Às margens do Ipiranga
No bairro do Ipiranga, em São Paulo, a história do Brasil é preservada no imponente edifício-monumento que abriga o Museu Paulista
Em visita à cidade de São Paulo, em 1912, o inglês Archibald Forrest comentava que, aos domingos e feriados, o passeio favorito de italianos, negros, paulistas, portugueses, alemães e ingleses era ir de carro da Praça da Sé até o Museu do Ipiranga. Depois de uma viagem que durava cerca de meia hora, os passageiros desciam em seus jardins, “situados em um terreno com largas calçadas, que vai se elevando suavemente, marginado por ciprestes, canteiros de flores muito bem tratados e todos os tipos de arbustos”. Hoje, assim como em princípios do século XX, visitar o Museu Paulista da Universidade de São Paulo (USP), conhecido também como Museu do Ipiranga, continua a ser um dos programas favoritos dos paulistanos. Nos finais de semana, o número de visitantes chega a 4 mil. Ano passado, só no dia 7 de setembro, nas comemorações da Independência, foram recebidas 15 mil pessoas. Ali, cercados por um jardim amplo e harmonioso, grupos de estudantes, pesquisadores, casais de namorados, turistas e outros freqüentadores conhecem nossa história e ainda escapam, por instantes, do ritmo acelerado de uma das maiores metrópoles da América Latina.
Idealizado na década de 1880, o imponente palácio de estilo renascentista, que atualmente abriga o museu, só foi inaugurado em 7 de setembro de 1895. Desde meados do século XIX, políticos e capitalistas da província de São Paulo vinham se empenhando em construir um edificio-monumento para celebrar a “fundação da nação brasileira”, às margens do rio Ipiranga, local onde d. Pedro I teria proferido o célebre grito de independência. Mas a falta de recursos e também a indefinição sobre o formato do prédio foram adiando o projeto. Em 1884, o engenheiro italiano Tommaso Gaudenzio Bezzi foi contratado para projetar a construção, e um outro italiano, Luigi Bucci, encarregou-se de organizar a mão-de-obra, comprar materiais e seguir as determinações técnicas de Bezzi.
Finalmente, no primeiro aniversário da República, em 15 de novembro de 1890, o projeto foi dado como terminado e, três anos depois, foram adquiridas as primeiras peças: espécimes de história natural, mobiliário, jornais e objetos indígenas que pertenciam à coleção do coronel e etnógrafo paulista Joaquim Sertório. O monumento à independência, aos poucos, transformava-se em museu histórico. Entre 1917 e 1934, período em que a instituição foi dirigida por Afonso d’Escragnolle Taunay (1876-1958), as salas de exposições foram reorganizadas e as antigas coleções de zoologia e botânica, substituídas por acervos documentais ligados à história e às tradições paulistas e brasileiras. “Quando da criação da USP, em 1934, o museu passou a ser considerado um instituto complementar e, em 1963, foi definitivamente incorporado à universidade, juntamente com o Museu Republicano Convenção de Itu, sediado no interior de São Paulo”, destaca Eni de Mesquita Samara, professora da USP e atual diretora do Museu Paulista.