A Princesa Isabel, nascida no Rio de Janeiro, no dia 29 de julho de 1846, é uma das figuras mais emblemáticas da história do Brasil. Conhecida por ser a filha mais velha do imperador Dom Pedro II, Isabel se tornou a herdeira do trono brasileiro após a morte de seus irmãos mais velhos. Apesar de ser vista por muitos como uma figura essencial na abolição da escravidão, a princesa é também alvo de debates sobre seu verdadeiro papel nas transformações que marcaram o fim do regime monárquico no Brasil.
Infância e Educação da Princesa Isabel
Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança e Bourbon, nome completo da princesa, cresceu no Paço de São Cristóvão, no Rio de Janeiro. Sua educação foi extremamente rigorosa, com aulas de diversas disciplinas como física, geologia, filosofia, astronomia e até piano. As lições eram intensas, chegando a durar até 15 horas por dia, e cobriam não só o conteúdo científico, mas também a história de Portugal, Brasil, França, Inglaterra e a Igreja Católica.
Embora tenha sido uma estudante aplicada, a princesa Isabel tinha um temperamento reservado e preferia dedicar-se à vida doméstica e religiosa, algo que foi bastante observado por historiadores que mencionam sua aversão à política, uma área em que ela teria poucas ações, exceto quando forçada pelas circunstâncias.
Casamento e Vida Familiar
Aos 18 anos, Isabel casou-se com o Conde d’Eu, Luís Filipe Maria Fernando Gastão, um príncipe francês que foi escolhido para ser seu marido por uma aliança política. O casamento, típico das práticas monárquicas da época, foi uma união de interesse, mas, segundo relatos, a princesa parece ter se apaixonado genuinamente por seu marido. Juntos, tiveram quatro filhos: Luísa Vitória, Pedro, Luís e Antônio.
Embora o Conde d’Eu não fosse bem recebido na corte, devido à sua origem francesa e ao seu comportamento considerado rude, ele teve destaque ao comandar as tropas brasileiras durante a Guerra do Paraguai, onde foi responsável pela captura do ditador Solano López e pela libertação dos escravos paraguaios em 1870.
A Regência e a Assinatura das Leis
Com a saúde de Dom Pedro II enfraquecendo, a princesa Isabel assumiu funções de regente em algumas ocasiões, sempre que seu pai se ausentava do país ou estava incapaz de governar. Sua primeira regência ocorreu em 1871, e nesse período, a princesa assinou a Lei do Ventre Livre, que determinava que todos os filhos de mulheres escravizadas nascidos após essa data seriam considerados livres. Embora representasse um avanço para a causa abolicionista, a lei não aboliu completamente a escravidão, deixando um número considerável de escravizados no país.
Em 1888, durante sua terceira regência, Isabel assinou a Lei Áurea, que finalmente aboliu a escravidão no Brasil, decretando a liberdade de todos os escravizados no país. A assinatura da Lei Áurea é um marco na história brasileira e é frequentemente atribuída à princesa Isabel como uma de suas maiores conquistas. No entanto, a história dessa assinatura é mais complexa do que parece à primeira vista.
O Papel da Princesa Isabel na Abolição
Embora a assinatura da Lei Áurea tenha sido fundamental para a abolição da escravidão, alguns historiadores, como Mary del Priore, sugerem que Isabel não deve ser vista como a principal responsável pela abolição. De acordo com Priore, a princesa Isabel se alinhou com a causa abolicionista apenas quando a mudança parecia inevitável e quando o movimento abolicionista já havia se fortalecido com o apoio de escravizados e outras lideranças políticas. A historiadora também observa que a princesa Isabel abrigou escravos em sua residência uma única vez e que seu posicionamento em relação à escravidão foi mais um reflexo de sua posição política e da pressão social do que uma verdadeira paixão pela causa.
Críticas como as de Rui Barbosa, que chamava a mudança de postura da princesa de “política”, e não de “generosidade”, questionam a sinceridade de sua adesão à abolição. Embora a princesa fosse vista, em várias ocasiões, como um símbolo da luta pela liberdade, o contexto histórico e as disputas políticas tornam sua posição mais ambígua.
Fuga para o Exílio e Morte
A Proclamação da República em 15 de novembro de 1889, que depôs a monarquia no Brasil, forçou a família imperial a deixar o país. A princesa Isabel, então, se exilou na França, onde viveu até sua morte. O golpe republicano foi impulsionado por uma série de fatores, incluindo o descontentamento dos militares, a perda de apoio popular à monarquia, e a própria impopularidade de Isabel, que era mulher e não tinha o apoio necessário de parte da aristocracia.
Apesar de a expulsão da família real ter sido revogada em 1920, Isabel permaneceu na França devido à sua saúde debilitada e nunca retornou ao Brasil. Ela faleceu em 14 de novembro de 1921, com 75 anos. Seu corpo foi enterrado em Petrópolis, no Rio de Janeiro, onde descansam seus restos mortais até hoje.
Conclusão
A Princesa Isabel ocupa um lugar de destaque na história do Brasil, principalmente por sua associação com a aboluição da escravatura e sua atuação como regente. Contudo, sua trajetória é marcada por um paradoxo: apesar de ser vista como uma heroína pela assinatura da Lei Áurea, o contexto político e social da época revela que sua postura foi muitas vezes mais estratégica do que ideológica. Ainda assim, a assinatura da Lei Áurea permanece como um dos momentos mais significativos do Brasil no século XIX, e a princesa Isabel continua sendo uma figura central em discussões sobre a história da abolição da escravatura e o fim do Império Brasileiro.
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