As Sete Maravilhas do Invernor

Aurora Boreal Canadá

É noite e estamos no meio do nada. Está tão escuro que se erguermos a mão a 10 centímetros de distância do rosto, não a veremos. O silêncio absoluto faz o simples ruído da neve caindo de uma árvore próxima assustar. Nossos cílios estão quase congelados e é uma luta, quando piscamos, separá-los. Ainda assim, as noites são alegres, à espera de um dos mistérios da natureza: a aurora boreal.

Com pouca fotopoluição, condições climáticas ideais (muito frio e noites claras) e localização privilegiada – acima da principal zona de visão da Aurora Oval –, Churchill, no Canadá, é um dos melhores lugares do mundo para observar a aurora boreal. A tundra ártica e a floresta boreal que cercam a cidade testemunham 300 noites de atividade auroral por ano. Esses espetáculos podem durar horas ou acabar em um minuto. Luzes brilhantes, com tons de rosa, turquesa e verde, colorem o céu numa miríade de formatos (é uma foca? uma bruxa? uma baleia?) antes de se retraírem e desaparecerem. Diante de tamanha magnitude, é fácil acreditar no mito dos esquimós, cuja crença prega que a aurora boreal é sinal da vida após a morte, principalmente quando é possível ouvir o céu estalar, como dizem alguns. Não há dúvida: as luzes que brincam no firmamento são o maior espetáculo da Terra.

COMO CHEGAR LÁ

O melhor período para apreciar a aurora boreal é de janeiro a abril. Em fevereiro, as noites claras são numerosas.

• Uma das maneiras mais agradáveis para chegar à remota Churchill é de trem, saindo de Winnipeg (a partir de US$ 399). American Airlines, United Airlines, TAM, Delta e Air Canada voam São Paulo-Winnipeg.

• A menos de cinco quilômetros de Churchill, o The Tundra Inn tem cabanas com vista surpreendente. No salão Aurora Domes, o teto é transparente e permite observar a dança de luzes confortavelmente (US$ 104, período de quatro a cinco horas, com transporte para o hotel incluso; diárias a partir de US$ 238).

• No Churchill Northern Studies Centre, há cursos de cinco dias sobre aurora boreal e astronomia (a partir de US$ 958). A Frontiers North organiza viagens de uma semana, partindo de Winnipeg, cujo objetivo é observar o show de luzes (a partir de US$ 3.192).

• Do outro lado do Atlântico, a Europa Ártica é a melhor região para observar a aurora boreal. Quanto mais ao norte e longe das cidades, maiores são as chances de apreciá-la. A Discover the World disponibiliza passeios pela Suíça, Islândia, Noruega e Finlândia (a partir de € 368, viagem de três dias pela Islândia, partindo de Londres).

Arte no Gelo Russia

Em pleno janeiro, russos acostumados ao frio, usam chapéus e casacos pesados e formam filas para ver “arte congelada”. Todo inverno, escultores transformam blocos de gelo em figuras elaboradas de pessoas, animais e objetos em São Petersburgo. É uma tradição que remonta a 1740, quando um palácio de gelo foi construído para comemorar o aniversário da imperatriz Ana. Tendo como cenário domos dourados que reluzem à luz do sol baixo, a exposição personifica a magia do inverno na cidade russa.

Os moradores deixam as pontes de lado e, para circular pela cidade, preferem escorregar pelos rios e canais cobertos de gelo. O rio Neva está sólido, exceto em frente à Fortaleza de Pedro e Paulo, onde há um grande buraco usado como piscina pelos integrantes do Walrus Club – grupo de nadadores que exalta os benefícios do mergulho diário para a saúde. Quando o frio pega para valer, os russos se aquecem num bar de gelo bebendo vodca, servida num copo de gelo. “Pelo menos conseguimos fazer outras coisas com esse gelo, além de escorregar e cair!”, observa um alegre cliente.

COMO CHEGAR LÁ

• British Airways e Tap Air Portugal tem voos para São Petersburgo, saindo de São Paulo e do Rio de Janeiro. Com antecedência, é possível encontrar bilhetes mais baratos, da Lufthansa e Air France.

• A simpática hospedaria Nevsky Prospect fica no coração da cidade. Os quartos são decorados com móveis antigos, e os proprietários são incrivelmente prestativos (diárias a partir de US$ 100).

Migração de Renas Suécia

Uma das maiores migrações de renas do mundo acontece todos os anos na Lapônia, no norte da Suécia. Quando a neve fica espessa, os lagos congelados e os termômetros marcam -25 ºC, milhares de animais passeiam pela região. Descendo dos pastos do verão, localizados nas montanhas a oeste, os rebanhos viajam para o leste, para passar o longo inverno nas florestas, à procura de alimentos.

Nessa jornada, que pode demorar mais de 10 dias, as renas são acompanhadas por seus donos, os seminômades Sami. Embora os métodos para conduzi-las tenham sido modernizados ao longo de séculos (snowmobiles e até mesmo helicópteros substituíram os sapatos próprios para neve), a criação de renas ainda é a base da cultura desse povo. Conhecer os Sami é compartilhar uma herança que remonta a milênios – e na qual os dias são ditados pelo ritmo do trote firme dos mamíferos e as noites são povoadas de histórias contadas em volta da fogueira, sob o céu coberto de estrelas.

COMO CHEGAR LÁ

• Kiruna é uma boa base para quem deseja desbravar o Ártico. Voe para Estocolmo – há opções de passagens saindo de São Paulo e do Rio de Janeiro por Iberia, Swiss e Lufthansa – e de lá embarque para Kiruna pela Norwegian.

• A Nature Travels oferece viagens de seis dias conduzidas por renas, com pernoites em tendas e cabanas tradicionais, e os guias são os pastores Sami (€ 1.825, sem passagens aéreas). Já a Discover the World tem roteiros de três noites, com hospedagem em hotel na Lapônia e excursões diárias para conhecer o modo de vida dos Sami (a partir de € 895, com voos inclusos a partir de Londres).

Campanário Enterrado Itália

No inverno, viaje para o sul de Tirol, na Itália, para se deparar com uma das visões mais estranhas da Europa: a torre de uma igreja aparentemente amputada saindo das águas congeladas do Lago di Resia. Esse campanário do século 14 – que aponta como uma seta para o céu – é um triste monumento a uma vila que foi coberta por um lago artificial, criado para o projeto de uma hidroelétrica, nos anos 1950. Os moradores dizem que os sinos ainda tocam nas noites frias – embora eles tenham sido retirados quando o vale foi inundado. Pode ser que as histórias fantasiosas tenham surgido em torno do campanário, mas a igreja e o lago fazem parte da vida local, principalmente durante os dias gelados. Praticantes de snowkite rodopiam pelo gelo, saltando alto, enquanto seus parapentes capturam lufadas de vento e famílias caminham pela neve até a base da torre, dispostas a pôr as mãos enluvadas sobre esse pedaço da história que fica fora de alcance durante a maior parte do ano.

COMO CHEGAR LÁ

• O aeroporto mais próximo de Tirol fica em Innsbruck, na Áustria. As companhias Lufthansa, United Airlines e Continental oferecem voos que saem de São Paulo para a cidadela via Frankfurt, Nova York ou Viena.

• Hospede-se numa fazenda nas montanhas, a poucos quilômetros de Graun. O Strohhaus tem apartamentos bastante confortáveis e quentes, revestidos de madeira, e disponibiliza trenós para passeios (diárias a partir de € 80 para duas pessoas).

Águas Ferventes Estados Unidos

Existem poucos lugares tão encantadores quanto o Yellowstone National Park, nos Estados Unidos. Trata-se de uma paisagem criada por geleiras afiadas e erupções vulcânicas – um lugar de fogo e enxofre no qual a terra respira e borbulha como uma chaleira gigante fervendo. Numa região habitada por alces, ursos e lobos, gêiseres e fontes termais fervem e explodem, dando asas à imaginação desde que o parque foi criado, em 1872. É um lado selvagem e primitivo do país.

Quando a temperatura cai e a neve fica alta, o parque ganha beleza especial. Os grupos de turistas diminuem e são substituídos por praticantes de esqui cross-country que circulam silenciosamente por trilhas bem marcadas. O bisão peludo abre caminho na neve profunda para se aquecer perto do gêiser, esperando pelo vapor das piscinas termais. Eles recuam alguns passos quando a fonte, de repente, entra em erupção, enviando um jorro alto de água pelo ar gelado. Quando nos afastamos do gêiser principal e penetramos na floresta, a sensação de quietude e isolamento aumenta. O único som é o tilintar da cachoeira congelada que derrete lentamente sobre as pedras escuras. Uma fileira de marcas de patas de um animal começa na cachoeira e desaparece entre as árvores, cujos galhos tombam sob o peso da neve recém-caída. Um lobo, talvez?

COMO CHEGAR LÁ

• O aeroporto mais próximo de Yellowstone é o de Jackson Hole, que fica cerca de 80 quilômetros. As empresas aéreas Continental Airlines e United Airlines têm voos saindo de São Paulo, com paradas em Houston e Denver.

• Muitos hotéis fecham durante os meses de inverno. O hotel mais próximo da área de gêiseres que permanece aberto é o Old Faithful Snow Lodge. A decoração é criativa e segue o estilo explorador, com motivos de alces e ursos. Há um restaurante no local e o hotel também organiza visitas ao parque (diárias a partir de US$ 72).

Festival de Gelo Coreia do Sul

Durante grande parte do ano, a sancheoneo, espécie de truta, leva uma vida perfeita nos rios de Hwacheon, cidade nas montanhas localizadas a nordeste de Seul. Quando o inverno frio e seco da Coreia chega, a água congela e a sancheoneo desaparece sob uma camada de gelo de 40 centímetros. É aí que o show começa.

Todo mês de janeiro, o Hwacheon Sancheoneo Ice Festival confere uma energia repentina para esse tranquilo vilarejo. Visitantes fortemente agasalhados invadem as superfícies congeladas dos rios para pescar no gelo. Os assados são tão comuns para os coreanos quanto as baguetes para os franceses e o cheiro do carvão aceso – à espera do peixe – se espalha no ar. Para alguns turistas, jogar uma linha num buraco no gelo para capturar um peixe não é uma experiência forte o suficiente. De shorts e camiseta, eles pulam na água e aprendem como vivem as trutas.

COMO CHEGAR LÁ

• United Airlines, Delta, TAM e Air China têm passagens para Seul. Há uma nova ferrovia que liga Seul e Chuncheon, a cidade mais próxima de Hwacheon. Ou tome um ônibus para Chuncheon e, em seguida, outro para Hwacheon (US$ 13).

• A maioria dos hotéis não tem site em inglês, mas é possível encontrar uma lista deles em Lively Gangwon. O Sejong Hotel e o IMT Hotel são boas opções de hospedagem. Em Seul, a encantadora Tea Guesthouse é uma oportunidade rara de dormir numa hanok, tradicional casa coreana (diárias a partir de US$ 88).

Neve Sem Fim

São dez horas da manhã de uma segunda-feira no centro de Londres. Não há ônibus para Picadilly deixando passageiros a cada parada. Não há multidões brigando por espaço nas calçadas da Oxford Street e as portas das lojas de departamento continuam fechadas. As galerias do metrô estão vazias e os aviões permanecem no aeroporto de Heathrow. As poucas pessoas que conseguiram chegar ao trabalho dão meia volta ao se depararem com os escritórios fechados. Não é uma cena de um filme apocalíptico do tipo O Terror Veio do Espaço, mas da realidade na capital inglesa numa rara ocasião em que se encontra sob uma espessa camada de neve.

Em Hampstead Heath, um grupo de corredores desistiu de arrastar os pés pela neve e está rolando uma bola de neve gigante. No Richmond Park, um cervo está batendo com as patas na terra, à procura de ramos e arbustos. A oeste, em Greenwich, uma turma de estudantes comemora o inesperado dia sem aula, escorregando em tobogãs do Observatório Real – mal se veem os arranha-céus de Canary Wharf nesse dia cinzento. De volta ao centro da cidade, a neve cai sem parar numa Londres deserta, dando a qualquer pessoa que se aventura a caminhar pelas ruas a sensação mágica inimaginável de ter a cidade toda para si.

COMO CHEGAR LÁ

• Com estacionamentos caros, trânsito difícil e engarrafamentos, andar de carro em Londres é apenas para os corajosos.

• Em Greenwich, hospede-se na Number 16, pequena hospedaria próxima ao Tâmisa (diárias a partir de € 120). Em Hampstead, opte pela Hampstead Village Guesthouse (diárias a partir de US$ 127). Em Richmond, escolha o Richmond Gate Hotel, sobre a colina e com vista para o rio (diárias a partir de US$ 201).