Buster Keaton

Buster Keaton, nascido Joseph Frank Keaton IV, em 4 de outubro de 1895, em Piqua, Kansas, foi um dos maiores comediantes e cineastas do cinema mudo, conhecido por seu estilo de humor físico e sua expressão séria, que lhe rendeu o apelido de “The Great Stone Face”. Sua habilidade para criar situações cômicas visuais, muitas vezes elaboradas e arriscadas, transformou-o em um ícone do cinema e uma referência na história da comédia cinematográfica.

Buster Keaton

Infância e Carreira Inicial

Keaton nasceu em uma família de artistas de vaudeville. Seu pai, Joe Keaton, e sua mãe, Myra, eram comediantes conhecidos no circuito de shows itinerantes. Segundo a lenda, ele recebeu o apelido de “Buster” aos 18 meses, quando caiu de uma escada e foi resgatado pelo famoso mágico Harry Houdini, que disse: “Esse foi um grande ‘buster’ (tombo) que o bebê levou”. A partir dos três anos, ele se juntou ao número de vaudeville da família, “The Three Keatons”, onde interpretava o papel de um “mop humano”, sendo arremessado e jogado pelo palco em uma série de quedas e acrobacias impressionantes. Desde cedo, Keaton aprendeu a importância do timing cômico e de como cair sem se machucar, desenvolvendo uma resistência física notável.

Sua atuação no palco era marcada pela expressão séria, que ele descobriu ser mais engraçada para o público do que sorrir ou demonstrar emoções. Essa característica se tornaria sua marca registrada ao longo de sua carreira no cinema.

Transição para o Cinema

Em 1917, Keaton teve sua primeira experiência no cinema, quando foi convidado por Roscoe “Fatty” Arbuckle, um dos principais comediantes da época, para participar do curta-metragem The Butcher Boy. Fascinado pelas possibilidades técnicas e criativas do cinema, ele rapidamente se envolveu no processo de filmagem, aprendendo sobre direção, edição e criação de gags. A colaboração com Arbuckle foi essencial para o desenvolvimento de suas habilidades como cineasta, e juntos, eles codirigiram vários curtas.

Quando Arbuckle passou a se concentrar em filmes de longa-metragem, Keaton herdou sua equipe de produção e começou a fazer seus próprios curtas-metragens. Seu primeiro filme solo, One Week (1920), mostrou imediatamente seu talento para a comédia visual e o uso inovador dos cenários. Durante os anos seguintes, ele continuou a criar curtas que desafiavam os limites da comédia física, utilizando elaborados cenários e efeitos especiais.

Ascensão ao Sucesso

Keaton fez sua estreia no cinema de longa-metragem com Three Ages (1923), uma paródia dos épicos históricos, que foi estruturada como três curtas-metragens interligados, ambientados em diferentes períodos históricos. O filme foi bem-sucedido, e Keaton logo se estabeleceu como um dos principais cineastas do cinema mudo. Seu estilo de comédia era único, combinando acrobacias ousadas com uma narrativa visual engenhosa, frequentemente retratando personagens que enfrentavam situações absurdas com uma serenidade imperturbável.

Entre seus filmes mais icônicos estão Sherlock Jr. (1924), no qual ele interpreta um projecionista de cinema que sonha em ser um grande detetive, e The General (1927), uma comédia ambientada durante a Guerra Civil Americana, que é frequentemente considerada sua obra-prima. Embora The General tenha sido um fracasso financeiro na época de seu lançamento, o filme é hoje celebrado como um dos maiores exemplos de comédia cinematográfica e uma obra de arte técnica, especialmente por suas impressionantes sequências de ação e acrobacias.

Declínio e Dificuldades na Era do Cinema Falado

A transição para o cinema falado foi um desafio para muitos artistas do cinema mudo, e Keaton não foi exceção. Em 1928, ele assinou contrato com a Metro-Goldwyn-Mayer (MGM), o que marcou o início de uma fase difícil em sua carreira. Na MGM, ele perdeu o controle criativo de seus filmes, sendo forçado a seguir roteiros convencionais e supervisões que não compreendiam seu estilo único de comédia. Seus filmes se tornaram menos originais e mais padronizados, e sua frustração com a situação o levou a desenvolver problemas com o álcool.

Depois de ser demitido pela MGM em 1933, Keaton passou por um período turbulento, incluindo um colapso nervoso e dificuldades financeiras. Ele continuou a trabalhar em filmes de baixo orçamento, muitas vezes reaparecendo em papéis menores e sem o brilho de sua carreira anterior.

Retorno e Reconhecimento Tardio

Apesar das dificuldades, Keaton nunca abandonou o cinema. Na década de 1940, ele começou a trabalhar como consultor e roteirista em comédias para outros artistas. Sua popularidade começou a ressurgir com o interesse renovado por seus filmes mudos, especialmente na Europa. Uma série de apresentações em circos na França e a participação em filmes de renome, como Sunset Boulevard (1950) e Limelight (1952), ao lado de Charlie Chaplin, contribuíram para restaurar sua reputação.

Keaton também encontrou uma nova audiência na televisão, aparecendo em comerciais e programas de comédia. Sua habilidade para a comédia física continuava a impressionar, mesmo na velhice, e ele se tornou uma figura querida tanto para as gerações mais antigas quanto para as mais jovens, que estavam redescobrindo seus filmes.

Legado

Buster Keaton é lembrado como um dos maiores gênios do cinema cômico, ao lado de figuras como Charlie Chaplin e Harold Lloyd. Enquanto Chaplin é frequentemente associado à comédia sentimental e Lloyd ao otimismo heroico, Keaton é visto como o mestre da comédia física e do humor visual sofisticado. Sua habilidade em combinar acrobacias ousadas com uma narrativa visual engenhosa e o uso criativo da câmera estabeleceu padrões para a comédia cinematográfica.

Seus filmes são estudados e admirados por cineastas e críticos pela forma como ele usava a linguagem cinematográfica para contar histórias e criar humor. A influência de Keaton pode ser vista em cineastas contemporâneos que valorizam o uso de efeitos práticos e comédia física, como Jackie Chan e Wes Anderson.

Keaton recebeu um Oscar honorário em 1959, em reconhecimento por suas contribuições ao cinema, e quatro meses antes de sua morte em 1966, foi aclamado com uma longa ovação no Festival de Cinema de Veneza. Ele deixou um legado duradouro, com seus filmes continuando a inspirar e divertir gerações, garantindo seu lugar na história do cinema como um dos maiores artistas do gênero.