Expedita Ferreira, filha singular do lendário casal do sertão, Lampião e Maria Bonita, carrega consigo um legado histórico. Nascida em 1932, ela testemunhou ainda na infância, com apenas cinco anos, a morte inesperada de seus pais na Grota do Angico, em 1938, após um confronto com as forças do tenente José Bezerra. Hoje, aos 90 anos, Expedita preserva com dedicação as memórias de seus pais.
Expedita Ferreira, Filha Única de Lampião e Maria Bonita: Uma História de Legado e Memória.
Marcando sua presença na cultura popular, Expedita será uma das destaques no Carnaval carioca, desfilando pela escola Imperatriz Leopoldinense. O samba-enredo da escola, “O aperreio do cabra que o excomungado tratou com má-querença e o santíssimo não deu guarida”, promete contar de maneira leve e imaginativa a trajetória póstuma de Lampião, rejeitado tanto no céu quanto no inferno.
Conhecida como a “Princesa do Cangaço”, Expedita teve sua infância definida pelas circunstâncias únicas do cangaço. Para protegê-la dos perigos dessa vida, ela foi confiada a um aliado próximo de Lampião até os seus oito anos, após o que passou a ser cuidada por seu tio, João Ferreira, em um ambiente de discrição e segurança.
A morte brutal de Lampião, Maria Bonita e outros membros do grupo cangaceiro marcou profundamente a região e, especialmente, a vida de Expedita. Em um depoimento à Folha de S. Paulo em 2000, ela compartilhou suas memórias limitadas mas significativas. Lembrou-se do medo que sentia das roupas e armas dos cangaceiros e do conforto que encontrava nos braços de seu pai, Lampião.
Criação e Legado de Expedita Ferreira, a Herdeira de Lampião e Maria Bonita
Embora não tenha sido criada por Lampião e Maria Bonita, a influência do casal cangaceiro sempre permeou a vida de Expedita. Ela passou os primeiros anos de sua vida sob os cuidados de Manuel Severo e Aurora, que a criaram com o conhecimento de sua verdadeira origem. “Eles sabiam que eram meus pais adotivos, mas nunca me ocultaram a verdade sobre minha linhagem real”, revelou Expedita em uma entrevista.
A partir dos oito anos, foi seu tio, João Ferreira, quem assumiu sua criação, com o apoio do avô de Expedita que possuía uma fazenda. Ele desempenhou um papel crucial em sua educação e desenvolvimento até seu casamento aos 18 anos, conforme explicado por ela ao jornal paulista.
Hoje em dia, Expedita é reconhecida como a única descendente legítima do icônico casal nordestino. Apesar das várias controvérsias e alegações de parentesco por outras pessoas, Expedita se destaca como a única filha comprovada através de testes de DNA.
Preservando a Memória do Cangaço
Anualmente, em 28 de julho, um evento especial é realizado pela Agência Alagoas, do Governo do Estado de Alagoas, para honrar o legado do cangaço. Este encontro, que atrai centenas de pessoas, celebra as raízes históricas do movimento nordestino e conta com a presença marcante de Expedita. Em 2019, entretanto, ela não pôde homenagear seus pais no evento que marcou o 81º aniversário de suas mortes.
Vera Ferreira, neta dos cangaceiros e uma renomada pesquisadora sobre o tema, é a organizadora desses encontros anuais. Autora de livros como ‘O Espinho do Quipá – Lampião, a História’ (1997) e ‘De Virgulino a Lampião’ (1999), Vera destaca a importância desses eventos. “São encontros que plantam sementes culturais, incentivando as pessoas a descobrirem mais sobre essa parte da história ainda pouco conhecida”, declarou ela à Agência Alagoas.