Pode parecer estranho falar em “tesouro paraguaio” no título, principalmente porque o tema “jesuítas” é envolvido em algumas polêmicas. Independentemente de apreciar ou criticar esses personagens da Igreja Católica, fato é que as ruínas de suas construções na América do Sul têm um valor histórico e são belíssimas. E por se tratarem de paisagens ainda pouco conhecidas e escondidas, apesar da proximidade com o Brasil, considero como tesouros. São as atrações mais interessantes que o nosso vizinho oferece em uma viagem turística por lá.
Um pouco de história
Vamos tentar fazer um resumo sobre a origem das ruínas. Nada pra entediar o leitor, apenas o básico para você não chegar “boiando” na região com cara de mané. “Jesuíta” é o nome dado para o membro da Companhia de Jesus, um grupo formado dentro da Igreja Católica em 1540. O fundador da ordem religiosa foi Ignacio de Loyola. Você já deve ter ouvido falar dele no colégio. A Companhia de Jesus teve um papel ativo na época em que a América do Sul foi colonizada pelos europeus, principalmente por espanhóis e portugueses.
Os jesuítas atravessaram o Atlântico como missionários, ou seja, o principal objetivo era “educar/evangelizar” os nativos americanos. As críticas surgem aí. Alguns especialistas apontam eles como os principais responsáveis pela aculturação indígena, ou seja, pela imposição de uma religião e de padrões de vida europeus. Quem os defende, aponta para o fato de que eles protegeram em diversos momentos os indígenas de serem exterminados pelos militares. Fato é que o grupo começou a cair em desgraça na Europa no século 18 e foi obrigado a deixar o território sul-americano.
Lembra do ministro português Marquês de Pombal? No caso brasileiro, foi ele que mandou a galera voltar pra casa. Sobraram apenas as reduções (ou missões) jesuíticas: áreas com igrejas, hospitais, centros de edução, entre outras estruturas, onde os indígenas (principalmente os guaranis) eram agrupados. Hoje em dia, a maior parte das reduções está em ruínas no Brasil, Argentina e Paraguai.
Como visitar as ruínas paraguaias?
Agora, vamos ao que interessa. O Paraguai tem sete reduções jesuíticas. Elas estão em diferentes níveis de conservação. Quatro estão na região de Misiones (Santiago Apóstol, Santa Rosa, Santa María de Fe e San Ignacio Guazú). Outras três na região de Itapuá: San Cosme y Damián, Jesús de Tavarengüe e Santísima Trinidad del Paraná. Guarde o nome destas duas últimas. São as mais famosas e em melhor estado de conservação. O fato de serem próximas também faz com que sejam as mais visitadas. A minha opinião é: a não ser que você queira realmente se aprofundar na parte histórica, se concentre apenas nas duas principais ruínas, ambas declaradas Patrimônio Universal da Humanidade pela UNESCO. É sobre elas que escreverei aqui.
A principal base para visitar as duas ruínas é a cidade de Encarnación. Venha você de Assunção, Ciudad del Este ou Posadas (na Argentina) o mais provável é que tenha de parar em Encarnación. Eu recomendo a viagem noturna para quem vem de uma destas duas cidades paraguaias. No meu caso, peguei o ônibus em Assunção por volta da meia-noite e cheguei em Encarnación pouco antes das 6h. Tomei um café e fui descobrir as companhias de ônibus que passavam perto das ruínas. O melhor é comprar na hora mesmo, não precisa tentar reservar online. Mais de uma companhia faz o trajeto até Trinidad, entrada para a primeira das ruínas. O negócio é arranhar no espanhol e descobrir o primeiro ônibus que sai depois das 6h. Não há mistério: a rodoviária é minúscula e todo mundo vai saber informar.
A passagem custa entre 10 mil guaranis (R$5,50) e 15 mil guaranis (R$ 8). Aqui começa a aventura da coisa. Para chegar na ruína de Trinidad é preciso saltar em um ponto específico no meio da estrada, a rota 6. Tem no máximo uma placa indicando a parada. Procure no mapa abaixo um ônibus azul. Esse é o ponto de descida para visitar Trinidad. Importante: peça ao motorista do ônibus, no momento do embarque, para te deixar nesse ponto, se não ele vai passar direto. A viagem dura aproximadamente 40 minutos. Depois de 30 minutos de estrada, pergunte ao motorista se está próxima a parada. É uma forma de ele lembrar de você. Juro, eles sempre esquecem de avisar. Quando você desce do ônibus ainda tem que andar 1km (uns 15 minutos) em um caminho de paralelepípedos até as ruínas.