A Torre Malakoff está localizada no Recife antigo. Aproveitando-se dos materiais provenientes da demolição do Arco do Bom Jesus, este monumento recifense data do século XIX. Foi construído como observatório astronômico e portão do Arsenal da Marinha, o Portão Monumental. Lembra vagamente as estruturas árabes.
“(…) Da torre se mediu o tempo, se viu o Recife. De cima se viu o céu.”.
Com seus 30 metros de altura, impressionava, não somente por seu tamanho como também pela beleza de sua arquitetura. Recebeu até a visita do imperador do Brasil, D. Pedro II, que se interessava por astronomia e achou muito bonita a vista que ele apreciou da torre.
Hoje é patrimônio tombado e espaço cultural.
A Torre Malakoff me proporcionou, em minha breve visita à capital pernambucana, momentos de muito deleite e prazer.
Do Arco do Bom Jesus para a Torre Malakoff
Parte da Torre Malakoff foi construída com material da demolição do Arco do Bom Jesus que ficava situado na antiga Rua do Judeus, atual Rua do Bom Jesus. Este arco foi construído durante a ocupação dos holandeses que dominaram a região de 1634 a 1654. Era um dos acessos à cidade.
“(…) do Arco do Bom Jesus, antiga Porta da Terra, a landpoort dos flamengos (…)”
Torre Malakoff
Arco do Bom Jesus de onde veio parte do material para a construção da Torre Malakoff
O nome Malakoff
Seu estranho nome não deriva da alcunha do relojoeiro que criou o relógio que ornamenta a torre, como pensam alguns. A denominação Malakoff tem relação com resistência e acreditem, com uma cidade chamada Sebastopol, no sul da Criméia.
Torre Malakoff
Notícias de naturezas diversas que vinham da Criméia
À época da construção do Portão Monumental, circulavam pelos periódicos pernambucanos notícias sobre a Guerra de Criméia e principalmente sobre a resistência de uma torre de nome Malakoff. Notícias vindas do exterior eram raras por aqueles lados.
Daí a curiosidade geral da população que acompanhava a guerra naquelas longínquas e estranhas paragens e apelidou sua torre com o mesmo nome daquela mais distante.
Quando a Torre Malakoff brasileira foi ameaçada de ser demolida a população se uniu inspirada na resistência da Torre Malakoff da Crimeia. A torre foi salva, virou espaço cultural – para nossa sorte – e o nome ficou.
Tereza Costa Rêgo
Torre Malakoff
As Mulheres de Tejucupapo
Eu conheci a Torre Malakoff em uma tarde de domingo. O observatório, objeto principal de atração dos turistas que a visitam, já estava fechado, então não pude observar Recife do alto.
Em compensação, eu conheci a artista pernambucana Tereza Costa Rêgo e fiquei absolutamente rendida às suas obras.
A exposição, que acontecia em duas das oito salas destinadas a este fim, se intitulava “Mulheres de Tejucupapo – Tributo a Goya”.
“O sono da razão produz monstros” – Goya
As obras de Tereza, sob meu olhar e percepção são fortes. Contam histórias pernambucanas. Tem cheiro de morte, mas não de desespero.
Eu vi apatia em alguns de seus personagens, tristeza talvez. Difícil mergulhar nos sentimentos daqueles olhos.
Talvez a obra mais atraente seja a que dá nome à exposição: As Mulheres de Tejucupapo, que retrata um episódio da história pernambuca de bravura, ousadia e vitória.
Segundo a autora, para criar este painel de 8 metros por 2,2 metros, ela estudou mestres da pintura como Picasso, Cícero Dias, Portinari e Goya.
As Mulheres de Tejucupapo – história de Pernambuco, história do Brasil, história de todos nós
O ano era 1646, interior de Pernambuco em uma cidade chamada Tejucupapo. Pequenina, ela era constituída praticamente por uma rua e um conjunto de casas simples.
Os holandeses já haviam perdido Pernambuco, estavam cercados e famintos. Organizaram então um assalto a Tejucupapo, área de plantio de mandioca (aipim ou macaxeira). Escolheram o domingo quando os homens da aldeia estariam em Recife vendendo sua pesca.
O que os holandeses não podiam imaginar era que mulheres valentes habitavam aquelas terras. Utilizando as armas que tinham: a surpresa no ataque, paus, foices e água fervente com pimenta, elas venceram a batalha, que deixou cerca de 300 mortos, sendo a maioria deles dos invasores.
Uma tarde de domingo com muita chuva e manifestação cultural
Torre Malakoff
Manifestação cultural na Torre Malakoff – representação de Xangô
Além da exposição de Tereza, naquele dia aconteceu um sarau, na área externa da Torre Malakoff. Chovia cântaros!
Artistas amadores se revezavam no anfiteatro, cheios de entusiasmo, amplamente correspondidos pela plateia que não arredava pé. Foi uma experiência muito divertida, tanto, que fomos, ficando, ficando, ficando…
Teve cantor, teve poesia, teve dançarino de dança do ventre, teve dançarinas de estilos variados, em apresentação solo ou em grupo. Teve apresentação ruim, teve apresentação cômica e muita apresentação boa também.
A plateia aplaudia a todos com igual euforia!
São Pedro de tempos em tempos mandava uns hiatos na chuva: acho que ele também estava curtindo toda aquela zoeira. Quando ele engrossava na quantidade de água enviada, todo mundo corria para a entrada para se abrigar. Quando ele parava, voltava todo mundo e as apresentações continuavam.
Teve música indiana, flamenca e também o maracatu que abriu o sarau.
Às vezes a música ia para um lado, o cantor para outro, mas honestamente?! Todas as manifestações populares me interessam e ali eu vi um pouco da alma recifense. Havia gente de todo tipo, arte de toda forma.
Homens, mulheres, menino-menina, menina-menino, crianças, casais, famílias… A plateia, cheia de energia, gritava, aplaudia, ria… Teve gente mal-educada também, claro. Fazer o que né?!
Foi uma tarde deliciosa e inesperada na Torre Malakoff localizada no Recife antigo.
Pertinho da Torre Malakoff está o Malakoff Café, lugar lindo, carregado da alma local e que ainda oferece variadas maneiras de preparar esta deliciosa bebida, com um simpático e muito eficiente atendimento.
Endereço: Praça do Arsenal, S/N, Bairro do Recife – Recife
Visitação: Terça a sexta, das 10h às 17h | Sábados, das 15h às 18h | Domingos, das 16h às 19h30.