Resenha: A Garota Dinamarquesa, David Ebershoff
Já faz um tempo que estava com vontade de ler esse livro, mas confesso que não sabia do que se tratava. A princípio, meu interesse foi despertado apenas pelo título e pela capa, sou muito levada por isso, quem nunca?! Aliás adoro ler livros sem saber nada sobre eles, e ser surpreendida. Foi exatamente isso que aconteceu com “A garota dinamarquesa” e a surpresa, nesse caso, foi super positiva.
Sinopse: Inspirado em uma história real, este romance inquietante, narrado com elegância e sutileza únicas, apresenta uma trama ousada que transcende os limites de sexo, gênero e localização histórica. A prosa rica e o discurso emocionado transformam esta obra numa história de amor poderosa, que marcará para sempre a vida do leitor.
A história no livro é tratada com muita sensibilidade, o que é de extrema importância. Há uma riqueza de detalhes – que pra mim, em alguns momentos, foi além da conta, mas na maior parte do livro a escrita é bem fluida e leve, não da vontade mesmo de parar de ler. É um livro cheio de sentimentos, que toca o coração do leitor. David Ebershoff fez um excelente trabalho, um livro escrito com cuidado e delicadeza, e que reforça a ideia que romances de estreia podem sim ser brilhantes.
Einar e Greta são casados, ambos são pintores. Greta está terminando um quadro e, na ausência da sua modelo, pede para que o marido coloque as meias e os sapatos dela para que ela possa concluir a obra. Esse momento serve como “gatilho” para despertar Lili dentro de Einar e isso muda, pra sempre, a vida do casal…
Nunca tinha lido um livro que falasse sobre mudança de sexo, e o fato de a história de Lili ser baseada em uma história real torna tudo ainda mais interessante. Einar Weneger, o pintor que inspirou essa historia, nasceu na Dinamarca em 1882 e passou pelas cirurgias para mudança de sexo por volta de 1930, quando assumiu a identidade de Lili Elbe.
Apesar de o foco da história ser a transição de Lili, o que me chamou muita atenção foi o papel que Greta desempenhou nesse processo. Ela foi extremamente companheira, correu atrás de alternativas para ajudar Lili nessa fase de autodescoberta e também de aceitação, retrato do amor verdadeiro entre duas pessoas… Greta também passa por um processo de descoberta de si mesma, ela revisita o seu passado, revira memorias e se reencontra em meio a tudo isso… É uma personagem de muita importância, muito real e uma mulher muito forte.
A história se passa em uma época onde as pesquisas nessa área eram ínfimas e a aceitação por parte da sociedade também – o que mostra que Lili era uma mulher de muita força e coragem e isso é muito bem retratado no livro. Essa é uma história, além de tudo, muito atual… Apesar dos avanços consideráveis no que compete à ciência, a aceitação ainda é um problema: as taxas de assassinato de transexuais, principalmente no Brasil, são extremamente altas. A intolerância e o preconceito permanecem. Por isso a mensagem que o livro passa é super relevante, essa mensagem de aceitação, de se permitir ser o que você é de fato e não se esconder.
Um livro emocionante, uma união perfeita e equilibrada entre realidade e ficção, onde as dores e todos os sentimentos dos personagens se mostram tangíveis ao leitor. Recomendo muito… Como uma obra de arte, vai despertar sentimentos diferentes em cada leitor, mas é impossível não se sentir tocado e marcado pela historia de Lili.