Seychelles 3: rochas cinematográficas, tartarugas gigantes e uma bicicleta
Como é difícil captar a energia de belezas naturais com uma câmera. Com técnica e equipamentos bons, cidades detonadas parecem até mais bonitas quando fotografas por alguém que manja, mas as partes do mundo que ainda estão lá como vieram no pacote original, quase impossível.
Belezas naturais despertam mais sentidos. Em cidades, eles são ativados pra detectar tudo como um todo – os carros, as buzinas, o tic tac do farol, as vozes e os passos apressados são uma sinfonia completa, mesmo que não orquestrada. Se tirarmos algum deles, faz falta, mas nem tanto. Numa praia paradisíaca, a referência é outra – um detalhe como a onda que não quebra ou o eco de uma gaivota que nem dá pra ver são espantosos, de tanto que se amplificam.
Tudo é bonito, tudo é harmonioso. La Digue, a terceira maior e mais divertida ilha das Seychelles, não tem praias tão desertas quanto Praslin, mas logo nota-se o porquê. Vindo do mar em direção a terra firme, nesta ordem: água, areia e… rochas. Não há prédios como nos balneários, nem palmeiras pra fazer sombra. A areia é branca e fofa e, mesmo beirada pelas tais rochas, não tem pedregulho algum par atrapalhar a caminhada. Novamente, a visão, sozinha, não é capaz de absorver tudo – algumas das rochas tem formatos tão arredondados que parecem isopor. Tem que ir lá e encostar pra se convencer que não é cinema.
A praia mais emblemática da ilha é a Source D’Argent, citada há um tempo atrás na Charada da Sexta, pelo Riq Freire, no Viaje na Viagem. Francês pra mim é no way – só sei que pra pedir uma informação começo a frase com escuse moá, pra não ser antipático -, então foi uma batalha pra conseguir pronunciar isso aí de uma forma entendível. O que ainda não entendi é como pode haver um lugar desses tão escondido – ou é muita mancada do lá de cima, ou é de propósito porque ele sabia que, se fosse de mais fácil acesso, hoje não estaria no mesmo estado.
A Source D’Argent é, na verdade, mais de uma praia. Pra transitar entre elas passa-se por mini trilhas, de 2 ou 3 minutos, entre mangues e caranguejos que escondem a próxima orla pra causar ainda mais oohhh quando se chega a cada uma delas.
Isso tudo porque, pra chegar até este ponto onde é preciso caminhar, pode-se alugar uma bicicleta logo no porto, na entrada da ilha, por 100 Rúpias das Seychelles (cerca de R$12,00). De longe, a parte mais lúdica do passeio, uma vez que a ilha é pequena, tem várias regiões planas e alguns segredos, como um cemitério abandonado e uma colônia de tartarugas gigantes. As tartarugas podem, inclusive, ser alimentadas. Não se preocupe com rotas ou caminhos, é facílimo chegar a todos estes lugares com as sinalizações espalhadas.
Mais de metade das Ilhas Seychelles arquipelago é patrimonio da humanidade e está, garantidamente, preservado para gerações futuras. Um presente da natureza pra ver como o homem não precisa estar lá pra que tudo funcione. Pra uma viagem romântica, de aventura ou solo, tudo combina com um lugar quando ele é tão perfeito. Apesar de vários e vários pontos de interesse, ir para as Seychelles é um motivo pra aproveitar, mesmo, a vida mansa.
O instinto de turista, aquele que quer “ver tudo”, de preferência no mínimo de tempo possível, grita alto – afinal, é instinto. Aproveite os sentidos aguçados pra escutar o que realmente interessa e não dê ouvidos.
Ilhas Seychelles 2: o caribe no continente errado
Tem muito país que acabou ficando deslocado nesse planeta. Não só por estar longe de tudo mas por estar completamente fora de encaixe no globo. Veja só: você passa por Índia, China, Vietnã, Malásia, Indonésia e outros exóticos mais, até que chega na… Austrália! País totalmente ocidentalizado e com ares de Canadá, que poderia estar na América do Norte, substituindo o México que, por sua vez é um país sul-americano por natureza.
As Seychelles, com sua mistura de colonização franco-britânica, sua arquitetura e suas praias, poderia certamente ter sido encaixada no Caribe. Por que não foi, eu não sei. Mas como tudo tem dois lados… imagine esta mesma praia da foto acima, do mesmo jeitinho, só que com catamarãs lotados chegando a cada cinco minutos ou um beachclub ali atrás. Estragaria tudo ou não?
É aqui que eu quero dizer porquê, em Seychelles, você leva uma vida de rei. Depois de um pouso sensacional em Mahe – a ilha principal -, desembarcar por um aeroporto que parece uma estação de trem e uma caminhada por Victoria, é hora de ir pra cama. Oito ou nove da noite e a sensação é de que já chegou a madrugada. Calmaria pra curtir o dia seguinte desde o amanhecer.
Seychelles desperta um espírito de mochileiro incrível. É tanta coisa pra explorar e tanto meio de transporte diferente, que sair rumo a qualquer lugar é sempre uma aventura. Uma aventura estruturada, é verdade, mas recompensadora de qualquer forma.
Pra chegar na Anse Lazio, a praia das fotos do post, é assim: saia do seu hotel rumo ao porto de Victoria. O ticket do catamarã até o porto da ilha de Praslin custa 82 euros pra quem não é local. Pra justificar o preço, os guichês não vendem assentos cobertos ou descobertos. Eles perguntam se você prefere ar condicionado ou fresh air – glamour até na técnica de vendas.
Uma vez na Ilha de Praslin, ache um dos taxistas e negocie uma tarifa fixa até a Anse Lazio. Não porque outras praias não valham a pena ou porque você tem que se apressar pra dar tempo de partir pra outro local. Muito pelo contrário: porque Anse Lazio é uma praia além da imaginação e merece cada momento do seu dia. O caminho, feito ora pela costa, ora por dentro da mata, é lindo.
O taxi te deixa lá e, quando vai embora, você tem o paraíso na sua frente, só pra você. Mesmo o ouvido e o nariz mais castigados pela vida cotidiana de uma grande cidade poderiam captar todos os cheiros e sons, pois são poucos e marcantes. É possível até identificá-los.
Qualquer serviço de aluguel de cadeiras, hotel, ou barraquinha de drinks – qualquer coisa que se pudesse pagar, basicamente – colocaria tudo a perder. Chegar até ali não é mais barata das empreitadas mas, naquele momento, com tudo aquilo na sua frente, de graça… é literalmente impagável. Meio quilômetro de praia que, mesmo com o céu escurecido, tem água azul turquesa e palmeiras que a escondem de quem vem por dentro da ilha.
Não há momento em que se compartilha a praia com mais de 10 pessoas. Uma das principais atrações de todo o arquipélago e, ainda assim, calma como o paraíso deve ser. Marcar horário de volta com o taxista é uma boa, porque pode não aparecer um outro na hora de voltar.
Seychelles: uma rústica vida de rei
De príncipe, na verdade. Mas não precisa escolher, necessariamente, a ilha onde William e Kate passaram a lua de mel, quando a fama e o dinheiro não atrapalham tanto a sua vida. Já faz quase um ano que o casal se escondeu numa das menores ilhas do arquipélago – que contabiliza mais de uma centena – e eu estive lá na mesma época, mas só agora criei coragem pra desenpendrivezar as fotos.
As Ilhas Seychelles raramente são primeira opção de quem procura praias paradisíacas, ainda mais quando, para brasileiros, o Caribe se torna mais e mais acessível. Outras razões como logística e até a falta de divulgação jogam contra.
O que está a favor, então? Seychelles tem milhões de leis ambientais, daquelas rígidas mesmo que, se a tornam um lugar caro, vão mantê-la sempre num estado quase virgem. Soa estranho: uma economia que depende de turismo ser tão rígida e inflexível quanto a preços. Mas, uma vez lá, tudo faz sentido. O que se tenta combater no arquipélago, seja nas remotas ilhotas de 10 metros quadrados ou na capital, Victoria, é o turismo em massa.
O jogo é meio confuso mesmo: paga-se mais por menos estrutura. É isso que quem visita as Seychelles está procurando – menos movimento e menos stress. Mesmo em hotéis e resorts luxuosos, as marcas das redes mais famosas não tem alterado o ritmo normal de tudo. Uma pizza pode levar quase uma hora pra sair e um prato mais elaborado, então… é melhor curtir seu drink devagar, afinal levou mais de 20 minutos pra ser preparado. Mau serviço pra quem está acostumado com a eficiência das grandes cidades; terapia de adaptação pra quem ainda não se tocou que está numa ilha, onde o vizinho mais próximo é… outra ilha. Ilhas Maurício e Madagascar são os pontos de menor distância.
Na Ilha de Mahe, maior de todas, Victoria se aprenseta como a menor capital do mundo. Com seu aspecto caribenho e ritmo baiano, Seychelles já exibe seus encantos e desperta nossa necessidade de comparação, antes que se possa alcançar qualquer uma das praias. As rodovias estreitíssimas que saem do aeroporto e levam aos hotéis, aliás, fazem qualquer brasileiro descedor de serra sentir-se a vontade.
Considerada um dos três países com índice de desenvolvimento humano alto na África, Seychelles tem uma capital minúscula e segura. Fica um pouco sinistro a noite e, na verdade, nem há nada pra se fazer. Victoria é, sem dúvida, uma cidade diurna. Duas ou três horas são sufcientes pra caminhar pelas ruelas, sentir a maresia e se preparar pro dia seguinte.