Haile Selassie I

Haile Selassie I, nascido Tafari Makonnen em 23 de julho de 1892, perto de Harar, Etiópia, foi o último imperador da Etiópia, governando de 1930 a 1974. Ele é lembrado por seus esforços para modernizar a Etiópia e por sua significativa influência na política africana pós-Segunda Guerra Mundial. Selassie trouxe a Etiópia para o cenário internacional, tornando-se membro da Liga das Nações e das Nações Unidas, e ajudou a estabelecer a Organização da Unidade Africana (OAU), que hoje é a União Africana.

Haile Selassie I

Primeiros Anos e Ascensão ao Poder

Tafari Makonnen era bisneto de Sahle Selassie, governante de Shewa, e filho de Ras Makonnen, um influente conselheiro do imperador Menelik II. Educado em casa por missionários franceses, Tafari demonstrou desde cedo uma capacidade intelectual que impressionou o imperador, o que resultou em várias promoções. Como governador das províncias de Sidamo e Harar, ele implementou políticas progressistas para enfraquecer o poder feudal local e centralizar a autoridade governamental, aumentando o controle do governo central. Em 1911, Tafari casou-se com Wayzaro Menen, neta de Menelik II, fortalecendo sua posição na hierarquia política.

Após a morte de Menelik II em 1913, o trono foi ocupado por seu neto, Lij Yasu. No entanto, a proximidade de Yasu com o islamismo e sua política considerada instável tornaram-no impopular entre a população cristã ortodoxa. Como resultado, Tafari liderou uma resistência cristã e conseguiu depor Yasu em 1916. Em seguida, a filha de Menelik, Zauditu, foi proclamada imperatriz, e Ras Tafari tornou-se regente e herdeiro aparente do trono.

Regência e Primeiros Passos como Governante

Durante o reinado de Zauditu, Tafari era o verdadeiro governante da Etiópia. Sua abordagem progressista contrastava com o conservadorismo da imperatriz, e ele tornou-se a figura central para os elementos modernistas da sociedade etíope. Em 1923, Tafari alcançou um marco significativo ao garantir a admissão da Etiópia na Liga das Nações. No ano seguinte, ele se tornou o primeiro governante etíope a viajar para o exterior, visitando Jerusalém, Roma, Paris e Londres. Em 1928, assumiu o título de negus (“rei”), e, após a morte de Zauditu em 1930, foi coroado imperador com o nome de Haile Selassie, que significa “Poder da Trindade”.

Logo após sua coroação, Haile Selassie promulgou uma nova constituição em 1931, que limitava os poderes do Parlamento, fortalecendo a autoridade do imperador. Ele buscou modernizar a Etiópia implementando reformas sociais, econômicas e educacionais, como a criação de escolas provinciais, o fortalecimento das forças policiais e a abolição progressiva da tributação feudal.

A Invasão Italiana e o Exílio

Em 1935, a Itália, sob o comando de Benito Mussolini, invadiu a Etiópia, iniciando a Segunda Guerra Ítalo-Etíope. Haile Selassie liderou a resistência, mas em maio de 1936 foi forçado a exilar-se na Grã-Bretanha. Em 30 de junho de 1936, fez um discurso memorável na Liga das Nações em Genebra, no qual apelou por ajuda internacional contra a agressão italiana. Seu apelo foi amplamente ignorado, destacando a fraqueza da Liga das Nações.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Selassie conseguiu o apoio britânico para formar um exército de exilados etíopes no Sudão. Em janeiro de 1941, as forças britânicas e etíopes invadiram a Etiópia, e em maio do mesmo ano, Addis Ababa foi recapturada, permitindo que Haile Selassie reassumisse o trono.

Modernização e Reformas Pós-Guerra

Após ser restaurado como imperador, Haile Selassie dedicou-se novamente à modernização da Etiópia, introduzindo reformas no governo e na sociedade. Em 1955, promulgou uma nova constituição que, embora concedesse alguns direitos ao povo, ainda mantinha grande parte do poder nas mãos do imperador. No entanto, a oposição ao seu governo começou a surgir, especialmente entre os militares e os jovens modernistas.

Durante os anos 1960, Haile Selassie teve um papel fundamental na criação da Organização da Unidade Africana (OAU), sediada em Addis Ababa. A OUA foi estabelecida em 1963 para promover a solidariedade africana, apoiar movimentos de libertação no continente e acabar com o colonialismo.

Declínio e Deposição

Apesar de suas realizações, os problemas internos se intensificaram durante os anos 1970. A fome, o aumento do desemprego e a estagnação política criaram descontentamento popular. Em 1974, setores do exército se amotinaram, resultando em uma revolução que levou à derrubada de Haile Selassie. O imperador foi deposto e o Derg, um conselho militar com ideologias marxistas, assumiu o poder, estabelecendo um governo provisório.

Haile Selassie foi colocado em prisão domiciliar em seu palácio em Addis Ababa, onde permaneceu até sua morte em 27 de agosto de 1975. A causa oficial de sua morte foi atribuída a problemas de saúde, mas posteriormente surgiram evidências sugerindo que ele teria sido estrangulado sob ordens do governo militar.

Legado e Importância Histórica

Haile Selassie é lembrado como uma figura contraditória na história etíope. Por um lado, ele é visto como um modernizador que tentou levar a Etiópia ao mundo moderno, introduzindo reformas importantes e fortalecendo a posição do país no cenário internacional. Por outro, ele é criticado por sua governança autocrática e pela lenta resposta à pobreza e à fome, especialmente nos últimos anos de seu governo.

Haile Selassie e o Movimento Rastafári

Haile Selassie também é reverenciado como uma figura espiritual pelo movimento Rastafári, que surgiu na Jamaica durante os anos 1930. Os rastafáris acreditam que Selassie é a encarnação de Deus (Jah) e o messias prometido que lideraria os povos africanos e a diáspora para a liberdade. O movimento recebeu seu nome de Ras Tafari, título de Haile Selassie antes de sua coroação.

Selassie inicialmente não reconheceu o movimento, mas sua visita à Jamaica em 1966 marcou um momento importante para os rastafáris, que o saudaram com devoção. Embora Haile Selassie tenha se distanciado das interpretações religiosas de sua figura, ele é considerado uma figura divina por muitos adeptos do movimento até hoje.

Conclusão

Haile Selassie I deixou um legado complexo como o último imperador da Etiópia. Ele personificou a luta contra o colonialismo e inspirou movimentos de independência africanos, mas também enfrentou críticas por sua governança centralizadora e pela forma como lidou com os desafios internos. Sua vida e reinado continuam a ser temas de interesse histórico e cultural, especialmente na diáspora africana e no movimento Rastafári, onde sua figura transcende o papel de um líder político para se tornar um símbolo de resistência e esperança.