Biografias Américo Vespúcio
1. Vespúcio e sua profissão
Nome: Américo Vespúcio
Local e ano do nascimento: Florença, Itália, 1454
Local e ano do falecimento: Sevilha, Espanha, 1512
Américo Vespúcio é um dos personagens mais importantes da história da expansão marítimo-comercial da Europa nos séculos XV e XVI e seu nome está indelevelmente gravado nas terras do hemisfério ocidental. Infelizmente, para qualquer pessoa que procure conhecer um pouco mais sobre a vida desse navegador, geógrafo e cosmógrafo perceberá que o nome dele também está envolto em discussões que parecem não ter fim e que começaram quando Américo Vespúcio ainda era vivo. Independentemente disso, não podemos deixar de valorizar a descoberta de Vespúcio, o primeiro navegador a perceber que as terras vistas por Colombo, Ojeda, Pinzón, Lepe e Cabral não integravam as três antigas partes do mundo (Europa, Ásia e África), mas formavam uma quarta parte do mundo, um novo continente, um novo mundo.
Nascido em uma família tradicional e aristocrática de Florença, Américo Vespúcio recebeu o mesmo nome de seu avô paterno e era o terceiro de cinco filhos do tabelião Anastácio Vespúcio e de Lisa di Giovanni Mini. A família Vespúcio era bem relacionada, tendo contato com os Médici e com grandes nomes do Renascimento italiano, como Botticelli e Michelangelo. Ainda hoje é possível ver em Florença, no bairro de Ognissanti, na capela de San Salvadore d’Ognissanti (São Salvador de Todos os Santos), um afresco da família de Américo Vespúcio, onde vemos a única imagem que sabemos ser verdadeiramente de Américo Vespúcio.
Pouco se sabe sobre a infância e adolescência de Américo Vespúcio. A educação dele foi feita no Convento de San Marco, sob os cuidados de um tio, o frei dominicano Giorgio Antonio Vespúcio. O frei era um homem do Renascimento, com uma cultura humanista que foi repassada ao sobrinho. Américo aprendeu latim, matemática, geografia, astronomia, náutica e cosmografia, conhecimentos que mais tarde lhe permitiriam ocupar um lugar de destaque nos descobrimentos marítimos. Mesmo aqui, as opiniões são divergentes sobre a qualidade cultural e intelectual de Américo Vespúcio. Como exemplo, podemos citar duas opiniões. Para Janaína Amado e Luiz Carlos Figueiredo (2001, p.533), Vespúcio foi “um homem culto, conforme os padrões do Renascimento italiano”. Já para Eduardo Bueno (2003, p.17), Vespúcio foi “um aluno medíocre”. Sabemos também que Américo Vespúcio foi amigo de juventude de Piero Soderini. Ambos estudaram sob a orientação do tio de Vespúcio. Entre 1502 e 1512, Soderini foi gonfaloneiro (espécie de magistrado supremo) de Florença e teve Nicolau Maquiavel como conselheiro.
Em 1471, aos 17 anos, Vespúcio conseguiu um emprego de contador na casa comercial e bancária de Lorenzo di Pierfrancesco dei Medici,(1) primo de Lorenzo, o Magnífico (BUENO, 1988, p.38). Após sete anos trabalhando para Lorenzo, Américo foi para a França trabalhar como secretário de seu tio Guiodoantonio Vespúcio, embaixador de Florença na corte do rei Luís XI (1461-1483) (BUENO, 1988, p.38; FONTANA, 1994-95, p.13).(2) Dez anos depois, Américo Vespúcio estava novamente em Florença e retornou ao trabalho de contador na casa bancária dos Medici. Nessa ocupação, Vespúcio permaneceria até tomar contato com os acontecimentos que mudariam sua vida para sempre: as descobertas marítimas ibéricas.
Homem de confiança dos Medici, Vespúcio foi enviado, em setembro 1489, para a cidade espanhola de Sevilha com a missão de fiscalizar a contabilidade de Tommaso Capponi, administrador da filial da empresa comercial e bancária dos Medici naquela cidade e suspeito de fraudar a prestação de contas nas atividades realizadas. Américo analisou a situação e após comprovar as fraudes sugeriu a substituição de Capponi por outro diretor. Lorenzo di Pierfrancesco aceitou a sugestão e enviou, em 1491, para Sevilha, Giannoto Berardi (FONTANA, 1994-95, p.37).
Vespúcio e Berardi se tornariam grandes amigos, tanto que em 1495, quando Berardi faleceu, Vespúcio foi o encarregado de liquidar os negócios dele e completar a armação da 3ª viagem de Cristóvão Colombo. Foi também por intermédio de Berardi, que Vespúcio conheceu Colombo logo após o retorno do navegador genovês de sua 1ª viagem (1492-93) ao continente que por caminhos tortuosos receberia o nome de América. É provável também, que Vespúcio tenha ampliado seus conhecimentos sobre as embarcações quando trabalhou com Berardi, conhecido financiador e armador de navios na época dos descobrimentos e possivelmente um dos financiadores da 1ª viagem de Colombo. (BUENO, 1988, p.39; FONTANA, 1994-95, p.37).
Notas
(1) Lorenzo di Pierfrancesco dei Medici era conhecido como “o Popular”, para se diferenciar do primo de mesmo nome, o famoso Lorenzo, o Magnífico, para quem Maquiavel dedicou o livro, “O Príncipe”. Lorenzo, o Popular, tinha negócios em Florença e Sevilha. Além da casa bancária, Lorenzo estava envolvido com o comércio de especiarias e a armação de navios (AMADO; FIGUEIREDO, 2001, p.527).
(2) Talvez por um erro tipográfico no livro de Eduardo Bueno, Náufragos, traficantes e degredados aparece o nome de Luís XII, em vez de Luís XI. No entanto, no período em que Américo Vespúcio esteve em Paris, o rei francês era Luís XI.