D. Leopoldina: uma dama nos trópicos

Biografias D. Leopoldina: uma dama nos trópicos

1. Nascimento e vida na Áustria

Nome: Carolina Josefa Leopoldina Francisca Fernanda Beatriz de Habsburgo-Lorena
Local e ano do nascimento: Viena – Áustria, 1797
Local e ano do falecimento: Rio de Janeiro, 1826

Palácio de São Cristóvão, Rio de Janeiro, 11 de dezembro de 1826, uma jovem senhora de 29 anos, em meio a febre e delírios se despede da vida. Morria chorando o amor que outra mulher lhe roubara. “Oh meu Pedro, oh meu querido Pedro”. Eram os últimos momentos de D. Leopoldina, primeira imperatriz do Brasil. Figura sempre esquecida pela maior parte dos historiadores que quase não fazem menção a sua participação no momento de emancipação política brasileira. Mulher de educação esmerada, à frente de seu tempo. Interessava-se especialmente por botânica e mineralogia. Sua delicadeza e o fino trato com as pessoas fizeram dessa mulher uma das personagens mais queridas do Brasil no início do século XIX.

Nascia a arquiduquesa Carolina Josefa Leopoldina Francisca Fernanda Beatriz de Habsburgo-Lorena (no Brasil iria adotar os nomes de Leopoldina e Maria Leopoldina), no Palácio de Schünbrunn, Áustria, em de 22 de Janeiro de 1797. Sexta filha do segundo casamento de Francisco I, imperador da Áustria, e II da Alemanha (1768-1835) com Maria Teresa de Bourbon-Sicília (1772-1807). Seus pais eram primos-irmãos, ambos netos de Maria Teresa, a Grande (1717-1780), uma das maiores estadistas do século XVIII.

Leopoldina cresceu junto com os irmãos, quase isolados do mundo. Possuíam diversos professores. Controlava, todavia, a própria imperatriz todas as lições dos filhos. Sua educação foi primorosa. Normalmente, não se exigia muito das princesas, bastava ensinar-lhes a costurar e bordar, além, claro, de boas maneiras e algumas aulas de piano. Mas não na casa dos Habsburgos. Ali, as mulheres tinham um nível cultural altíssimo. Desde pequena, Leopoldina foi submetida a um programa intensivo de aulas diárias, adquirindo conhecimentos científicos, políticos, históricos e artísticos, além de aprender idiomas estrangeiros, especialmente o francês (LOPES, 1998. p.88).

Aos dez anos ficou órfã de mãe. Um ano depois seu pai se casaria novamente com aquela que Leopoldina descreveria como a pessoa mais importante de sua vida, Maria Ludovica. Prima de Francisco I, como ele, neta de Maria Teresa, a Grande. Superava a defunta imperatriz em cultura e brilho intelectual, pois tivera uma educação esmerada. Musa e amiga pessoal do poeta Goethe, ela foi responsável pela formação intelectual da enteada, desenvolvendo na jovem o gosto pela literatura, a natureza e a música de Haydin e Beethoven. Não tinha filhos próprios, adotava de bom grado os da antecessora, e esses a chamavam de “querida mamãe”.

A morte da madrasta abalou Leopoldina em 1816. À tia Amélia, irmã de sua mãe, Leopoldina escreveu: “[…] devo-lhe tudo que sou, ela demonstrou-me em todas as ocasiões um amor e bondade verdadeiramente tão tocantes que deveria ser acusada da mais negra ingratidão, caso o meu coração fosse capaz de esquecê-la”. E o próprio Johann Wolfgang Von Goethe confessava em 1821: “Ainda não me refiz da morte da defunta imperatriz; é como se a gente desse pela falta de uma estrela principal que se acostumara a rever agradavelmente todas as noites” (OBERACKER JR, 1973. p.22).

Mais duas perdas fariam a tristeza de Leopoldina, essas não por morte mas por casamentos. Suas irmãs prediletas Maria Luísa (1791-1874), e Maria Clementina (1798-1881) estavam deixando a pátria para se casarem pelo bem da Casa dos Habsburgos no trono da Áustria. A primeira cumpria uma difícil missão, casar com o inimigo número 1 do trono austríaco, Napoleão Bonaparte (1768-1835). O imperador francês ameaçava a Áustria caso não lhe dessem a Arquiduquesa Maria Luísa em casamento. O imperador Francisco relutava, mas para o bem geral da nação concordou com o casamento. Só a avó materna da princesa, a rainha Maria Carolina das Duas Sicílias, resmungou com a atitude do genro: “É justamente o que me faltava, tornar-me agora ainda avó do diabo” (OBERACKER JR, 1973. p.30). Já sua irmã Clementina teve que desposar seu tio Leopoldo das Duas Sicílias. Leopoldina estava contente por não haver sido preferida pelo tio, “que sofria extraordinariamente do defeito da grosseria”: era além disso muito gordo – pesava 150 Kg – e bem mais velho que ela.