas, o Le Petit Château d`Eau, em Bellevue, serve alguns dos melhores cafés de Paris (34 rue Du Château d’Eau; metrô Jacques Bonsergent)

Com conforto

COMPRAS

Na Librarie Gourmande, a principal livraria especializada em culinária da cidade, perto de Les Halles, você encontrará muitos livros de receita.

DORMIR

Perto do mercado da Rue Mouffetard, o Hotel Saint Christophe tem uma classe que vai além do seu preço. Alguns quartos têm vista para o Jardin des Plantes (€ 115).

COMER

No Restaurant Frenchie, ao norte de Les Halles, o chef Gregory Marchand comanda o menu sazonal com duas opções para cada prato (refeições de € 24 a € 60).

BEBER

Coquetéis experimentais (de citronela a uísque japonês), um público jovem e renomados DJs fazem a mistura do Curio Parlor Cocktail Club.

Com luxo

COMPRAS

Mercearia luxuosa, a La Grande Épicerie de Paris, a sudoeste de Saint Germain, tem de tudo: de chocolates a vinhos e queijos. É uma tentação para um piquenique, bem como para um presente especial.

DORMIR

Na Rive Gauche, o L’hôtel é um dos endereços mais prestigiosos de Paris. O luxo permeia cada canto: dos quartos suntuosos ao restaurante com estrelas no guia Michelin, passando pela piscina aquecida, sob arcos (a partir de € 270).

COMER

Em St. Germain, o Restaurant Hélène Darroze, com estrelas no Michelin, serve desde fatias de presunto noir como entrada até um carrinho de queijos no  nal (menu degustação a partir de € 132).

BEBER

Para relaxar, vá ao Le Baron Rouge, uma adega repleta de barris, depois de passar pelo mercado de pulgas próximo, o Marché Aux Puces d’Aligre (1 rue Théophile Roussel; metrô Ledru Rollin).

Veja e coma mais
• A Paris par Rues Méconnues realiza passeios temáticos por áreas secretas de Paris, conhecendo pessoas locais, artesãos e lojistas. A programação local pode incluir oficinas de gastronomia e caminhadas para entender as lojas de alimentos.

• A Edible Paris cria itinerários personalizados, com temas gastronômicos – seja você um amante de queijos, chocolate ou vinho, haverá algo adequado (a partir de € 100).

• A La Cuisine Paris oferece aulas de culinária. As aulas vão de culinária francesa a especialidades como os macarons (biscoitos). Realiza também passeios, incluindo o The Sweetest Thing Walk, que leva às lojas de doces e chocolates da cidade (duração de três horas; € 95).

• A Promenades Gourmandes oferece aulas de culinária que incluem passeio por um mercado, almoço com três pratos e degustação de queijos (9h às 15h, a partir de € 260).