John Ford, nascido John Martin Feeny em 1º de fevereiro de 1894, em Cape Elizabeth, Maine, foi um icônico diretor de cinema norte-americano, amplamente conhecido por suas contribuições ao gênero western, apesar de ter conquistado o Oscar de Melhor Diretor com filmes de outros gêneros, como The Informer (1935), The Grapes of Wrath (1940), How Green Was My Valley (1941) e The Quiet Man (1952). Ford faleceu em 31 de agosto de 1973, em Palm Desert, Califórnia, aos 79 anos.
John Ford
Início de Vida e Carreira no Cinema Mudo
Filho de imigrantes irlandeses, Ford começou sua carreira cinematográfica na era do cinema mudo, trabalhando inicialmente com seu irmão mais velho, Francis, que era ator e diretor. Durante esse período, Ford dirigiu mais de 60 filmes, incluindo muitos westerns estrelados por Harry Carey, que frequentemente interpretava o personagem “Cheyenne Harry”, um fora-da-lei com um lado heroico. Ford demonstrou desde cedo sua habilidade em adicionar elementos humanos e sentimentais aos filmes, mesmo dentro dos limitados recursos dos filmes de baixo orçamento da época.
Seu primeiro grande sucesso foi The Iron Horse (1924), uma épica produção sobre a construção da ferrovia transcontinental nos Estados Unidos. O filme foi um projeto arriscado, pois ultrapassou o orçamento e o cronograma, mas se tornou um grande sucesso de crítica e bilheteria, elevando Ford ao patamar dos grandes diretores de Hollywood, como D.W. Griffith e Cecil B. DeMille.
A Era dos Filmes Sonoros e o Sucesso dos Westerns
Com a transição para o cinema sonoro, Ford continuou a ter uma carreira prolífica, dirigindo mais de 60 filmes nesta era. Ele desenvolveu um estilo visual característico, utilizando enquadramentos de médio e longo alcance para compor cenas que muitas vezes mostravam personagens interagindo em vastas paisagens naturais. Seus westerns filmados no Monument Valley, entre o Arizona e Utah, tornaram-se marca registrada de seu trabalho, com a paisagem se tornando quase um personagem em si.
O western Stagecoach (1939) é considerado um marco no cinema, não apenas por revitalizar o gênero, mas também por catapultar John Wayne ao estrelato. Ford e Wayne formaram uma das parcerias mais duradouras e frutíferas de Hollywood, com Ford muitas vezes moldando o arquétipo do herói americano em torno do personagem interpretado por Wayne: um homem forte, leal e muitas vezes taciturno.
Período da Segunda Guerra Mundial
Durante a Segunda Guerra Mundial, Ford serviu na Reserva Naval dos EUA, onde dirigiu documentários para o Departamento de Fotografia da Marinha, incluindo The Battle of Midway (1942) e December 7th (1943), ambos vencedores do Oscar de Melhor Documentário. Ele esteve presente na invasão da Normandia no Dia D, e suas experiências de guerra tiveram um impacto significativo em seu trabalho pós-guerra. Ele foi promovido ao posto de capitão e, posteriormente, recebeu o título honorário de contra-almirante. Sua dedicação ao serviço militar era tão importante para ele que sua lápide o identifica como “Almirante John Ford”.
Um dos filmes mais marcantes de Ford sobre a guerra foi They Were Expendable (1945), que retrata a derrota das tropas americanas nas Filipinas. O filme é notável por seu realismo e pelo retrato honesto dos sacrifícios dos soldados, em contraste com a habitual glorificação dos filmes de guerra de Hollywood.
Pós-Guerra e Anos de Maturidade
Após a guerra, Ford continuou a explorar temas importantes em sua filmografia, incluindo a representação dos nativos americanos em Cheyenne Autumn (1964) e a luta pelos direitos civis dos soldados negros em Sergeant Rutledge (1960). Ele também revisitou e desafiou suas próprias tradições cinematográficas com The Man Who Shot Liberty Valance (1962), um filme que questiona os mitos do Velho Oeste e a diferença entre a lenda e a realidade. Nesse filme, o personagem de John Wayne, Tom Doniphon, sacrifica seu próprio orgulho e amor em prol do bem maior, permitindo que o personagem interpretado por James Stewart se torne o herói aos olhos do público, mesmo sem ter sido o verdadeiro responsável pela morte do vilão.
A obra de Ford muitas vezes celebra os valores masculinos arquetípicos, como coragem, lealdade e auto-sacrifício. Ele preferia contar histórias de pessoas comuns envolvidas em situações de alta carga moral, em vez de criar filmes estrelados por figuras glamorosas de Hollywood. Wagon Master (1950) é um exemplo de sua abordagem: protagonizado por atores de suporte, o filme enfatiza os valores e a coragem de homens comuns na fronteira.
Legado e Influência
John Ford ajudou a estabelecer o western como um gênero essencialmente americano, moldando a percepção pública sobre o Velho Oeste e os valores associados a ele. Seus filmes foram fundamentais para definir o herói americano, especialmente através das colaborações com John Wayne, e influenciaram inúmeras gerações de cineastas, incluindo diretores como Martin Scorsese, Steven Spielberg e Clint Eastwood.
Apesar de ter se afastado das ideologias políticas em suas obras, Ford criou uma ética de masculinidade que exaltava o caráter individual acima das tendências culturais e políticas. Ele foi capaz de explorar as complexidades e contradições do mito americano, proporcionando ao público não apenas entretenimento, mas também um meio de refletir sobre a identidade nacional e os valores que definem a América.
Declínio e Últimos Anos
Nos últimos anos de sua carreira, a popularidade do western diminuiu, e o gênero passou a ser questionado por suas representações simplistas e por vezes estereotipadas do passado americano. No entanto, Ford continuou a trabalhar, dirigindo filmes até meados da década de 1960, quando sua saúde começou a declinar. Ele faleceu em 1973, deixando um legado duradouro no cinema mundial.
John Ford é lembrado não apenas como um dos grandes diretores de westerns, mas como um cineasta que compreendeu profundamente a alma americana. Suas obras continuam a ser estudadas e admiradas por sua arte cinematográfica e por sua capacidade de capturar os conflitos morais e as paisagens majestosas que definem o imaginário do Velho Oeste.