found footage

O termo found footage refere-se a uma técnica cinematográfica na qual parte ou todo o filme é apresentado como se fossem gravações reais de eventos fictícios que foram “descobertos” e mostrados ao público sem muita mediação ou edição. Essa técnica é frequentemente associada ao gênero de terror e ganhou popularidade com o lançamento de The Blair Witch Project (1999), que se apresentou como as últimas filmagens realizadas por três documentaristas desaparecidos enquanto investigavam uma floresta supostamente assombrada. Desde então, o found footage tornou-se uma abordagem comum em filmes de horror, especialmente devido aos seus baixos custos de produção e ao potencial para altos lucros.

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História e Origens

Embora o found footage tenha se popularizado principalmente após o sucesso de The Blair Witch Project, suas raízes remontam a décadas anteriores. Um dos primeiros exemplos frequentemente citados é o polêmico filme italiano Cannibal Holocaust (1980), que se passa como o material encontrado por um professor, que descobre as filmagens de uma equipe de documentaristas que desapareceu na floresta amazônica. A técnica de apresentar imagens “encontradas” adicionou um realismo perturbador ao filme, especialmente considerando que incluía cenas reais de crueldade animal.

Apesar disso, o cineasta Orson Welles já havia explorado essa abordagem no filme The Other Side of the Wind, que incorporava técnicas de found footage antes de Cannibal Holocaust, embora o filme tenha permanecido inacabado até ser lançado postumamente em 2018. Entre os anos 1980 e 1990, poucos filmes usaram essa técnica. No entanto, o enorme sucesso financeiro e crítico de The Blair Witch Project, aliado ao desenvolvimento de tecnologias de vídeo portátil mais sofisticadas, resultou em um boom de filmes found footage, principalmente de terror, a partir dos anos 2000.

Abordagens Comuns no Found Footage

Existem quatro formas principais de utilizar a técnica de found footage em filmes, embora muitas vezes essas abordagens sejam combinadas:

  1. Câmera em primeira pessoa: A forma mais comum de found footage envolve um dos personagens segurando uma câmera e gravando os eventos do ponto de vista da primeira pessoa. Isso cria um realismo instantâneo e pode justificar a qualidade amadora das filmagens, como o uso do “shaky cam”, onde a câmera treme e se move constantemente para simular movimento real e desorientar o público. Um exemplo notável dessa técnica é o filme Cloverfield (2008), que simula uma gravação amadora de um evento catastrófico em Nova York.
  2. Formato de mockumentary: Nessa abordagem, o filme é apresentado como um documentário, com entrevistas e filmagens supostamente profissionais. A ideia é que o material foi gravado como uma documentação formal dos eventos e depois perdido ou redescoberto. Esse estilo oferece uma justificativa para a narrativa e diálogos expositivos. Exemplos incluem filmes como The Last Exorcism (2010), que segue uma abordagem de documentário falso.
  3. Cobertura de notícias: Outra variação é apresentar as filmagens como se fossem uma cobertura jornalística dos acontecimentos. Isso geralmente envolve um repórter e um cinegrafista cobrindo os eventos em tempo real. Essa técnica pode mesclar aspectos da câmera em primeira pessoa e do formato de mockumentary, sendo um exemplo influente o filme espanhol [REC] (2007).
  4. Filmagens de vigilância ou gravações automáticas: Nesse formato, as filmagens são apresentadas como gravações de câmeras de segurança ou outros dispositivos automáticos, geralmente com a câmera estática e os eventos sendo registrados sem a necessidade de um operador. Esse estilo permite que os personagens apareçam juntos em cena e justifica gravações sem a presença de pessoas. Paranormal Activity (2007) e suas sequências utilizam essa abordagem para criar uma sensação de realismo e suspense.

Evolução e Diversificação

O found footage também evoluiu para incluir técnicas híbridas, misturando elementos de filmes tradicionais com gravações supostamente “encontradas”. Por exemplo, o filme Chronicle (2012), um thriller de super-heróis, começa com o protagonista gravando os eventos com sua própria câmera, mas posteriormente incorpora imagens de várias fontes, incluindo notícias e câmeras de segurança, para oferecer diferentes perspectivas.

Além disso, surgiu uma variação conhecida como “screenlife”, na qual a narrativa se desenrola na tela de um dispositivo, como um laptop, tablet ou celular. Filmes como Unfriended (2014) e Searching (2018) utilizam essa abordagem, apresentando a ação através de videochamadas, trocas de mensagens e navegação na internet. Esses filmes mantêm a estética de found footage, simulando gravações ao vivo, capturas de tela e transmissões online.

Impacto Cultural e Críticas

A popularidade do found footage está ligada à sua capacidade de imergir o público na narrativa de forma mais intensa, criando uma sensação de autenticidade que é difícil de alcançar com técnicas de filmagem convencionais. No entanto, essa técnica também enfrenta críticas. O uso frequente do “shaky cam” pode ser cansativo para alguns espectadores e causar desconforto visual. Além disso, o formato limitado e a justificativa constante para a presença de uma câmera podem restringir o desenvolvimento narrativo e a cinematografia.

Apesar dessas críticas, o found footage continua a ser uma técnica popular, especialmente no gênero de terror. Seu apelo está na capacidade de criar suspense com orçamentos modestos, e filmes como Paranormal Activity provaram ser investimentos lucrativos, gerando sequências e franquias inteiras. A técnica também influenciou outros gêneros, sendo usada em filmes de ficção científica, comédias e dramas.

Conclusão

O found footage é uma técnica que mudou a forma como os cineastas abordam o realismo e a imersão no cinema. Embora tenha se consolidado no horror, seu impacto se estende a outras áreas, inspirando cineastas a explorar novas maneiras de contar histórias. Desde as suas origens polêmicas até o seu renascimento com The Blair Witch Project, o found footage continua a evoluir, refletindo as mudanças na tecnologia e nas expectativas do público quanto à autenticidade cinematográfica.